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Brasileiros nos EUA preferem Harris, mas Trump ganha terreno

Pesquisa indica liderança da democrata na comunidade brasileira, mas mostra aumento do conservadorismo. A DW conversou com eleitores para saber como pensam.

Por: Alexandra Bicca de Washington | Crédito Foto: Matt Bishop/Sipa USA/Charlie Neibergall/AP/Picture Alliance. Cerca de 103 mil brasileiros estão aptos a votar nos EUA

Nos últimos anos, as eleições americanas vem sendo decididas por poucos milhares de votos em alguns estados decisivos. Assim, nem a democrata Kamala Harris nem o republicano Donald Trump podem abrir mão dos cerca de 103 mil eleitores brasileiros com dupla cidadania, em uma comunidade estimada em mais de 2 milhões de brasileiros nos EUA. Nesse grupo, a democrata lidera, segundo pesquisas, embora os republicanos tenham ganhado mais espaço ao longo dos anos.

“A maioria dos brasileiros com poder de voto nos EUA ainda é democrata, mas a cada eleição vemos um aumento do número de eleitores republicanos”, afirma Mauricio Moura, fundador do Ideia, instituto de pesquisa que desde 2016 analisa a intenção de voto de brasileiros com dupla cidadania nos EUA.

Segundo pesquisa do Idea realizada entre 6 e 12 de outubro com 802 brasileiros, 60% deles disseram que votariam em Harris, contra 35% em Trump. Outros 2% escolheram outros candidatos, e 3% se indicaram como indecisos.

“Nos três ciclos eleitorais, Trump avançou no percentual de brasileiros dizendo que iam votar nele. Desde 2016 ele praticamente dobrou sua intenção nesse grupo. O segundo ponto da pesquisa é a sensação desse grupo: em 2016 os brasileiros disseram que ele ia ganhar, em 2020 apontaram Biden como vencedor, e agora indicam que Kamala será eleita”, afirma Moura.

Maurício Moura
“A maioria dos brasileiros com poder de voto nos EUA ainda é democrata”, diz Maurício Moura, fundador do instituto Ideia. Foto: Arquivo Pessoal

Essa volatilidade do voto brasileiro é, em geral, vista também em outras comunidades de imigrantes. Nestas eleições em que cada voto conta, Harris e Trump, cada vez mais, buscam estratégias específicas para determinados grupos sociais. No entanto, não há uma estratégia voltada para os eleitores brasileiros com dupla cidadania, pois eles estão principalmente em Massachusetts, Nova York/Nova Jersey e na Flórida – estados que não tendem a ser decisivos.

Avanço do conservadorismo

Mas o que tem levado mais brasileiros a se inclinarem a favor dos republicanos? Embora Moura veja a visão mais receptiva dos imigrantes como uma força eleitoral dos democratas entre os brasileiros, o discurso de Trump contra os “ilegais” ganha força entre quem tem dupla cidadania, ou seja, está legalmente nos EUA.

“Eu vivo aqui há 34 anos e eu não vim como muitos, talvez a maioria, que vêm como turista ou vêm pelo México, infringindo a lei, que é como entrar na sua casa como ladrão”, declarou Sandra, morada de Newark, em Nova Jersey, desde 1990,e  que preferiu não divulgar seu nome completo.

Ela diz ter sentido uma piora no cenário de imigração nos últimos quatro anos e, em sua opinião, foi graças a Trump que os chamados indocumentados conseguiram tirar carteira de motorista em Nova Jersey e Nova York, porque a medida foi uma reação de governadores democratas ao republicano quando ele presidiu os EUA.

Vivendo no país há 27 anos e hoje trabalhando em uma instituição que dá suporte a imigrantes em Massachusetts, Lidia Souza confirma o avanço do conservadorismo entre os eleitores brasileiros. Ela diz que é preciso aprofundar a análise para compreender por que “depois que passam a ter documento, imigrantes  passam a ser republicanos ferrenhos”.

Lidia Souza
Lidia Souza, que vive há 27 anos nos Estados Unidos, confirma o avanço do conservadorismo entre eleitores brasileiros. Foto: Arquivo Pessoal

Muitas vezes, a insatisfação com os últimos quatro anos de governo também dá o tom nas escolhas. Souza conta que o filho mais novo, que votará pela primeira vez nestas eleições, chegou a dizer que pensava em optar por Trump. Ela avalia que os mais novos são gerações mais integradas aos americanos e que isso acaba impactando nessa escolha, fazendo com que deixem de lado a reflexão sobre a origem da família. Ela conversou com o filho, lembrando que a casa era toda azul – cor dos democratas.

“Estou falando de um menino de 18 anos que está votando pela primeira vez. Cheguei para ele e falei: ‘Qual é a tua origem? Você é o quê? Você nasceu aqui? Sim, mas os seus pais, a sua família, são de onde? Você acha que os imigrantes são tudo isso que ele [Trump] acaba de falar na televisão?'”, conta ela, que afirma que, ao final, o filho acabou declarando voto na democrata.

 

 

Publicado originalmente em: https://www.dw.com/pt-br/brasileiros-nos-eua-preferem-kamala-harris-mas-trump-ganha-terreno/a-70664940

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