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Agricultura regenerativa é opção contra mudanças climáticas

O Produtor Alemão mostra na prática os benefícios da abordagem regenerativa e se diz aprimorado de que é possível produzir tanto quanto com a agricultura industrial.

Por: Insa Wrede | Crédito Foto: Emanuel Finckenstein. Na propriedade de Bösel, os trabalhos são divididos por faixas estreitas com árvores e arbustos

O estado de Brandemburgo não é o mais indicado para quem quiser se dedicar à agricultura na Alemanha. As terras são pobres em nutrientes e arenosas. E os agricultores ainda enfrentam estimativas experimentais.

Mesmo assim, Benedikt Bösel resolveu arriscar. Em 2016, ele deixou de lado a carreira de banqueiro de investimentos e herdou a fazenda que os pais, depois da Reunificação da Alemanha , reergueram.

São 3 mil hectares, dos quais 2 mil de floresta e mil de trabalho. Os pais já haviam optado pela produção de orgânicos , e a Bösel resolveu inovar ainda mais.

Para ele, o futuro estava na digitalização da agricultura. “Ainda no setor financeiro, trabalhei principalmente com start-ups do setor agrícola, e isso me deu uma visão muito boa dessas tecnologias”, explica.

Duas verões de seca logo no início de sua carreira de agricultor lhe trouxeram lições. “Ficou cada vez mais claro para mim que a tecnologia é frequentemente usada para lidar com os sintomas de um sistema produtivo doente”, diz.

O solo é a base de tudo

Hoje ele está demonstrado que os desafios pelas mudanças climáticas , principalmente a imprevisibilidade do tempo, não se deixam superar apenas com soluções tecnológicas.

Mais importante é restaurar ecossistemas. Assim, hoje a saúde do solo e a manutenção da biodiversidade estão no centro dos esforços de Bösel.

Mãos exibem terra com húmus e minhocas
Bösel exibe uma amostra de solo de sua propriedade rural. Foto: Emanuel Finckenstein

Ele encontrou inspiração para a criação de um sistema produtivo agrícola saudável no suíço Ernst Götsch, que usou a agrossilvicultura no Brasil para tornar novamente fértil uma área que havia sido declarada inutilizável.

Quem hoje à propriedade de Bösel encontra terras que são divididas a cada poucos metros por faixas estreitas nas quais crescem árvores e arbustos, que formam uma barreira contra o vento e assim cobrem a erosão do solo.

Essas barreiras também garantem um microclima mais úmido, fornecem habitat para insetos e pássaros, armazenam gás carbônico no solo, ajudam a formar húmus e ainda fornecem nozes, bagos ou frutas, que podem ser colhidas.

Vagas na propriedade rural de Benedikt Bösel
Vacas são parte integrante do sistema de produção adotado na propriedade. Foto: Emanuel Finckenstein

Mais de 150 vagas pastam ao ar livre durante todo o ano. Não em pastagens, mas em terras aráveis. Nelas estão crescendo forragens aráveis ​​​​​​perenes, como gramíneas, leguminosas e ervas diversas.

Os animais pastam em pequenas áreas cercadas. De duas a quatro vezes por dia, são redistribuídos com o uso de cercas móveis. Assim, as vacas sempre ficam juntas. Elas pastam e pisoteiam as forragens. Depois se moveu rapidamente para o próximo cercado, deixando para trás esterco. Esse método simula o pastoreio natural.

“Mordidas pelos animais, as plantas reagem com o crescimento das raízes”, diz Bösel. Ao mesmo tempo, as plantas pisoteadas protegem o solo do sol e fornecem alimento aos organismos do solo. “Essa forma de pastoreio é um dos poucos métodos para armazenar carbono no solo de forma muito eficaz, rápida e em longo prazo.”

Alimentos para todos?

Essas são apenas algumas das abordagens da agricultura regenerativa. E elas logo mostraram resultados. Bösel se diz satisfeito por que as árvores e arbustos cultivados a partir de sementes não apresentaram problemas, apesar do último verão ter sido extremamente quente. O pastoreio também levou a uma melhoria na qualidade do solo e na capacidade dele de absorver água.

