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A presença da China na América Latina

A China captura os mercados da América Latina, combinando a audácia econômica com a astúcia geopolítica.

Por: Claudio Katz

A China não improvisou seu desembarque generalizado na América Latina. Concebeu um plano estratégico de expansão codificado em dois livros brancos (2008 e 2016). Primeiro, priorizou a assinatura de Tratados de Livre-comércio com os países ligados ao seu próprio oceano. Posteriormente, incentivou a articulação destes acordos no conglomerado da zona da Aliança do Pacífico (AP).

Este avanço comercial foi seguido por uma onda de financiamento, que na última década atingiu 130 bilhões de dólares em empréstimos bancários e 72 bilhões em aquisições de empresas. Esta consolidação do crédito foi sustentada por uma sequência de investimentos diretos, centrados em obras de infraestrutura para melhorar a competitividade de seus fornecimentos.

Este avanço comercial foi seguido por uma onda de financiamento, que na última década atingiu 130 bilhões de dólares em empréstimos bancários e 72 bilhões em aquisições de empresas. Esta consolidação do crédito foi sustentada por uma sequência de investimentos diretos, centrados em obras de infraestrutura para melhorar a competitividade de seus fornecimentos.

Esta enorme rede de portos, estradas e corredores bioceânicos barateia a aquisição de matérias-primas e a alocação dos excedentes industriais. A América Latina já é o segundo maior destino desse tipo de obras, que se expandem num ritmo galopante. Com o apoio chinês, estão sendo construídas atualmente novas pontes no Panamá e na Guiana, metrô na Colômbia, dragagens no Brasil, Argentina e Uruguai, aeroportos no Equador, ferrovias e hidrovias no Peru e estradas no Chile (Fuenzalida, 2022).

A aquisição de empresas concentra-se nos segmentos estratégicos do gás, petróleo, mineração e metais. A China apetece o cobre do Peru, o lítio da Bolívia e o petróleo da Venezuela. As empresas estatais da nova potência desempenham um papel protagonista nestas captações. Elas antecipam ou determinam a presença posterior das empresas privadas. O setor público chinês alinha todas as sequências a serem seguidas em cada país, de acordo com um plano elaborado por Pequim.

Esta enorme rede de portos, estradas e corredores bioceânicos barateia a aquisição de matérias-primas e a alocação dos excedentes industriais. A América Latina já é o segundo maior destino desse tipo de obras, que se expandem num ritmo galopante. Com o apoio chinês, estão sendo construídas atualmente novas pontes no Panamá e na Guiana, metrô na Colômbia, dragagens no Brasil, Argentina e Uruguai, aeroportos no Equador, ferrovias e hidrovias no Peru e estradas no Chile (Fuenzalida, 2022).

A entidade financeira desse comando (Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura) fornece os fundos necessários para aumentar as taxas de investimento direto para níveis recordes na região. Estas médias anuais saltaram de 1,357 bilhão de dólares (2001-2009) para 10,817 bilhões de dólares (2010-2016) e transformaram a América Latina no segundo maior destino de alocações desse tipo.

A China começa a coroar sua penetração econômica integral com o fornecimento de tecnologia. Já disputa a primazia de seus equipamentos 5G, através de três empresas emblemáticas (Huawei, Alibaba e Tencent). Negocia contra o relógio em cada país a instalação desses equipamentos, em choque com seus concorrentes do Ocidente. Obteve acordos favoráveis no México, República Dominicana, Panamá e Equador, enquanto tateia a predisposição do Brasil e da Argentina (Lo Brutto; Crivelli, 2019).

Astúcia geopolítica

A China captura os mercados da América Latina, combinando a audácia econômica com a astúcia geopolítica. Não confronta abertamente seu rival estadunidense, mas, para fechar acordos, exige que todos os seus clientes interrompam as relações diplomáticas com Taiwan.

Este reconhecimento do princípio de “uma só China” é a condição para qualquer acordo comercial ou financeiro com a nova potência. Por meio desta via indireta, Pequim consolida seu peso global e corrói a tradicional submissão dos governos latino-americanos aos ditames de Washington.

É impressionante a velocidade com que a China conseguiu impor esta mudança. A influência que Taiwan tinha conseguido manter até 2007 na América Central e no Caribe foi erodida pela diplomacia de Pequim, que voltou a seu favor o Panamá, a República Dominicana e El alvador. Esta sequência demoliu as representações de Taipé, que apenas manteve escritórios em países pequenos ou secundários da região, após uma sequência surpreendente de rupturas (Regueiro, 2021).

Este resultado é muito impactante numa região tão sensível aos interesses dos Estados Unidos. O gigante do Norte sempre privilegiou a proximidade desta área e sua importância para o comércio mundial. A China penetrou no coração da influência ianque, erradicando as delegações taiwanesas e tornando-se o segundo maior parceiro da região.

Pequim estabeleceu sua influência regional depois de afirmar sua presença no Panamá, quebrando o domínio esmagador de Washington sobre o istmo. Um governo pró-ianque e declaradamente neoliberal assegurou negócios com a China, depois da pressão dissuasiva exercida pelo gigante asiático com sua ameaça de construir um canal alternativo na Nicarágua.

O abandono desse projeto foi seguido pela ruptura com Taiwan, a conversão do Panamá no país centro-americano de maior investimento chinês e o local escolhido para uma linha de trem de alta velocidade (Quian; Vaca Narvaja, 2021). Estes dados representam um duro golpe para o domínio que os Estados Unidos têm exercido.

Pequim estendeu esta mesma estratégia à América do Sul e negocia com grande tenacidade a ruptura do Paraguai, que é um dos 15 países do mundo que ainda reconhece Taiwan. Também neste caso atua com grande paciência, ocupando gradualmente cada vez mais espaço sem um confronto aberto com Washington. As ofertas comerciais são o compromisso tentador que Pequim oferece para as elites pró-EUA. Exige que se dê prioridade aos ganhos econômicos, em detrimento das preferências ideológicas.

Durante a pandemia, a China acrescentou outra carta ao coquetel de atrações que disponibiliza aos governos latino-americanos para obter sua preferência. No cenário dramático que prevaleceu durante a infecção, desenvolveu uma inteligente diplomacia das máscaras com grandes ofertas de vacinas. Forneceu o material sanitário que a administração Trump recusava aos seus tradicionais protegidos no hemisfério.

Pequim forneceu quase 400 milhões de doses de vacinas e quase 40 milhões de peças sanitárias, quando esses produtos eram escassos e Washington respondia com indiferença aos pedidos de seus vizinhos do sul. O contraste entre a boa vontade de Xi Jin Ping e o egoísmo brutal de Trump acrescentou outro impulso à aproximação entre a América Latina e a China.

 

Saiba mais em: https://katz.lahaine.org/a-presenca-da-china-na-america/

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