Jornal ‘Agora o Povo’ é a mais nova arma do governo de Luis Arce Catacora na batalha de ideias pela industrialização, pela vacinação e contra a submissão ao estrangeiro
Por Leonardo Wexell Severo / Créditos da foto: Marco Santivañez, responsável pelo jornal Ahora el Pueblo (Agora o Povo) e o presidente da Bolívia, Luis Arce Catacora. Na manchete: México propõe mudar a OEA por quem não seja ”lacaio de ninguém” (Reprodução)
“O jornal Agora o Povo surge para enfrentar uma mídia multiespecializada, neoliberal, que conta com grande aparato nacional e internacional para propagar mentiras contra o processo que a Bolívia está construindo”, afirmou Marco Santivañez, responsável pela publicação, em entrevista exclusiva. Na avaliação de Santivañez, ao investir no jornal junto à rede Pátria Nova, à Bolívia TV, ao Sistema Nacional de Rádios dos Povos Originários (RPOs) e à Agência Boliviana de Informação (ABI), “oferecendo um material adequado e de qualidade, o presidente Luis Arce Catacora tem colocado em outro patamar a luta política contra os meios hegemônicos”. “Afinal, este é o momento do povo, este é o momento da Pátria, da reivindicação social, econômica e política, de quem resistiu a um governo ditatorial sanguinário, terrorista, que em 11 meses estava destruindo tudo o que havia sido conquistado e construído em 14 anos de governo de Evo Morales”, denunciou.
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De onde surgiu a ideia de Agora o Povo?
O jornal do Estado já tem 12 anos. Nasceu em 2009 como Cambio (Mudança), que era o nome do jornal do Estado Plurinacional da Bolívia, e se manteve assim até 13 de novembro de 2019 quando o governo, após o golpe e a ocupação de todas as instituições, o renomeou para Bolívia.
Então, neste Primeiro de Maio, Luis Arce Catacora assume a presidência e voltamos à vida democrática, praticamente depois de um ano de um governo ditatorial. Assumo inicialmente o jornal Bolívia até que debatendo com o presidente, a vice-ministra de Comunicação, Gabriela Alcón, e outros atores pensamos em um nome adequado à realidade que vive o país.
Nosso companheiro Luis Arce nasceu nas fileiras do Partido Socialista Uno, que agora integra o Movimento Ao Socialismo (MAS), e estava determinado a realizar uma homenagem a Marcelo Quiroga Santa Cruz. O jornal oficial do Partido Socialista Uno se chamava Amanhã o Povo, porque se esperava o novo amanhecer para entrar numa vida adequada. Porém hoje já não é amanhã, é agora. Por isso a decisão de se chamar Agora o Povo. Porque este é o momento do povo, este é o momento da Pátria, este é o momento da reivindicação social, econômica, política, de quem resistiu a um governo ditatorial sanguinário, terrorista, que em 11 meses estava destruindo tudo o havia sido conquistado e construído em 14 anos do governo de Evo Morales.
Qual o papel que o jornal passa a ter na luta de ideias?
Hoje falar em industrialização, em vacinação e em integração é falar de comunicação, tudo
converge para isso. Desde tempos imemoriais a comunicação sempre foi o elemento principal para o crescimento, em todos os aspectos.
Portanto, não só o jornal, mas o conjunto dos meios estatais cumprem um papel fundamental para, em primeiro lugar, desmantelar o famoso conto da fraude que nos impuseram de 25 a 29 de outubro de 2019 e que terminou no golpe de 10 de novembro. É importante dar este primeiro passo e seguir decifrando e desmantelando esse quebra-cabeças. Por isso temos avançado para demonstrar o que o foi golpe com distintas reportagens especiais publicadas no jornal, na rede Pátria Nova, na Bolívia TV, no Sistema Nacional de Rádios dos Povos Originários (RPOs) e na Agência Boliviana de Informação (ABI).
Revelamos que naquele 4 de novembro o presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, hoje governador daquele Estado, convocou uma reunião com os cônsules da Argentina e da Espanha e lhes pediu asilo político, caso os seus planos fracassassem, caso fosse derrotado o seu golpe. Aí os dois cônsules disseram que esse trâmite teria que ser feito na embaixada, não no consulado.
Isso demonstra que desde muito antes já havia preparado o caminho para dar o golpe ou fugir. 41 anos depois daquele 17 de julho de 1980, tivemos o primeiro golpe de Estado do século 21 no nosso país.
Tens denunciado a existência de uma conexão entre neoliberalismo, manipulação de poderes e subserviência ao governo dos Estados Unidos.
A partir daí, dentro destas décadas do período neoliberal, estivemos entre a dedocracia e a democracia.
