Destino de ideologia política dependerá de quem assume em 2023, mas também da capacidade de reorganização da direita democrática e do Congresso. Independente do futuro presidente, “nova direita veio para ficar”.
Por: Rayanne Azevedo | Crédito Foto: Joedson Alves/EPA-EFE. Mesmo Bolsonaro indo, o bolsonarismo vai pairar sobre política do Brasil
A decisão sobre quem assume a Presidência da República em 1º de janeiro de 2023, agora adiada para o segundo turno, será crucial para o futuro do bolsonarismo enquanto ideologia política de apelo popular.
Caso não consiga se reeleger, Jair Bolsonaro (PL) perde a chave dos cofres públicos e deve ver sua base de apoio minguar drasticamente no Congresso e entre os militares.
Nesse cenário, segundo especialistas ouvidos pela DW, o bolsonarismo tende a voltar a ser o que era antes de o ex-capitão do Exército ser alçado ao poder em 2018: um movimento de nicho, restrito a um círculo de apoiadores mais radicais e com inclinações autoritárias.
Uma eventual derrota de atual presidente nas urnas, contudo, parece mais distante após a demonstração de força do bolsonarismo no primeiro turno: contrariando o quadro traçado pelas pesquisas eleitorais, ele teve 51 milhões de votos (43%), contra 57 milhões (48%) do candidato da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Além disso, seu partido, o PL, elegeu a maior bancada da Câmara (99 de 513 assentos) e ocupou 13 das 27 cadeiras na disputa no Senado. Já o PP e Republicanos, que apoiam o presidente, terão 88 deputados federais e dez senadores.
Pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), Lilian Sendretti diz ver no novo Congresso uma “desidratação da oposição de direita ao Bolsonaro”, resultado do orçamento secreto. “O espaço da direita tornou-se hegemônico, tendendo ao bolsonarismo”, avalia a cientista política.
Para a jornalista Consuelo Dieguez, autora de O ovo da serpente, livro que investiga as origens do bolsonarismo e sua ascensão ao poder, independente de quem vencer a eleição, uma coisa é certa: “Essa nova direita veio para ficar, e o país terá que lidar com ela. Com ou sem Bolsonaro eles estão aí e vão querer se posicionar, voltar às ruas.”
A mesma avaliação é feita por Magali Cunha, doutora em Comunicação e editora do Coletivo Bereia, agência de checagem voltada para o público religioso. O bolsonarismo, sustenta ela, “é maior do que Bolsonaro”, dialogando com o antipetismo, o antiesquerdismo, o conservadorismo religioso e o autoritarismo.
O que acontece com o bolsonarismo se Bolsonaro perder a eleição
Caso seu líder perca, o futuro do bolsonarismo neste cenário dependerá da capacidade da direita democrática de se recompor e apresentar nomes viáveis de oposição; da relação entre o novo governo e o Congresso; e, principalmente, do desempenho de Lula à frente do Planalto.
Dieguez aponta que o eleitorado de direita comporta diversas frentes além da bolsonarista: lavajatistas, liberais na economia, conservadores nos costumes – nem todos entusiastas convictos do candidato. A viabilização de outros nomes à direita e uma construção política mais inclusiva poderia atrair quem caminha sob o estandarte de Bolsonaro por falta de opções mais viáveis, avalia.
“Toda essa nova direita é fanática bolsonarista? Acredito que não. É essa direita que precisa encontrar uma liderança que a represente”, argumenta Dieguez. “As pessoas precisam de voz. Se não, o Lula fracassando, esses eleitores vão ser atraídos de novo para a ultradireita.”
Ela cita ainda o número de votos dados a Bolsonaro no segundo turno como outro fator relevante: “Se ele perder por pouco do PT, será preciso ver como as forças políticas vão se organizar.”
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