Na época geológica chamada por alguns de Antropoceno, os humanos são o asteroide. Em torno de 30% das espécies conhecidas estão ameaçadas.
Por: Michel Penke | Crédito Foto: Nick Garbutt/OKAPIA/picture-alliance. Destruição do habitat do lêmure de Madagascar para extração de madeira pode resultar na extinção do animal
Pesquisadores encontraram pela última vez o minúsculo e esplêndido sapo venenoso vermelho-escuro nas úmidas florestas de planície do oeste do Panamá há cinco anos. Desde então, o pequeno anfíbio se juntou a animais como o sapo-de-Wyoming e o corvo-do-Havaí na crescente lista de espécies que desapareceram na natureza.
Em torno de 30% das espécies de plantas e animais catalogadas pelos biólogos estão ameaçadas de extinção por riscos como a falta de alimentos causada pela destruição de seus habitats pelos humanos, envenenamento com pesticidas ou pela caça por lucro ou diversão.
A última vez que a Terra enfrentou uma extinção em massa da flora e da fauna tão rápida foi há 66 milhões de anos, quando um meteoro enorme atingiu o planeta. O impacto pôs fim à era dos dinossauros e eliminou 75% de todas as espécies da Terra.
Na época geológica chamada por alguns de Antropoceno, os humanos são o asteroide. A taxa anual de extinção natural é de dez a 100 espécies por ano. A atividade humana eleva esse número para cerca de 27 mil por ano. Só o desmatamento da Amazônia, reserva de biodiversidade que abriga entre 15% e 20% da flora e fauna de todo o planeta, poderia resultar no desaparecimento de 10 mil espécies no Brasil.
Anfíbios, insetos, répteis e peixes desaparecem em um ritmo cada vez maior. A extinção de espécies faz com que os ecossistemas percam estabilidade e, por fim, entrem em colapso, o que gera graves consequências aos humanos. A diminuição dos polinizadores, por exemplo, diminuiu a produção de frutas, vegetais e nozes, ao mesmo tempo em que o decréscimo das populações de animais e peixes significa a perda de fontes de proteínas.
Medidas de conservação, leis ambientais, criadouros e reservas naturais ajudaram a reverter o declínio de algumas espécies. Mas essa recuperação não é suficiente para compensar os acelerados índices globais de extinção, com cada vez mais espécies ameaçadas.
Morte de animais em criadouros
As medidas de conservação podem fracassar se a abordagem não for correta. Um exemplo é o lêmure de Madagascar. Um estudo de 2019 encontrou 87 indivíduos, afirmou Edward Louis, diretor da ONG Madagascar Biodiversity Partnership. Ele dedicou 25 anos de sua vida à conservação desses primatas de olhos esbugalhados.
As tentativas de capturar e reproduzir esses animais simplesmente não funcionaram, contou Louis. “Quando os tiramos da natureza, sua flora bacteriana muda, e eles, infelizmente, morrem depois de oito ou dez dias.”
O principal problema para o lêmure é a destruição da floresta, seu habitat natural, pela população local que precisa de carvão para cozinhar. É por isso que os conservacionistas tentam encontrar atualmente uma fonte alternativa de combustível para atrair moradores locais para proteção do habitat desses animais.
A aceitação local é crucial para o êxito da conservação, afirma Magnus J.K. Wessel, do grupo ambientalista alemão Bund. “Em locais onde as pessoas valorizam as espécies de animais para sua autoidentificação, assim como de sua região, e se beneficiam financeiramente disso, as coisas mudam”, disse Wessel. “Pode-se ver isso claramente com os tigres nos parques nacionais da Índia, mesmo se tratando de um animal muito perigoso”.
O número de tigres na Índia aumentou de 1.400 animais há 17 anos para 3.600 nos dias atuais, graças às áreas protegidas, à luta contra os caçadores ilegais e a investimentos de 2,1 bilhões de dólares na última década. As comunidades passaram a enxergar o valor de proteger os felinos e, ao mesmo tempo, se beneficiam do turismo.
A população de tigres ainda está longe dos 100 mil animais que viviam no país nos anos 1900, mas os ambientalistas consideram o aumento atual um sucesso.
Mesmo assim, não há garantias de que os números continuarão a aumentar. Além disso, mesmo as medidas mais bem intencionadas podem gerar efeitos desastrosos. “Devemos ser honestos e encarar as incertezas”, disse o ambientalista.
Nos anos 1990, a ONG ambientalista WWF realizou uma campanha para pôr fim à caça aos rinocerontes para a extração dos chifres que são utilizados na medicina chinesa. Em vez disso, a WWF sugeriu a utilização de chifres dos antílopes saiga. Como resultado, a população desses antílopes diminuiu 97%.
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