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Os candidatos mais votados para a Câmara

Entre os dez primeiros do ranking, oito disputaram vaga ao Legislativo pelo estado de São Paulo. A maioria dos campeões de votos é do PL, partido de Bolsonaro, ou tem proximidade com o presidente.

Por: Antonio Martins | Imagem: Douglas Magno/AFP/Getty Images. O deputado mais votado, Nikolas Ferreira, de 26 anos, com o presidente Jair Bolsonaro durante motociata em Poços de Caldas em 30 de setembro

Nikolas Ferreira, do PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, foi o candidato a deputado federal mais votado nas eleições do último domingo (02/10), com 1.492.047 votos, concorrendo por Minas Gerais.

Entre os dez mais votados para a Câmara dos Deputados, oito nomes disputaram o Legislativo pelo estado de São Paulo. A exceção, além de Nikolas Ferreira, foi o ex-procurador e ex-coordenador da Lava Jato Deltan Dallagnol, que concorreu pelo Paraná. A maioria dos deputados com mais votos é do partido de Bolsonaro ou tem proximidade com o presidente.

Uma das exceções é justamente o segundo mais votado: Guilherme Boulos (Psol-SP), com 1.001.472 votos. Ele chegou a cogitar candidatura à Presidência pelo partido, mas optou por concorrer à Câmara para fortalecer a bancada do Psol, que agora contará com 14 assentos no âmbito da Federação Psol/Rede.

Depois dele no ranking dos mais votados vem Carla Zambelli (PL-SP), com 946.244 votos, defensora ferrenha de Jair Bolsonaro. Em quarto aparece Eduardo Bolsonaro (PL-SP), com 741.701 votos. Apesar da votação expressiva, o filho do presidente Jair Bolsonaro recebeu mais de 1 milhão de votos a menos do que em 2018, quando foi o deputado mais votado da história do país, com 1,84 milhão.

Completam a lista dos dez mais votados o ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro Ricardo Salles (PL-SP), com 640.918, o delegado Bruno Lima (PP-SP), com 461.217, Deltan Dallagnol (Podemos-PR), com 344.917 votos, Tabata Amaral (PSB-SP), com 337.873 votos, Celso Russomanno (Republicanos-SP), com 305.520, e Kim Kataguiri (União Brasil-SP), com 295.460.

Quem é Nikolas Ferreira

Deputado federal mais votado, Nikolas Ferreira tem apenas 26 anos, nasceu em Belo Horizonte e é formado em Direito pela PUC-MG. Em 2020, foi o segundo candidato mais votado a vereador na capital mineira, com 29.388 votos. Na eleição deste ano, obteve o sêxtuplo dos votos do segundo colocado em seu estado, André Janones (Avante).

O mineiro fez parte da comitiva de Bolsonaro que visitou países árabes em 2021. Em setembro de 2021, foi impedido de entrar no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, por não apresentar comprovante de vacinação contra covid-19.

Nikolas é o terceiro candidato a deputado federal mais votado da história, ficando atrás apenas de Eduardo Bolsonaro e Enéas Carneiro (Prona-SP), que em 2002 conquistou 1,57 milhão de votos.

O jovem coordena o movimento Direita Minas e conta com um grande número de seguidores nas redes sociais. Por várias vezes, disse que, na época da faculdade, foi  “hostilizado” por seus posicionamentos contra a esquerda, o feminismo e a ideologia de gênero. É investigado pelo Ministério Público de Minas Gerais pela publicação de um vídeo nas redes sociais no qual critica a presença de uma adolescente transexual em um banheiro feminino de um colégio.

No sábado antes das eleições, participou de uma live com Bolsonaro, que pediu votos para o afilhado político.

Guilherme Boulos
Em 2021, a revista americana “Time” elegeu Boulos como uma das 100 lideranças emergentes que estão moldando o futuro. Foto: Daniel Ramalho/AFP/Getty Images

Quem é Guilherme Boulos

Segundo com mais votos para a Câmara dos Deputados, Guilherme Boulos, de 40 anos, nasceu em São Paulo e é coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. Em 2020, chegou a disputar o segundo turno para prefeito de São Paulo, recebendo mais de 2,1 milhão de votos, mas perdeu para Bruno Covas (PSDB). Em 2018, concorreu à Presidência, ficando com 0,58% do votos válidos.

Boulos é graduado em filosofia e mestre em psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP). Foi professor da rede pública estadual e hoje em dia leciona na Escola Kope.

Em 2021, a revista americana Time elegeu Boulos como uma das 100 lideranças emergentes que estão moldando o futuro.

Os demais mais bem votados

Carla Zambelli foi a terceira mais votada. É fundadora do grupo Nas Ruas e recebeu 12 vezes mais votos que na eleição anterior, em 2018, quando se elegeu na onda bolsonarista. Costuma corroborar os ataques de Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) e às urnas eletrônicas. Zambelli teve como padrinho de casamento o ex-juiz federal Sergio Moro, que chegou a dizer em entrevista que, apesar disso, os dois não eram amigos e que aceitou o convite por constrangimento.

Zambelli acabou ficando à frente de Eduardo Bolsonaro, que obteve apenas a metade dos votos de 2018 e foi o quarto mais votado.

