Historiador desvenda origem de povo escravizado na mineração de ouro e diamante no Brasil
26/agosto/20220
Um historiador brasileiro desvendou a origem histórica dos courás, um dos povos mais singulares e enigmáticos da escravidão. Também conhecidos como couranos, eles foram traficados da África para as Américas — e, no Brasil, habitaram diversas regiões, principalmente cidades de Minas Gerais.
Por: Leandro Machado |Crédito Foto: DIVULGAÇÃO. Imagem de cerimônia da população do Reino de Ajudá, em Benim
Até então a história desse grupo de africanos sequestrados e trazidos à força para o Brasil era incerta, segundo o historiador Moacir Rodrigo de Castro Maia. “Esse era um mistério dos estudos sobre a escravidão. Embora eles fossem muito presentes em Minas, não se sabia muito sobre a origem dos courás”, diz ele.
Milhares de couranos foram traficados para as Américas — dos Estados Unidos e Caribe à América do Sul —, e parte significativa desembarcou na colônia portuguesa para trabalhar nas primeiras décadas da produção de ouro e diamantes em cidades como Diamantina, Ouro Preto e Mariana — há também registros deles no sul da Bahia, em Goiás, Pernambuco e Rio de Janeiro.
Quando chegavam, eles eram batizados por outros courás que já estavam por aqui (ao entrar no Brasil, os escravizados eram obrigados a trocar de nome). Viravam Francisca ou João Mina, por exemplo — e Mina era uma referência à chamada Costa da Mina, região africana que abrigava um forte português e onde hoje ficam os países de Gana, Togo, Nigéria e Benim.
A pesquisa de Maia apontou precisamente o litoral da República do Benim, país da região ocidental do continente africano, como o local de origem dos courás.
“Essa descoberta pode abrir uma série de possibilidades de estudos sobre a escravidão, o tráfico de africanos e esse povo tão conhecido na época. A história dos courás é trágica e surpreendente”, diz Maia, que atua no Núcleo de Pesquisa em História Econômica e Demográfica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Na verdade, a palavra “courá” foi a chave para o pesquisador desvendar o mistério. O povo vivia no chamado Reino de Uidá—- também conhecido pelos portugueses como Ajudá —, que por alguns séculos ocupou a região litorânea do Benim até ser conquistado por outro reino africano, o Daomé.
“A palavra courá era como traficantes e os próprios africanos traduziram para o português a identidade da população do Reino de Ajudá”, explica Maia.
O historiador encontrou referências ao reino em documentos históricos de outros Estados europeus que exploraram o comércio de escravos nos séculos 17 e 18.
O Reino de Ajudá era chamado de Whydah pelos ingleses, Judá ou Juidá por franceses, e Fida pelos holandeses.
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