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O aymara que levantou o orgulho indígena na Bolívia

Há um ano falecia o indianista, guerrilheiro e sindicalista Felipe Quispe Huanca. Seu legado intelectual anticolonial e sua luta na Guerra da Água e do Gás e na resistência ao golpe em 2019 inspiraram uma geração responsável por tornar a Bolívia um dos países mais radicais da América Latina no século XXI.

Por: Roger Adan Chambi Mayta| Crédito Foto: Gonzalo Espinoza / AFP | Tradução: Chryslen Mayra Barbosa Gonçalves

Índio? Camponês? Indígena? Os denominativos que nos impuseram foram mudando de acordo com os sistemas políticos, preconceitos sociais e modas acadêmicas. Sempre o outro nos classificando, sempre o outro imaginando fantasmas e virtudes em nossos povos.

No início do século XX o índio era o “povo doente”, era considerado a razão pela qual a Bolívia não alcançou o progresso, razão pela qual a Bolívia não é semelhante à França, ao Ocidente. Em meados deste mesmo século, sob as políticas da mestiçagem e a partir da denominação “camponesa”, procurou-se encobrir as práticas, línguas, culturas e memórias das populações indígenas. O slogan era: assimilação ou perdição. A partir do século XXI, posicionou-se o nome indígena originário, considerado o repositório de todas as fantasias de uma sociedade harmoniosa, de um mundo de complementaridade idílica. Assim, os Aymaras, Quechuas, Guaranis, Ayoreos, Guarayos, entre tantas outras nações que o Estado boliviano abriga, passaram pela história oficial conforme os denominativos de outros. Passamos de “povo doente” à “reserva moral do mundo”.

Mas essa é a história oficial, criada a partir dos governos da época, das quatro paredes de organizações internacionais e instituições acadêmicas. Ao longo da história republicana e plurinacional, os povos indígenas demonstraram sua capacidade de agenciar e ressignificar símbolos, discursos e denominações de opressão. Embora o ato de nomear conceda poder a quem os nomeia, os povos indígenas politizados adotaram o nome que mais causou danos psicológicos nos sujeitos racializados para iniciar sua luta contra o sistema dominante que tentava silenciá-los, esse denominativo foi o de “índio”.

“Se com nome de índio nos oprimiram com nome de índio, vamos nos libertar”, essa foi a aposta do indianismo, movimento político indígena, que surgiu como reação no início das invasões europeias e transparece, na Bolívia, como um projeto político partidário com o Movimento Indígena Tupak Katari (MITKA) criado em 1960, com os escritos de Fausto Reinaga desde 1970 e com a prática política de Felipe Quispe Huanca desde 1986. O indianismo surgiu como a aposta política para rebelar os indígenas, para lembrá-los da história de opressão que viveram e vivem dentro do Estado republicano, para desafiar as políticas assimilacionistas e apostar em uma revolução índia.

E os índios necessitam de uma verdade de fogo.

É preciso colocar o dedo na chaga de uma dignidade ferida por quatro séculos de humilhação. É preciso perfurar, com ferro em brasa, seu coração, até que, partido em dois, ele jorre ondas de sangue.

“Colocar o dedo na chaga” é a metáfora que melhor expressa a ideologia indianista e seu compromisso com o indígena. Os aymaras, os quechuas, os guaranis, entre outros povos indígenas, por causa da colonialidade, desprezam o denominativo índio, é considerado o pior insulto, mas justamente por isso o indianismo tomou este termo para ressignifica-lo, de modo que o denominador que o blanco-mestizo usa para humilhar os indígenas, não seja mais um dispositivo que afeta a subjetividade dos indígenas, mas, ao contrário, se torne uma palavra que ativa a nossa luta anticolonial.

Um grande exemplo do uso político da categoria índio está na prática de Felipe Quispe Huanca, quem costumava usar essa palavra para se afirmar, sempre esclarecendo que é uma categoria equivocada outorgada pelos espanhóis, ele sempre repetia: “nós, os mal chamados índios”. Mas ele conhecia a força que esse termo implicava e o medo que causava no blanco-mestizo ao ouvir o indígena se afirmar como índio.

As linhas que seguem são uma breve revisão da trajetória de Felipe Quispe Huanca, também conhecido como El Mallku (que traduzido do aymara significa condor, mas também é o nome da autoridade máxima de uma comunidade), um ano após sua morte.