O quinto no ranking, o ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro Ricardo Salles, deixou o cargo de ministro em junho do ano passado, em meio a uma investigação da Polícia Federal sobre um esquema de contrabando de madeira.

Entre 2019 e 2021, junto com Jair Bolsonaro, Salles executou uma agenda antiambiental sem paralelos na história recente do país. O período foi marcado pelo aumento do desmatamento na Amazônia, que superou marcas alcançadas há mais de dez anos; queda das multas por crimes ambientais nunca havia sido tão brusca; e o retrocesso das políticas brasileiras tirou do país o lugar de destaque em fóruns internacionais.

Antes mesmo do governo Bolsonaro, Salles já acumulava uma condenação na Justiça por fraude ambiental cometida em seus tempos de secretário estadual paulista.

Desde a redemocratização, nunca um ministro do Meio Ambiente havia sido alvo de tantas investigações no Tribunal de Conta da União (TCU). Em dois anos, foram mais de 30 pedidos de apurações encaminhados por suspeitas ao lidar com temas da pasta, inclusive por sua conduta anti-indígena.

Em sua administração, Salles também foi acusado de perseguir servidores que tentavam cumprir seu trabalho com rigor e sugeriu que o  governo aproveitasse o foco da imprensa na pandemia para “ir passando a boiada” na área ambiental.

O sexto mais votado, delegado Bruno Lima (PP) é um novato na política. Concorreu pela primeira vez em 2018, para deputado estadual, recebendo 103.823 votos.

Deltan Dallagnol coça a cabeça
Deltan Dallagnol foi coordenador da Operação Lava Jato. Foto: Agência Brasil/F. Frazão

De procurador a deputado

Na sequência, em sétimo da lista de mais votados em todo o Brasil, aparece o ex-procurador Deltan Dallagnol (Podemos-PR).

Ex-coordenador da operação Lava Jato, ele foi condenado em março a indenizar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por dano moral devido a um “PowerPoint” apresentado em uma entrevista coletiva em 2016.

Em 2019, a atuação de Dallagnol na Lava Jato se tornou alvo de intensas críticas após vazamentos de mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil, em parceria com vários veículos de imprensa. As mensagens atribuídas ao ex-juiz Sérgio Moro e a Dallagnol levantaram suspeitas de conluio entre o ex-juiz e o MPF na condução de inquéritos e ações penais da operação contra réus como o ex-presidente Lula.

As mensagens indicam que o então juiz teria, entre outras coisas, orientado ilegalmente ações da Lava Jato, como negociações de delações, cobrado novas operações e até pedido para que os procuradores incluíssem uma prova num processo.

Outras mensagens indicam que Dallagnol também tentou aproveitar a exposição pública proporcionada pela Lava Jato para lucrar no mercado de palestras. Em setembro de 2020, Dallagnol deixou a Lava Jato, alegando motivos familiares.

Tabata Amaral é uma das poucas entre os dez mais votados que foge da cartilha de Bolsonaro. Se reelegeu deputada federal com 73 mil votos a mais do que em 2018.

Em outubro de 2019, contrariou a orientação de seu então partido, o PDT, e votou a favor da reforma da Previdência. Tabata é uma das parlamentares mais atuantes no combate às fake news e não poupa críticas ao comando do Ministério da Educação (MEC).

Em nono está Celso Russomanno, que inicialmente cogitava concorrer ao Senado. Em 2020, ele ficou em quarto lugar para a prefeitura de São Paulo, em sua terceira derrota seguida em eleições para prefeito na capital paulista.

Fechando a lista aparece Kim Kataguiri (União Brasil), coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), que ganhou proeminência nos atos que que culminaram no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Foi eleito pela primeira vez em 2018 pelo Democratas.

Recentemente se envolveu em uma polêmica ao participar do podcast Flow. Em fevereiro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou a abertura de um inquérito para apurar se Kataguiri (DEM-SP) e o ex-apresentador Bruno Aiub, conhecido como Monark, cometeram crime de apologia do nazismo durante um episódio do programa.

Kataguiri afirmou que a Alemanha teria errado ao criminalizar o nazismo em 1945, após o fim da Segunda Guerra Mundial, e que o melhor caminho seria deixar que a ideologia fosse “rechaçada pela sociedade”.

Raio-x da Câmara

O partido do presidente de Bolsonaro (PL) consolidou nestas eleições a posição de maior bancada, com crescimento dos 76 deputados atuais para 99 na próxima legislatura. Em segundo lugar está a federação PT-PC do B-PV, com 80 deputados eleitos (PT com 68, PCdoB com 6  e PV com 6).

Esse cenário repete a polarização política iniciada em 2018, quando o PT elegeu 54 deputados, e o PSL, então partido do presidente Jair Bolsonaro, 52.

O PL tem atualmente 76 deputados e, em segundo lugar, está a federação entre PT, PCdoB e PV, que tem 68. Já o PSL se uniu ao DEM e se tornou União Brasil, que hoje tem 51 deputados e tem a quarta maior bancada.

Em 2018, saíram das urnas deputados de 30 partidos diferentes, número que foi reduzido para 23 na composição atual da Câmara. Após as federações e as eleições de 2022, haverá 19 partidos com representação na Câmara dos Deputados.

 

Veja em: https://www.dw.com/pt-br/os-candidatos-mais-votados-para-a-c%C3%A2mara/a-63323077

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