Breve registro do encontro em que corporações e fundos privados debateram, com o banco público brasileiro e integrantes dos governos Lula e Bolsonaro, formas de privatizar as águas do país. Quem terá estacionado os carros?
Por: Marcos Montenegro
Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram
Prá me convencer
A pagar sem ver
(Cazuza)
Tendo o BNDES como “co-host”, ocorreu em São Paulo, em 10 de setembro, uma notória tertúlia privatista, organizada pelo GRI Club, promotor de eventos sobre negócios de infraestrutura.
O site do evento informava que no encontro seriam abordados os projetos do novo ciclo de estruturação do BNDES, bem como as formas de aporte financeiro disponíveis, reforçando a continuidade do apoio do banco à agenda de concessão do saneamento básico no Brasil a operadores privavos.
Mais um evento, em que, a pretexto de promover a “universalização” dos serviços, o capital discute os caminhos da privatização. A primeira sessão foi coordenada por Luciana Costa, Director of Infrastructure, Energy Transition and Climate Change (assim mesmo, em inglês) do BNDES e contou com Leonardo Picciani, Secretário Nacional de Saneamento Ambiental e com Manoel Machado Filho, Secretário Adjunto de Infraestrutura Social e Urbana, do PPI – Programa de Parcerias de Investimentos.
Nas demais mesas que reuniram outros quatro gerentes do BNDES, participaram representes do Banco do Nordeste, do IDB, vulgo BID ou Banco Interamericano de Desenvolvimento, do Itaú BBA S.A e do Santander. Contribuíram também com os debates sobre a “universalização” dirigentes da Aegea, maior grupo controlador de concessionárias privadas de água e esgoto no país e da Águas do Brasil, holding de concessionárias privadas de 32 municípios.
A Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon – Sindcon), compareceu com Christianne Dias Ferreira, sua Diretora-Executiva e ex-presidente da ANA no governo Bolsonaro. O Instituto Trata Brasil, presença indispensável em celebrações como essa, foi representado por sua “CEO” Luana Pretto.
Pedro Maranhão, ex-Secretário Nacional de Saneamento do governo Bolsonaro, representou os interesses das empresas privadas que atuam na gestão de resíduos sólidos como Diretor Presidente da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente – ABREMA. Figura em evidência no processo de privatização da Sabesp, Karla Bertocco Trindade, participou como “Independent Board Member” da Orizon Valorização de Resíduos. Tarcila Jordão, Diretora de Desenvolvimento de Concessões e PPPs representou o Grupo Solví (R$ 2,22 bilhões de faturamento em 2023), com negócios no Brasil e em outros países da América Latina.
A Vinci Partners, empresa de fundos de investimentos que se define como uma plataforma de investimentos alternativos de atuação global, marcou presença por meio do seu “Infrastructure Principal”, Gustavo Valente.
Bancas de advocacia de negócios também tiveram oportunidade de contribuir para “uma sociedade mais justa, promovendo a preservação ambiental, redução de doenças e o desenvolvimento econômico sustentável, além de diminuir as desigualdades sociais” como destaca a abertura do site do evento. Tudo propiciado pela pujança do capital privado.
Ausentes a ASSEMAE, AESBE, ABES e as entidades municipalistas. Nem qualquer entidade dos trabalhadores urbanitários. Terão sido convidadas para este supimpa convescote?
A ausência de representantes dos moradores das comunidades e vilas e dos povos das águas, do campo e das florestas não foi sequer percebida apesar do muito que se falou em nome deles. Talvez tenham, como dizia o Cazuza, ficado na porta estacionando os carros.
Veja em: https://outraspalavras.net/crise-brasileira/agua-o-bndes-no-festim-dos-privatistas/
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