Escolha do brasileiro Ilan Goldfajn à presidência do BID significa uma coisa acima de tudo: ao Brasil volta a ser confiado um papel de liderança regional, após quatro anos de isolamento sob Bolsonaro.
Por: Alexander Busch | Créditos da foto: Jose Luis Magana/AP Photo/picture aliance. Escolha de Ilan Goldfajn para presidir o BID demonstra confiança no Brasil
O brasileiro Ilan Goldfajn foi eleito no domingo (20/11), pela grande maioria de 80% dos votos, o próximo presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Esta é uma decisão central e importante para a América Latina − e especialmente para o Brasil. Porque, com o voto claro a Goldfajn, as Américas do Norte e do Sul mostraram que confiam muito no brasileiro à frente do mais importante banco de desenvolvimento da região − e aguardam muito dele: espera-se que o banqueiro de 56 anos de idade não só modernize a instituição desmotivada que age de forma um tanto burocrática, como também lhe dê um impulso de energia.
Confia-se que, em vista da nova Guerra Fria entre a China e os EUA, Goldfajn eleve o BID a principal financiador da América Latina, a fim de combater a ofensiva de investimentos chineses.
Com US$ 23,4 bilhões em empréstimos em 2021, o BID é o financiador multilateral mais importante para a região, junto com o Banco Mundial e do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). Ao lado dos Estados Unidos, que detêm o comando com uma participação de 30%, Brasil e Argentina são os membros mais influentes, com 11% dos votos. A Alemanha também tem uma participação de 1,9% no banco.
Desafios anteriores de Goldfajn
A surpreendentemente clara vitória de Goldfajn no primeiro turno deveu-se em parte ao seu papel de claro favorito, sobre o que quase ninguém em Washington tinha dúvidas: o economista fez doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts MIT. Recentemente, ele foi responsável pelo Hemisfério Ocidental no Fundo Monetário Internacional (FMI). Antes disso, foi presidente do Banco Central do Brasil (2016-2019) em tempos difíceis e trabalhou como economista em bancos e fundos privados no Brasil.
Houve divergências prévias sobre se o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva apoiaria sua candidatura: Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda da presidente Dilma Rousseff, havia sugerido publicamente o adiamento das eleições porque Lula só toma posse em 1º de janeiro e Goldfajn, como candidato do governo Bolsonaro, que está de saída, não tem o apoio do novo governo eleito. Seu pedido foi rejeitado. Lula deixou claro não ser contra a candidatura de Goldfajn. Ao fazer isso, o presidente eleito evitou por pouco um grande constrangimento.
A eleição de Goldfajn mostra que o Brasil é mais uma vez muito bem-vindo como “player” internacional − após o isolamento internacional do governo Bolsonaro. Isto aplica-se sobretudo aos Estados Unidos, que acolheram expressamente um candidato da América Latina.
Antecessor teve de deixar o posto
O último presidente do BID, Mauricio Claver-Carone, praticamente imposto por Donald Trump, teve que desocupar o cargo porque teria um relacionamento com uma funcionária, a quem ele teria aprovado dois aumentos salariais substanciais em um ano.
A nomeação do americano Claver-Carone em 2020 contrariou a regra não escrita que vinha sendo seguida desde a fundação do banco em 1959: seus presidentes sempre vinham da América Latina. Trump quebrou a regra com o apoio de Bolsonaro.
Claver-Carone deveria colocar de pé o banco burocrático, caro e entremeado por panelinhas políticas. Goldfajn deve agora dar continuidade à modernização e tornar o BID mais ágil e capaz de assumir riscos. Trata-se de contrariar a corrida dos investimentos chineses no continente com um investidor potente.
O fato de pela primeira vez um brasileiro à frente do BID ser considerado capaz disso mostra a importância do papel de liderança regional do Brasil. Este vácuo dos últimos anos na América Latina deve agora ser preenchido.
Comente aqui