O Grupo ganhou importância geopolítica no meio do esforço entre China e EUA e na guerra na Ucrânia. Em relação ao tamanho econômico, o Brasil tem uma influência desproporcional – mas a China é quem manda no grêmio.
Por: Alexandre Busch | Créditos da foto: Alet Pretorius/AFP. Líderes dos países do Brics posam para foto oficial em Joanesburgo
Fazia tempo que um encontro do Brics não chamava tanta atenção quanto este 15º, transcorrido esta semana em Joanesburgo. Representantes de 40 países compareceram, segundo os relatos: além dos cinco membros – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, dezenas de outros que aspiram a integração. E ainda os países africanos convidados pelo hospedado.
A atenção dispensada deve-se sobretudo ao fato do Brics, sob a liderança – daria para dizer também a pressão – da China, estar se transformando cada vez mais num fórum antiocidental. Se depender de Pequim, o Brics deverá se tornar um fórum institucional antagônico ao G7 , dominado pelas democracias ocidentais.
Diante do desafio geopolítico entre a China e os Estados Unidos, mas também o ataque da Rússia à Ucrânia, é importante para a Europa e para os Estados Unidos observarem como o Sul Global se posiciona no Brics.
Pois o grupo dos países do Brics está diante de uma nova fase de desenvolvimento. Eles são cada vez menos o clube dos países de crescimento econômico acelerado. É verdade que o percentual do grupo no PIB mundial passou de 8% para 26% desde 2001, quando o banco de investimento Goldman Sachs criou a sigla – então ainda BRIC, sem o S da África do Sul – para um fundo de investimento.
Só que esse sucesso económico se deveu sobretudo à China, que produz hoje mais do que quatro outras economias da sigla somadas.
Se Brasil, Rússia e África do Sul cresceram, em média, menos de 1% nos últimos dez anos, China e Índia cresceram em média 6% ao ano.
Assim, o novo tema que um dos países do Brics é uma transformação global: os governos do grupo excluem nada menos do que uma nova ordem global num mundo “pós-ocidental”.
É essa nova narrativa que une esse grupo heterogêneo: a China, como potência global emergente, quer reunir o maior número possível de países em torno de si para criar um polo antagônico aos Estados Unidos. A Rússia pode, com o Brics, contornar seu isolamento internacional depois do ataque à Ucrânia. Já para a Índia, o Brasil e a África do Sul – e também para outros países interessados – o formato oferece a possibilidade de se apresentar como neutro num mundo geopoliticamente dividido.
Mesmo assim, os demais países-membros, exceto a isolada Rússia, não fazem automaticamente causa comum com a China. Eles estão globalmente conectados, tanto política quanto economicamente, e não querem nem arriscar suas relações com o Ocidente nem trocar estas por uma dependência da China.
Por isso esses três países se opuseram, em Joanesburgo, à admissão de novos membros. Concordamos apenas em estabelecer diretrizes e princípios para a expansão do bloco. Com isso, esses três países ganham tempo para tentar controlar o processo. Um grupo maior reduziria a importância política deles.
Pois, na verdade, no Brics, sobretudo Brasil e África do Sul estão jogando em uma liga muito elevada se for levada em conta o tamanho das economias. Se países ricos, como a Arábia Saudita, ou grandes, como a Indonésia, foram aceitos, então os dois países-membros menores perderiam claramente influência.
Também por isso, novos membros deverão ser aceitos apenas com direito restrito de voto no Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), como é chamado o banco de desenvolvimento do Brics.
Mas a China conseguiu o que queria: Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Argentina vão aderir ao grupo a partir do início de 2024.
Assim , a China mostrou que é quem manda no Brics. Conclusão: o Sul Global também terá de se habituar ao fato de que, entre eles, uma potência mundial é quem dá as cartas.
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