É importante lembrar o líder Aymara que soube unir em suas ações políticas a teoria indianista de Fausto Reinaga e a ação guerreira de Tupak Katari em um contexto racista e opressor contra os povos indígenas da Bolívia. O leitor observará que categorias como indígena, índio ou originário serão utilizadas como sinônimas, algo não permitido ao indianismo, pois cada uma tem uma implicação política diferente, porém, seu uso neste texto é mais para se referir aos povos aymaras, quéchuas, guaranis e outras nações que compõem o território do Estado Plurinacional da Bolívia.

A partida de Felipe Quispe Huanca, El Mallku

Anotícia caiu como um balde de água fria: “Temos que lamentavelmente informar que hoje, nosso líder, nosso Mallku, faleceu, irmãos e irmãs”. Diante dessa informação, os grupos de WhatsApp indianistas e kataristas se encheram de mensagens de desespero, angústia, desconfiança e dor. “Será possível? Acabamos de vê-lo dar aulas de formação nas comunidades!”, “Como o nosso Mallku se foi? Não pode ser!”. Naquela terça-feira, 19 de janeiro de 2021, a morte do mais alto representante político dos movimentos indígenas dos últimos 30 anos na Bolívia turvou os corações da nação aymara e dos movimentos políticos anticoloniais.

Com a notícia oficial, a mídia começou a reproduzir a imagem de Felipe Quispe argumentando que a causa de sua morte foi devido à Covid-19, informação que foi negada pelo filho de Felipe Quispe Huanca, Santos Quispe, que esclareceu, entre lágrimas, que seu pai morreu de parada cardíaca, pois tinha histórico de poliglobulia. Os jornais foram rápidos em listar suas conquistas, façanhas e discursos beligerantes. Renomadas personalidades da política e da academia nacional e internacional expressaram suas condolências, ressaltando a importância da luta de El Mallku para os povos indígenas do continente. Mas a dor e a impotência foram sentidas em sua máxima expressão nos bairros da cidade de El Alto e nos pampas e montanhas de sua província natal Omasuyos, lá se ouviram os rugidos dos pututus e as wiphalas, com crepe preto, começaram a tremular para homenagear e despedir do líder aymara.

No dia seguinte, foi realizado o velório na cidade de El Alto, nas dependências do Salón Felicidad. Milhares de pessoas se reuniram para se despedir daquele aymara que em vida fez tremer a classe política blanco-mestiza e levantou o orgulho das nações andinas. No meio da sala colorida, cercada por quatro pilares luminosos e sobre um tapete vermelho, estava o caixão de El Mallku, coberto por uma wiphala, acompanhado de flores, velas e folhas de coca. O contexto da pandemia alterou a forma tradicional andina de realizar o velório. Havia uma longa fila para entrar na sala e não era possível ficar mais de cinco minutos naquele ambiente, era necessário se deslocar rapidamente porque as aglomerações estavam proibidas e muitas pessoas queriam entrar no local para se despedir e dizer as últimas palavras. Nesse trajeto, entre lágrimas e música fúnebre, as pessoas gritavam: Viva el Mallku! Jallala Felipe Quispe! Glória ao Mallku Felipe Quispe!”.

Acostumado a ser direto e didático em suas intervenções públicas, Felipe Quispe Huanca, em diversas ocasiões mencionou estar disposto a “dar a vida” pela “causa sagrada” de seu povo, uma causa que consistia na libertação do colonialismo boliviano que discriminou e anulou as formas, cores e epistemes indígenas.

“Por que eles matam meus irmãos quechuas, meus irmãos aymaras? Por que não me matam? (…) Vou ch’allar  [ato ritual andino que dá de beber à Pachamama] com o meu sangue e vou abonar com o meu corpo a Pachamama para que amanhã estejamos no poder! (…)Estou lutando por princípio e vou continuar lutando até a minha morte, se possível debaixo da terra continuarei gritando.”

Aquelas palavras afiadas de El Mallku, que expressavam dor, rebelião e profecia, foram evocadas pela população para lembrar do aymara que ousou falar de igual para igual com aqueles que historicamente se sentiam superiores aos indígenas. Antes de sua morte, Santos Quispe destacou que seu pai havia mencionado que “se eu morrer, mais Mallkus nascerão”.