“Mas também deve ser dito que nem sempre é possível cobrir constantemente o solo. Especialmente quando são plantados cereais anuais, essas áreas têm de ser continuamente cultivadas”. Se houver uma situação climática desfavorável na hora errada, por exemplo uma seca, o agricultor volta à estaca zero.

Benedikt Bösel em sua propriedade rural
Bösel: “É possível produzir tantos alimentos como com a agricultura industrial”. Foto: Emanuel Finckenstein

Por melhor que tudo isso seja, fica a questão: é possível alimentar mais de 8 bilhões de pessoas sem recorrer à produção agrícola industrial? Há argumentos a favor. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), um terço dos alimentos produzidos em todo o mundo hoje provém de propriedades com menos de dois hectares — ou seja, da produção não industrial.

Além disso, a demanda não precisa ser tão alta como ela é. Um estudo de consultoria McKinsey mostrou que 2 bilhões de pessoas comem até ficar doentes e que até 40% de todos os alimentos do mundo são perdidos porque são jogados fora ou desperdiçados.

Além disso, 40% das terras agricultáveis ​​são usadas para cultivar ração animal , de acordo com a Fundação Heinrich Böll, ligada ao Partido Verde da Alemanha. Portanto, há margem para alimentação de mais de 735 milhões de pessoas que sofrem com a fome sem produzir mais.

“Com uma utilização inteligente, regenerativa e ambientalmente correta do solo é possível produzir tantos alimentos como na agricultura industrial”, garante Bösel.

Qualidade em vez de quantidade

Muitas pessoas dizem que assim os alimentos ficam mais caros, mas elas esquecem que a produção industrial gera muitos dos chamados custos externos, que não estão refletidos nos preços dos produtos, por exemplo sob a forma de esgotamento do solo, diminuição da biodiversidade ou piora da qualidade da água.

Ao fim, todas as pessoas acabam tendo de arcar com esses custos externos porque todas têm de arcar com as consequências da produção industrial para o meio ambiente.

Se esses custos fossem levados em conta, os preços finais dos produtos agrícolas industriais já não diferiam tão significativamente daqueles produzidos de forma orgânica e regenerativa.

Num estudo, a consultoria Boston Consulting concluiu que a agricultura alemã gera custos externos de cerca de 90 bilhões de euros todos os anos, aí incluídos as emissões de gases estufa e a perda de serviços ecossistêmicos (os serviços que a natureza oferece às pessoas).

Já o Valor Acrescentado Bruto (VAB), ou o resultado final da atividade produtiva num período determinado, da agricultura alemã é de cerca de 21 bilhões de euros. Com métodos agrícolas sustentáveis ​​e tecnologia moderna, esses custos poderiam ser reduzidos em um terço, segundo o estudo.

Trabalhadores na fazenda de Benedikt Bösel
Faixas com arbustos separam terras aráveis ​​na fazenda de Bösel. Foto: Emanuel Finckenstein

Diante das mudanças climáticas, não são apenas os agricultores que têm de compensar sua forma de produção. A política agrícola alemã continua voltada para produzir a maior quantidade possível com preços os mais baixos possíveis para o mercado mundial.

Isso levou os agricultores alemães a investirem na produção e também a se individualizarem pesadamente, afirmou Bösel durante uma audiência no Bundestag, onde foi convidado como especialista. Segundo ele, esse endividamento dificulta uma possível transição para uma agricultura regenerativa.

Com ajuda da pesquisa científica

Outra dificuldade é que a agricultura regenerativa não é a mesma em todo o lugar. Ao contrário, cada agricultor deve analisar cuidadosamente sua própria situação e localização, diz Bösel. Os métodos não são necessariamente adequados para todos os outros lugares.

Ele próprio diz ter buscado ajuda e apoio de cientistas durante a transição agrícola. Hoje ele trabalha em conjunto com diversas instituições de pesquisa, incluindo a Universidade Humboldt de Berlim e a Universidade Eberswalde para o Desenvolvimento Sustentável.

 

Veja em: https://www.dw.com/pt-br/agricultura-regenerativa-%C3%A9-op%C3%A7%C3%A3o-contra-mudan%C3%A7as-clim%C3%A1ticas/a-66877430

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