A monarquia britânica é um vestígio da tirania, um grande símbolo da hierarquia e da pilhagem colonial. Como o socialista irlandês James Connolly escreveu em 1911, a realeza é para os déspotas da sociedade, os capitalistas e latifundiários – não para a classe trabalhadora.
Por: James Connollyni | Tradução: Felipe W. Martins| Créditos da foto: (Hannah Mckay / AFP via Getty Images). A rainha Elizabeth II (2ª à esquerda) na varanda do Palácio de Buckingham com membros da família real como parte de suas celebrações do jubileu de platina em Londres, em 5 de junho de 2022.
Colegas de trabalho, como bem reportado pelos jornais diários e semanais, estamos prestes a ser abençoados com a visita do rei George V.
Considerando a experiência anterior das “visitas reais”, bem como as orgias da “coroação” vistas nas últimas semanas, sabemos que a ocasião será utilizada para fazer propaganda em nome da realeza e da aristocracia contra as forças vindouras da democracia e da liberdade nacional, vamos expor aqui algumas razões pelas quais você deve se recusar unanimemente a aprovar esta visita, ou para reconhecê-la por sua presença nas procissões ou manifestações que a acompanham. Apelamos a vocês como trabalhadores, falando com trabalhadores, seja seu trabalho intelectual ou braçal – é em vocês e em seus filhos que estamos pensando; é a sua causa que desejamos salvaguardar e promover.
O futuro da classe trabalhadora exige que todas as posições políticas e sociais sejam abertas a todos os homens e mulheres; que todas as riquezas e privilégios hereditários sejam abolidos, e que todo homem ou mulher nascido nesta terra tenha a mesma oportunidade de alcançar a posição de maior orgulho no mundo. O socialismo exige que o único direito de nascença necessário para se qualificar para um cargo público seja o direito de nossa humanidade comum.
“Que o capitalista e a classe proprietária se reúnam para exaltá-lo; ele é deles; nele vêem encarnada a idéia de casta e classe; glorificam-no e exaltam sua importância para que possam naturalizar na mente pública a concepção de desigualdade.”
Acreditando que não há nada mais sagrado na terra do que a humanidade, negamos toda fidelidade a esta instituição da realeza e, portanto, só podemos considerar a visita do rei como um novo combustível para o fogo do ódio com o qual consideramos as instituições saqueadoras das quais ele é o representante. Que o capitalista e a classe proprietária se reúnam para exaltá-lo; ele é deles; nele vêem encarnada a idéia de casta e classe; glorificam-no e exaltam sua importância para que possam naturalizar na mente pública a concepção de desigualdade política, sabendo bem que um povo mentalmente envenenado pela adulação da realeza nunca poderá atingir aquele espírito de democracia auto-suficiente necessário para a conquista da liberdade social.
A mente acostumada aos reis políticos pode ser facilmente reconciliada com os reis sociais – os reis capitalistas da oficina, do moinho, da ferrovia, dos navios e das docas. Assim, a coroação e as visitas dos reis são feitas por nossos astutos mestres adormecidos, transformados em enormes campanhas propagandistas imperialistas a favor de esquemas políticos e sociais contra a democracia. Mas se nossos senhores e governantes estão vigilantes em seus esquemas contra nós, então nós, rebeldes contra seu governo, nunca devemos frear a súplica aos nossos companheiros para mantermos publicamente nossa crença na dignidade de nossa classe – na suprema soberania daqueles que trabalham.
O que é monarquia? De onde deriva sua sanção? Qual foi o seu presente para a humanidade? A monarquia é resultado da tirania imposta pela mão da ganância e traição sobre a raça humana nos dias mais sombrios e ignorantes de nossa história. Ela deriva sua única sanção da espada do saqueador e da impotência do produtor. Seus dons para a humanidade são desconhecidos, salvo quando podem ser medidos nos exemplos perniciosos de iniquidades triunfantes e despudorados.
Todas as classes da sociedade, exceto a realeza britânica, contribuíram com algo para a elevação da raça humana. Nem na ciência, nem na arte, nem na literatura, nem na invenção mecânica, nem na humanização das leis, nem em qualquer esfera da atividade humana um representante da realeza britânica ajudou a promover o aperfeiçoamento moral, intelectual ou material da humanidade. Ao passo que se opôs a todos os avanços, lutou contra todas as reformas, perseguiu todos os patriotas e criminalizou todas as boas causas. Caluniando todos os amigos do povo, tornou-se amiga de todos os opressores. Elogiada hoje por clérigos equivocados, a realeza britânica tem sido notória na história pela natureza revoltante de seus crimes. Assassinato, traição, adultério, incesto e roubo.
Seu sangue
Rastejou através de canalhas desde o dilúvio.
Não o culparemos pelos crimes de seus antepassados se ele renunciar aos direitos reais de seus antepassados; mas enquanto ele reivindicar seus direitos, em virtude da descendência, então, em virtude da descendência, ele deve assumir a responsabilidade por seus crimes.
Companheiros, mantenham a dignidade de sua classe. Todas essas realezas desfilando, toda essa aristocracia insolente, todos esses traidores capitalistas rastejantes e comedores de sujeira, tudo isso não passa de sinais de um estado social com sérias doenças – doenças que uma visita real traz à tona e vomita em toda a sua maldade diante de nossos horrorizados olhos. Mas como o reconhecimento da doença é o primeiro passo para sua cura, para que possamos livrar nosso estado social de suas enfermidades políticas e sociais, devemos reconhecer os elementos da corrupção.
“A soberania do trabalho deve suplantar e destruir a soberania da linhagem hereditária e a monarquia do capitalismo.”
Assim, reunindo todos eles e expondo sua unidade, mesmo uma visita real pode nos ajudar a compreender melhor e traçar estratégias para aniquilação das classes reais, aristocráticas e capitalistas que vivem do nosso trabalho. Suas oficinas, suas terras, seus engenhos, suas fábricas, seus navios, suas ferrovias devem ser colocadas em nossas mãos, a propriedade pública deve tomar o lugar da propriedade capitalista, a social-democracia deve substituir a desigualdade política e social, a soberania do trabalho deve suplantar e destruir a soberania da linhagem hereditária e a monarquia do capitalismo.
A nossa tarefa é educar os nossos pares, dissipar e destruir as superstições políticas e sociais das massas escravizadas e apressar o dia seguinte em que, nas palavras de Joseph Brenan, o destemido patriota de 48, todo o mundo se manterá.
Veja em: https://jacobin.com.br/2022/09/a-monarquia-britanica-e-uma-afronta-a-democracia/
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