‘Não consigo mais plantar’: como seca histórica na Amazônia afeta mulheres indígenas
19/outubro/20230
Por: Leandro Prazeres | Créditos da foto: ALMERINDA RAMOS/ARQUIVO PESSOAL. Almerinda Ramos, 50, da etnia tariana, conta que estiagem histórica fez com que fogo se alastrasse por plantações de mandioca que abastecem sua comunidade em São Gabriel da Cachoeira, na fronteira com a Colômbia
“Esse sol está deixando as mulheres doentes. Ninguém consegue mais ir pra roça como fazíamos antes. Não consigo mais plantar.”
É assim que Virgília Arago Almeida, de 43 anos , indígena da etnia tariana, define os efeitos da seca histórica que atingiu a Amazônia neste ano.
Segundo ela, as altas temperaturas e a falta de chuvas neste ano fizeram com que as mulheres na região do Alto Rio Negro, no Oeste do Amazonas, alterassem suas rotinas seculares de trabalho na roça, colocando em risco a segurança alimentar de comunidades inteiras.
A seca que afeta a região amazônica neste ano é considerada uma das mais intensas já registradas.
Um dos principais indicadores da sua intensidade é o nível do rio Negro em Manaus. Na segunda-feira (16/10), a régua que aponta o nível do rio registrou um novo recorde de baixa: 13,59 metros. Na quarta-feira (18/10), o rio continuou a secar e o nível baixou ainda mais: 13,38 metros.
Em outros pontos da chamada Amazônia Ocidental, composta por Amazonas, Rondônia, Roraima e Acre, os efeitos também já começam a ser sentidos.
Em Rondônia, o rio Madeira atingiu níveis históricos e fez com que a Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, uma das maiores do Brasil, tivesse seu funcionamento suspenso temporariamente.
No Amazonas, 59 dos 62 municípios do Estado já decretaram situação de emergência. Em Brasília, o governo federal anunciou medidas como o envio de mantimentos para comunidades isoladas e a dragagem de rios para facilitar a navegação.
Mas longe dali, nas comunidades indígenas do Alto Rio Negro, os efeitos desta seca atípica vêm deixando os moradores, especialmente as mulheres, preocupadas.
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