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Panamá vive crise migratória na selva de Darién

Fluxo de migrantes rumo aos EUA e ao Canadá bate recorde na região de fronteira entre o Panamá e a Colômbia e chega a 360 mil somente em 2023. Comissariado da ONU denuncia o aumento das redes de tráfico humano.

Por: Emilia Rojas Sasse | Crédito Foto: Emilia Rojas Sasse. Somente em agosto de 2023, 82 mil pessoas atravessaram a região

Panamá se tornou o epicentro de uma crise humanitária e, com medidas como o aumento das deportações, está tentando lidar com o fluxo crescente de migrantes que cruzam o país rumo aos Estados Unidos e ao Canadá.

O governo Panamá se sente sobrecarregado. E, de fato, os números são alarmantes. Em 2022, o registro até então de 250 mil pessoas arriscaram suas vidas cruzando a selva de Darién, que faz fronteira com a Colômbia. 

A três meses do fim do ano, porém, em 2023 esse número já foi superado em muito: 360 mil pessoas fizeram uma travessia perigosa, de acordo com Margarida Loureiro, do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) no Panamá.

As causas para este aumento são diversas. Muitos dos fatores que induzem a migração “foram exacerbados pelos impactos socioeconômicos da pandemia de covid-19 , recentes eventos climáticos extremos ou instabilidade política nos países de origem”, explica à DW Giuseppe Loprete, chefe do Centro (Global) Administrativo e da Missão da Organização Internacional para as Migrações (OIM) no Panamá.

De acordo com Loprete, a maioria dos migrantes vem da Venezuela , do Equador, do Haiti , e da Colômbia, mas também de fora da América Latina, como da China, Índia e Camarões”.

O cheiro da morte

Margarida Loureiro também destaca outro aspecto fundamental para os altos números: a desinformação generalizada, que impulsiona negócios e investimentos.

“Há um aumento substancial de redes de tráfico e de grupos criminosos disfarçados de agências de turismo, que vendem pacotes muito específicos para pessoas desesperadas que estão fugindo de perseguições, da violência generalizada em seus países ou em busca de uma vida mais digna para suas famílias. Alguns chegam a prometer pacotes com três tentativas, caso as pessoas sejam deportadas”.

Vala comum com corpos enrolados em sacos brancos
Uma equipe forense enterra um grupo de 15 migrantes que morreram tentando atravessar a selva de Darién. Foto: Arnulfo Franco/AP/picture Alliance

Além disso, nas redes sociais, a selva de Darién é muitas vezes mostrada como uma rota simples – o que definitivamente não é o caso. Até hoje, não existem rodovias na região, por exemplo.

“Darién é uma selva, é perigosa, há também grupos criminosos lá dentro, que estupram, matam e roubam”, explica.

O ACNUR tenta combater a desinformações com projetos nas redes sociais como o Confia no Tucán ,  que fornece dados selecionados e confiáveis. Além disso, o alto comissariado da ONU monitora a situação e oferece testemunhos reais de pessoas que fizeram a travessia.

Um terço das pessoas que atravessaram o local em agosto de 2023 relatando ter sido vítimas de abuso, maus-tratos, roubo ou fraude.

“Estamos falando de 31% de 82 mil pessoas. Elas perderam tudo, documentos, telefones celulares, todos os recursos econômicos. Há muitas mulheres que foram estupradas, há pessoas que morreram”, conta Loureiro.

Ela explica que muitas pessoas também são afetadas psicologicamente pela experiência traumática de ver corpos pela estrada, embora não haja estimativas concretas de quantas pessoas perderam a vida durante uma viagem.

“As pessoas com quem conversamos dizendo ter visto entre um e 15 corpos ao longo do caminho. Aqueles que não viram corpos, sentiram o cheiro”, diz um representante do ACNUR, destacando o relato de uma mulher “que não conseguiu se esquecer do cheiro “dos corpos.

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