Na quinta-feira, 21 de janeiro, o corpo de Felipe Quispe Huanca foi transferido para o sepultamento na comunidade que o viu crescer e onde aprendeu a trabalhar a terra, a comunidade aymara de Ajaría, dependente do município de Achacachi, província de Omasuyos. A transferência teve duas paradas antes de chegar ao cemitério: a primeira na Universidade Pública de El Alto, a universidade onde El Mallku era docente no curso de História, e a segunda na Praça Tupak Katari em Achacachi, uma cidade beligerante que historicamente liderou diferentes revoltas indígenas. Milhares de pessoas com suas respectivas wiphalas acompanharam até o caixão entrar no túmulo criado especificamente para o líder aymara. Em seu túmulo, cercado de flores e coroas multicoloridas, foi colocada uma pintura em preto e branco com a imagem de Felipe Quispe Huanca e com as seguintes palavras: “Mallku, voe alto, muito alto!” Para culminar a cerimônia, em meio à pampa e à poeira, a multidão gritava: “Jallalla Felipe Quispe! Jallalla Qullasuyo Marka! Jiwpan q’aranaqaxa!“. 

Esboço de sua trajetória

Felipe Quispe Huanca nasceu em 22 de agosto de 1942 em Ch’ixilaya, pertencente ao cantão aymara de Ajllata Grande, Achacachi, província de Omasuyos. Ele era o último filho de uma família de agricultores. Aos onze anos, já implementada a Reforma Agrária , resultado da revolução de 1952, e pequenos centros educacionais em comunidades rurais, sentiu-se interessado em ingressar na escola e aprender a língua espanhola apesar da recusa de seus pais. Talvez sua primeira rebelião tenha sido dentro de sua própria família, para o menino Felipe não bastava ter aprendido as tarefas agrícolas e de pastoreio, ele queria dominar aquela linguagem que anos atrás só era permitida aos patrões e latifundiários.

Dada sua constante obstinação, seus pais, Gavino Quispe Cayllante e Alejandra Huanca Macias, tiveram que aceitar que seu último filho entrasse na escola mais próxima da comunidade. O futuro Mallku, em seus anos de escola, teve que percorrer longos caminhos para chegar à sua unidade educacional e enfrentar as punições e o racismo de seus próprios professores e colegas, que eram filhos de patrões e latifundiários: “Por que você vem aqui? Vocês nasceram para servir ao patrão. Vocês não serão doutores ou graduados. Vocês são índios!”.

Entre 1963 e 1964, Felipe Quispe Huanca completou o serviço militar onde também foi vítima de preconceito étnico. Os conscritos com sobrenomes indígenas como: Mamani, Condori, Quispe, Apaza, Huanca, entre outros, foram empurrados para os escalões mais baixos da hierarquia militar, enquanto aqueles com sobrenomes europeus e pele clara ocuparam cargos de alto comando. Foi nesse ambiente que Felipe Quispe Huanca aprendeu o nome de um autor que politizou sua vida nos anos seguintes: Karl Marx. Um suboficial entregou-lhes um panfleto de propaganda antimarxista, onde mencionava que Marx era ateu e que não acreditava em Cristo, no diabo ou em seres tutelares indígenas.

Terminado o serviço militar, Felipe Quispe Huanca comprou o Manifesto do Partido Comunista para verificar se o que foi dito no quartel era verdade. Não vendo essas referências, concluiu que o alto comando militar pretendia inserir um discurso antimarxista nas tropas indígenas, “este militar estava nos induzindo a nos tornarmos cães anticomunistas nojentos e assim lamber a mão do ogro gringo imperialista” lembrava ele. Dessas primeiras leituras e sua posterior incorporação ao Exército de Libertação Nacional (ELN) nasceu seu horizonte de luta anticapitalista e anti-imperialista, que o levou nos anos da ditadura de 1970 a viajar para a Guatemala e Nicarágua para receber treinamento de guerrilha.