A dedocracia era manejada por algumas poucas famílias, divididas em partidos políticos que não chegavam nem a 30% de votação. Fatiavam os poderes no parlamento e o manipulavam sob a influência dos Estados Unidos, através do Departamento de Estado. Prova clara disso é que, em 2002, o senhor Manfred Reyes Villa, que era candidato, viaja para os EUA, volta e diz: tenho a permissão estadunidense.
Ou quando tinham que designar juízes e promotores – e isso está nos jornais da época – obedecendo os Estados Unidos. Estávamos completamente escravizados por um governo que não era o nosso. Aí estava o dedaço: meu irmão entra, meu primo entra, meu tio é procurador-geral.
“A dedocracia era manejada por algumas poucas famílias, divididas em partidos que não chegavam nem a 30%, e fatiavam os poderes no parlamento e o manipulavam sob a influência dos Estados Unidos. Estávamos completamente escravizados por um governo que não era o nosso”
O que dizer se Gonzalo Sánchez de Lozada era o presidente da Bolívia e o controlador-geral da República, que o deveria fiscalizar, era o seu irmão? Como poderíamos viver assim?
De outubro de 1982, quando voltamos à vida democrática, até 2005 vivemos anos de dedocracia. Foi a partir de 2006, com a chegada de Evo Morales ao governo, e a decisão de chamar uma Assembleia Constituinte e refundar a Pátria como Estado Plurinacional, com uma nova Constituição Política, mais inclusiva, mais identificada com o povo, que nos permitiu ter 14 anos de democracia, interrompida pelo governo de Jeanine Áñez.
E a democracia só retornou devido à luta e à pressão, aos bloqueios e paralisações realizados. No dia 28 de julho se cumprirá um ano da luta pela recuperação da democracia. Sem luta não iríamos conquistar isso e, seguramente, neste momento seguiríamos com a ditadura em nosso país. Iriam continuar atrasando a data das eleições, e adiando com a grande desculpa da pandemia. Então tivemos que parar e ir às ruas, e lembrá-los que tinham dito que ficariam por 90 dias e já estavam há quase um ano e necessitávamos de eleições.
Deves recordar que a primeira data seria em 90 dias depois que assumiu Jeanine Áñez. E nos disseram que não era possível e a postergaram para maio, depois falaram que este seria o pico mais alto da pandemia, e a suspenderam. A adiaram para agosto e quando estava chegando, voltaram a falar da pandemia.
Decidimos então, em Sucre, bloquear as rodovias. Porque se não fazíamos isso, com os irmãos camponeses e com os irmãos indígenas, não conseguiríamos eleições em outubro. Seguiríamos com os adiamentos, com eles destruindo o país, roubando nosso patrimônio cotidianamente, com todos os desfalques que fizeram, como ficou demonstrado.
Qual o aspecto central da política desenvolvimentista que o jornal tem trazido à tona?
No tema do desenvolvimento, estamos demonstrando a reativação econômica que vem sendo feita por meio dos investimentos públicos, que nos permitem voltar a respirar. Um dado é que graças ao Bônus Contra a Fome, concedido pelo presidente, baixamos em 1,3% a extrema pobreza, que é um elemento importante.
“A reativação econômica que vem sendo feita por meio de investimentos públicos nos permite voltar a respirar”
No âmbito da saúde, os meios hegemônicos que temos na Bolívia, que são uma mídia multiespecializada, neoliberal, capitalista em todo o âmbito da palavra, sempre saem com temas negativos diante da vacinação. Nós estamos apresentando tudo o que vem sendo feito, como a chegada das mais de sete milhões de vacinas. E até o final de agosto chegarão mais de oito. Então o que significa isso? Por meio da rede estatal estamos demonstrando às pessoas a realidade que estamos vivendo.
Não podemos dizer que superamos a crise, mas é visível para as pessoas, que te falam disso na rua -, que tiveram os olhos fechados nos bons tempos de Evo para logo abrirem os olhos e se verem com os bolsos vazios, sem um centavo, com os de sempre roubando e desfalcando as empresas. E isso teve um alto custo. Houve alguém que disse que Jeanine roubou em menos de um ano o que Macri roubou em cinco anos na Argentina. Se tivesse ficado mais um pouco no governo, nosso país teria começado a pedir esmolas, como fez Carlos Mesa, em 2003 ou 2004, para pagar salários, para décimo terceiro, para tudo.
As pessoas reagiram e disseram que economicamente viviam muito melhor e a votação expressou isso dando 55% para Luis Arce. Agora novamente temos os instrumentos do Estado para mostrar a realidade ao povo boliviano.
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