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Paulo Freire em cartas de esperança e boniteza

A presente obra se insere no contexto das celebrações dos 100 anos de nascimento do grande educador brasileiro, Paulo Freire (1921-1997). Trata-se do primeiro volume de uma trilogia denominada Cartas a Paulo Freire – Escritas por quem ousa esperançar, que busca, de um lado, contribuir com discussões sobre a atualidade do pensamento de Freire, em linguagem acessível e plataformas abertas, e ampliar as possibilidades dialógicas para além das redes acadêmicas e institucionais; e, de outro, revelar a boniteza dos saberes, do pensamento e da ação dos que insistem, iluminados pelo legado freireano, em esperançar um presente sem as correntes do passado e sem medo do futuro.

As cartas, como destacam historiadores da comunicação, são a mãe de todos os gêneros textuais. Há registros que garantem que elas começaram a circular há mais de quatro mil anos antes da Era Cristã. Na Bíblia, o Novo Testamento tem 21 livros escritos nesse formato. As comunidades cristãs foram animadas pelas cartas de Paulo, Pedro, Timóteo, Judas, João e Tiago. A história das diferentes sociedades tem nas missivas, como também são chamadas, um território significativo de fontes. Há quem afirme que o desenvolvimento da Ciência moderna se deve, em grande medida, à troca de correspondências entre os chamados filósofos naturais sobre seus estudos e o resultado de seus experimentos em diferentes partes do mundo. Os primeiros periódicos científicos editados entre os séculos XVII e XVIII, na Europa, publicavam notas e cartas.

O gênero conquistou mentes e corações – da religião, passando pela filosofia, história, ciência, política até a literatura e a educação. Difícil encontrar entre os chamados autores clássicos, da antiguidade aos nossos dias, um que não tenha dedicado parte de seu tempo ao diálogo, por meio de correspondências, com diferentes interlocutores e não as tenham tornado públicas, em livros, por exemplo, em algum momento de suas vidas. No Brasil, o primeiro registro que se tem notícia foi a Carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei D. Manuel. Nossa literatura é pródiga em cartas. E Paulo Freire soube, como ninguém, se apropriar do gênero, recolocando a educação no território do coloquial e do afetivo.

Uma parte significativa da obra de Freire foi redigida no formato de cartas, destacando-se, entre elas, as Cartas a Guiné-Bissau (1977); Cartas aos animadores e às animadoras culturais de São Tomé do Príncipe (1980); Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar (1993); Cartas a Cristina (1994); e Pedagogia da indignação (2000). Todas e todos que viveram e trabalharam diretamente com ele são unânimes em afirmar sua paixão pelas cartas. A própria Nita Freire, viúva do educador, em livro belíssimo, Paulo Freire: uma história de vida (2006), publicou várias cartas que ele escreveu para diferentes pessoas, demonstrando seu afeto amoroso e comprometido, politicamente, com um mundo mais humano.

Como bem destaca Pereira Coelho (2011), Freire escreveu e recebeu cartas de pessoas de diversas partes do mundo: dos trabalhadores sem-terra, dos amigos, dos religiosos e de chefes de Estado. Ainda segundo o mesmo autor, Freire dizia que o gênero carta é dialógico e pedagógico por sua própria natureza; era um convite permanente ao diálogo. Quem escrevia saía da centralidade do ego e provocava a participação do outro. Mas, para que que isso acontecesse, ninguém poderia prescindir da humildade, da amorosidade, da tolerância, da paciência e, também, da coragem. É que, quando escrevia, Freire o fazia com intencionalidade e com posições políticas claras contra qualquer forma de opressão.

Ousamos dizer que as cartas desta coletânea estão fortemente marcadas pelo compromisso com práticas dialógicas e com a coragem de desocultar as mentiras dominantes (vivemos a idade de fake news) e restaurar a necessidade da esperança, que, como dizia o mestre, sozinha, não ganha a luta, mas sem ela a luta fraqueja e titubeia (FREIRE, 1992). Em Freire, a principal missão do educador ou educadora progressista (ele fazia questão do adjetivo) é desvelar as possibilidades para a esperança. Pouco podemos fazer enquanto desesperançados ou desesperados; a luta, assim, é suicida, um corpo-a-corpo puramente vingativo. A nossa ação político-ética eficaz, ou a nossa briga, para usar uma expressão de Freire, deve ser contra a negação do sonho e da esperança (FREIRE, 1992).

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Saiba mais em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Leituras/Paulo-Freire-em-cartas-de-esperanca-e-boniteza/58/50411

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