Em 1975, Felipe Quispe Huanca retornou à sua comunidade de Ajaría. Nesta época, a Rádio San Gabriel transmitia uma radionovela sobre a vida rebelde dos líderes aymaras Tupak Katari e Bartolina Sisa, a partir disso os ouvintes de rádio foram convidados a comentar sobre a luta anticolonial de 1781. Felipe Quispe Huanca participou de um desses programas e lá conheceu Jaime Apaza Chuquimia, membro do partido político indígena Movimiento Indio Tupak Katari (MITKA) que, vendo a capacidade expressiva do futuro Mallku, o convidou a continuar falando sobre a rebelião de Tupak Katari e, posteriormente, aceitou sua filiação ao MITKA afirmando que antes deveria “fazer o juramento de rigor um dia desses no puro estilo Inka”. Nesse contexto, os movimentos indianistas já tinham maior destaque político e textos de Fausto Reinaga como “A Revolução Índia”, “A Tese Índia” e o “Manifesto do Partido Índio”, ressoavam nos discursos ideológicos e políticos aymaras.

O espírito combativo e místico de El Mallku pôde ser observado em cada ação que realizou nas organizações que encabeçou e militou. Em 1978, junto com distintos representantes do MITKA, fez o “juramento sagrado”, pela causa sagrada, de joelhos diante do “aguayo preto” e da “pedra branca”, destacando o seguinte: “Juro pela sagrada memória de Tupak Katari e Bartolina Sisa, lutarei até vencer e morrer”. No entanto, ele sabia que a política partidária não era suficiente para alcançar a libertação de seu povo, e havia testemunhado que muitos líderes indígenas eram facilmente corrompidos dessa maneira. Por isso nunca desistiu de formar braços armados ecostumava dizer que sob o poncho carregava os dois caminhos para a libertação dos oprimidos: em um braço a luta eleitoral e no outro a luta armada.

Em 1986, fundou o Exército Guerrilheiro Tupak Katari, EGTK, na cidade de Sucre, um grupo que não era apenas formado por indígenas aymaras, mas também por marxistas mestiços brancos, incluindo Álvaro García Linera (ex-vice-presidente da Bolívia durante o governo de Evo Morales), Raúl García Linera (irmão de Álvaro García) e Raquel Gutiérrez (intelectual marxista mexicana). A criação da EGTK foi iniciada por um ritual, onde Felipe Quispe Huanca afirmou o seguinte: “Eu Felipe Quispe Huanca assinei com meu sangue até a revolução dos Ayllus. Revolução ou morte. Venceremos!!!”

Em 1991, começaram as ações de guerrilha do EGTK, as primeiras intervenções foram o enforcamento de três galos [uma tática simbólica de guerra andina] em uma avenida principal de El Alto e a explosão de torres de eletricidade na mesma cidade. Embora essas ações não tenham tido grande repercussão no cenário midiático devido ao contexto temporal e político, a aposta do EGTK foi direcionada mais para armar a população indígena contra o governo colonial do que seguir uma linha de foquismo guevarista.

Em 19 de agosto de 1992, Felipe Quispe Huanca foi capturado devido à traição de um de seus companheiros durante o governo de Jaime Paz Zamora efoi submetido a tortura e privado de liberdade por cinco anos. Em uma de suas intervenções mais midiaticas em nível nacional, Felipe Quispe Huanca respondeu à jornalista blanca-mestiza Amalia Pando, sobre o uso de bombas para combater as injustiças, da seguinte forma: “Não, bem, é que eu não gosto que minha filha seja sua empregada. Como posso protestar? Eu não vou fazer isso pedindo esmolas?”.

Na prisão, Felipe Quispe Huanca cursou à distância História na Universidad Mayor de San Andrés, da mesma forma, foi lá que escreveu seus principais textos que mais tarde orientariam suas ações e estratégias políticas. Ao sair da prisão foi nomeado Secretário Executivo da Confederação Única dos Trabalhadores Camponeses da Bolívia (CSUTCB). Àquela altura, quatro anos se passaram desde a morte de Fausto Reinaga e quase ninguém falava do indianismo e de suas categorias políticas. Foi Felipe Quispe Huanca quem assumiu o conceito de Reinaga das “duas Bolívias” e o usou para mostrar as injustiças da Bolívia branca contra a Bolívia indígena. Por isso, Ramiro Reynaga, filho de Fausto Reinaga, dedicou seu texto “Blokeo 2000” a El Mallku, “por ter tirado Fausto Reynaga, el Amauta, da clandestinidade”.

