Pesquisador analisa a relação intrínseca entre polícias, “esquadrões da morte” e crime organizado no Rio. Como se sofisticaram e espalharam seus tentáculos na política. As ligações entre o Escritório do Crime e a família Bolsonaro
Por Bruno Paes Manso
Dos dez finalistas da categoria “Biografia, Documentário e Reportagem” do 63º Prêmio Jabuti deste ano, ao menos três deles se debruçam sobre as entranhas do bolsonarismo. Entre eles, “A República das Milícias: Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro”, do jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV), Bruno Paes Manso.
Somam-se a ele Patrícia Campos Mello (A Máquina do Ódio) e Chico Otavio e Vera Araújo (Mataram Marielle), em um momento especial do país, onde obras literárias e visuais investigam a crise social, política e econômica brasileira.
“A gente, como jornalista, está muito ligado nos acontecimentos presentes, a gente dialoga com o quente e eu acho que é importante a gente refletir sobre esse drama que estamos vivendo, as seguidas tragédias que vem acontecendo”, explica Paes Manso, convidado desta semana no BDF Entrevista.
“É um baixo astral que a gente passou a viver a partir de 2019, ao escolher um maluco, psicopata, que defende desde sempre, ao longo dos 20 anos de carreira como deputado, apologia à violência paramilitar, defende assassinos e sempre pisou fora da caixinha”, completa.
“República das Milícias” parte da pesquisa do jornalista sobre as raízes da formação dos grupos paramilitares que atuam no Rio de Janeiro desde o final dos anos 1990 e começo dos 2000 na comunidade de Rio das Pedras, na zona oeste fluminense.
De lá, saíram diversos personagens que habitam o entorno do Presidente da República, Jair Bolsonaro, entre eles Fabrício Queiroz, funcionário de Flávio Bolsonaro e uma das cabeças por trás do esquema de rachadinhas do gabinete do então deputado estadual e Adriano da Nóbrega, ex-policial do BOPE (Batalhão de Operações Especiais) do Rio de Janeiro, morto em 2019 na Bahia, que se tornou um dos maiores criminosos da cidade, ao fundar o grupo miliciano Escritório do Crime.
“Não faltam provas da ligação estreita da família com um dos maiores bandidos da história do Rio”, conta Paes Manso.
“É um processo de sofisticação permanente, um acúmulo de capital político e econômico que vai acontecendo ao longo do tempo. É um fenômeno típico das cidades, no caso das milícias é muito próprio do Rio de Janeiro, é um modelo de negócio criminal que está muito vinculado à história do crime no Rio de Janeiro”, destaca o jornalista, ao lembrar que a linha cronológica das milícias está diretamente ligada às contravenções de policiais militares, como o jogo do bicho e os esquadrões da morte.
Na conversa, Paes Manso fala ainda sobre a sua apuração, o entusiasmo de integrar a lista de finalistas do Jabuti e a morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, que está intrinsecamente ligada às milícias do Rio de Janeiro.
“[As hipóteses para o crime colocadas até agora] não são convincentes. O assassinato aconteceu durante a intervenção militar (GLO) no Rio de Janeiro, em 2018, e se tem uma coisa que tanto os milicianos como os traficantes sabem muito bem, é que nesses momentos de grande clamor, de grande visibilidade, é um momento de se retrair, esperar o clamor ou a visibilidade passar para você deixar para agir quando ninguém mais está prestando atenção”.
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