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Wilson Cano, um farol contra o crepúsculo

Uma revisita à obra e ao percurso de um ”intelectual genuinamente brasileiro e economista crítico”

Por: César Locatelli|Créditos da foto: (Reprodução/ECO/Unicamp)

Os economistas e seus modos de pensar sua área de conhecimento variam enormemente. Há os que creem que suas “leis” são válidas em qualquer arranjo econômico, independentemente da história e da região do mundo. Talvez cheguem a acreditar mesmo que seus dogmas poderão encontrados em sociedades de outros planetas que ainda não conhecemos. Estes economistas compõem o pensamento econômico, hoje hegemônico, conservador. Eles atendem pelo nome de ortodoxos, neoclássicos e/ou neoliberais e podem ser vistos, ouvidos e lidos em todos os “grandes” meios de comunicação de massa.

Wilson Cano, bem ao contrário, alinhava-se com um grupo que não tem tanta oportunidade assim de mostrar suas ideias ao grande público. Lutava por um caminho bastante distinto, crítico ao conservadorismo. Buscava na história, nos arranjos sociais e políticos, o que determinava o estado da economia de uma região ou nação.

Crítico aos descaminhos do neoliberalismo, “Wilson Cano manteve, sem concessões, compromisso com a luta pela superação do subdesenvolvimento brasileiro, só possível, para ele, por meio de um Estado autônomo capaz de estabelecer políticas soberanas que libertassem o país da dependência externa imposta pelo imperialismo.” Como afirma a apresentação da edição especial da revista Economia e Sociedade, com o título “Wilson Cano, um farol contra o crepúsculo”.

O convite para revisitarmos a obra e o percurso do professor Wilson Cano, feito pela revista do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, também é compartilhado pelo lançamento do livro Wilson Cano – A questão Regional e Urbana no Brasil, editado pela Associação Brasileira de Economistas pela Democracia.

Entre os temas que têm nos afligido nestas duas décadas de século XXI, a industrialização e sua reversão ocuparam a maior parte da pesquisa do professor Cano, que segundo Danilo Severian e Antonio Corrêa de Lacerda, assim destaca os principais fatores da desindustrialização brasileira:

1) A política cambial vigente a partir do Plano Real (1994). Longos períodos de valorização da moeda brasileira, se por um lado serviram de “âncora dos preços”, por outro, prejudicaram a competitividade da produção e da exportação dos produtos industriais brasileiros;

2) A abertura comercial desde 1989, ainda no governo Sarney, quando se iniciou um processo de desmonte da proteção existente para a indústria brasileira, que foi ampliada no governo Collor, em 1990 e intensificada no governo de Fernando Henrique Cardoso, a partir de 1994, a qual prevalece até os dias de hoje;

3) As taxas de juros reais elevadas, que tanto leva ao “rentismo” dos agentes como inviabiliza o crédito e o financiamento para a produção;

4) O investimento direto estrangeiro. Embora tenham sido relevantes os influxos desses capitais ao longo das últimas décadas, eles pouco contribuíram efetivamente para elevação da Formação Bruta de Capital Fixo, uma vez que concentrados em fusões e aquisições de empresas já existentes e de baixa inserção no mercado internacional;

5) O quadro internacional mais complexo com o acirramento da competitividade entre EUA, Europa e China, tornando ainda mais difícil o desafio brasileiro.

O plano para estancar a regressão e voltar a trilhar um caminho virtuoso que Cano tinha em mente foi descrito por ele, em 2012, também na revista Economia e Sociedade, da seguinte forma:

“O Brasil pode e deve enfrentar a crise estrutural reportando-se, em grande medida, ao mercado interno. Há quase 200 milhões de habitantes, um grande território e uma boa dotação de recursos naturais. Não se trata de uma atitude voltada exclusivamente para o mercado interno, mas complementada em um ‘Programa Nacional de Desenvolvimento’ que tenha, além desse vetor, uma estratégia específica de exportações, introjeção tecnológica e uma priorização setorializada e regionalizada de infraestrutura e alta tecnologia22.

Em contrapartida, tal via não pode estar voltada apenas para fins de crescimento e produtividade, mas contemplar, prioritariamente, os setores que atendem às necessidades básicas da população e do país como habitação popular, saneamento básico, educação e saúde pública, que, sem dúvida, deveriam encimar a agenda de planejamento.”

Reproduzimos a seguir a íntegra da apresentação da edição recém lançada da revista Economia e Sociedade em homenagem ao professor Wilson Cano.

Veja em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Memoria/Wilson-Cano-um-farol-contra-o-crepusculo/51/51996

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