Já como principal líder da CSUTCB, El Mallku liderou diferentes bloqueios indígenas contra os governos do ex-ditador Hugo Banzer Suarez, Gonzalo Sánchez de Lozada e Carlos Mesa Guisbert. Na esfera midiática e política, sua linguagem radical criou novas terminologias políticas, como “Estado q’ara”, “q’aracracia” [Q’ara em aymara é uma palavra dada aos blanco-mestizos que têm uma posição colonial em relação às populações indígenas], “sociedade comunitária de ayllus”, “guerra revolucionária de ayllus”, entre outras. Sua imagem era a do índio rebelde, aquele que falava de igual para igual com o blanco-mestizo, aquele que não hesitava diante dos que usavam terno e gravata.

Felipe Quispe Huanca chegava pontualmente às reuniões e assembleias, não gostava de esperar, a disciplina era sua maior virtude, “ninguém é seu llukalla [moleque] para esperar meia hora, estamos em tempo da plantação e o tempo vale ouro”, disse diante das câmeras de televisão pelo atraso dos representantes do governo em iniciar uma mesa de diálogo.

El Mallku criou seu partido político, o Movimento Indígena Pachakuti (MIP), sigla com a qual obteve seis deputados nas eleições de 2002. Ele próprio se posicionou como deputado nacional, mas renunciou em sinal de protesto contra o Congresso, argumentando, em uma conferência de imprensa que esta instância:

“Atua de forma arbitrária e de costas para o povo boliviano “oprimido”, que aprovou imunidade para os militares gringos norte-americanos para a hecatombe contra os povos indígenas, com o objetivo de saquear nossos recursos naturais que a Pachamama nos dá como simples dádivas.”

O cenário mais importante que Felipe Quispe Huanca protagonizou foi durante as mobilizações de 2003, especialmente no chamado Outubro Negro ou Guerra do Gás, Neste contexto, como resultado das constantes marchas, bloqueios e confrontos entre os movimentos sociais indígenas do país e as Forças Armadas, o presidente da república e o maior representante do neoliberalismo na época, Gonzalo Sánchez de Lozada, renunciou e fugiu da Bolívia. Sobre esses fatos, El Mallku escreveu seu livro La Caída de Goni: Diario de la huelga de hambre em 2013, onde aponta a estratégia de luta dos setores populares e indígenas, urbano e rural, e a importância do movimento indianista naquele cenário de “guerra comunitária”. Nesse contexto de crise política, surgiu também a figura de Evo Morales Ayma como líder dos cocaleiros nos trópicos bolivianos.

O líder Felipe Quispe com Evo Morales. Foto de arquivo, 17 de julho de 2001.

Nas eleições presidenciais de 2005, Felipe Quispe Huanca participou como candidato à presidência com sua sigla MIP, onde panorama político exigia um novo governo distante dos discursos e programas neoliberais. Os cenários da Guerra da Água (2000) e da Guerra do Gás (2003) colocaram os povos indígenas como os principais atores da política nacional. O novo governo teve que partir dessas bases, assumir a agenda proclamada pelos movimentos orgânicos, mas não só El Mallku foi o candidato que representou os setores populares e indígenas, como também Evo Morales Ayma, que com sua sigla Movimento ao Socialismo (MAS) estava ganhando popularidade nacionalmente.

Nessas eleições, Evo Morales Ayma juntamente com seu candidato à vice-presidência, Álvaro García Linera, representavam a face menos radical do futuro governo nacional. Felipe Quispe Huanca, com seu discurso beligerante na linha indianista, não conseguiu atrair eleitores de regiões fora dos Andes. Os resultados eleitorais colocaram Evo Morales como o vencedor da presidência, deixando El Mallku com apenas 2,15% dos votos. Após sua derrota eleitoral, o líder aymara retornou à sua comunidade para se dedicar às tarefas agrárias e formar quadros políticos indianistas. Da mesma forma, fundou o Pachakuti Sports Club, sob a ideia de que os Quispes, Mamanis, Apazas, entre outros sobrenomes indígenas, disputassem esses cenários esportivos.

Saiba mais em: https://jacobin.com.br/2022/01/o-aymara-que-levantou-o-orgulho-indigena-na-bolivia/

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