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Como a China tem avançado sobre domínio da indústria alemã

A indústria automotiva é o exemplo mais emblemático, mas o investimento chinês em outros setores exportadores, como de tecnologia limpa e engenharia mecânica, também contribui para a estagnação industrial da Alemanha.

Por: Nik Martin | Crédito Foto: TANG KE/Photoshot/picture alliance. As indústrias exportadoras da Alemanha estão enfrentando intensa concorrência dos rivais chineses em setores como o de produtos químicos

A espinha dorsal da indústria alemã enfrenta um desafio sem precedentes. O país, que já foi líder em manufatura de alta qualidade, sente os efeitos de cinco anos de declínio na produção industrial, como a ameaça de perder 5,5 milhões de empregos e 20% do seu PIB, de acordo com relatório recente do Centro para Reforma Europeia, think tank com sede em Londres.

invasão da Ucrânia por Moscou forçou a Alemanha a reduzir sua dependência do petróleo e do gás russos, fazendo com que os preços da energia disparassem, o que prejudicou gravemente setores industriais como o químico e o siderúrgico. Além disso, as interrupções na cadeia de suprimentos pós-pandemia reduziram a demanda por exportações alemãs, aponta o documento.

Outro fator a ser considerado é a rápida mudança da China de manufatura de baixo valor para setores inovadores e de alta tecnologia, impulsionada pela chamada estratégia “Made in China 2025” do Partido Comunista, que visa alcançar a liderança global em manufatura e tecnologia avançadas.

Avanço chinês

A Alemanha não foi afetada pela explosão de crescimento inicial da China, no início dos anos 2000, que se concentrou em produtos eletrônicos de baixa tecnologia, eletrodomésticos e têxteis. Agora, a política industrial de Pequim tem se concentrado em setores caros à indústria alemã, incluindo automotivo, de tecnologia limpa e engenharia mecânica.

“A China alcançou vários setores avançados… ela é muito forte nessas áreas… e isso está contribuindo para o fraco desempenho de crescimento da Alemanha”, disse à DW Holger Görg, chefe do grupo de pesquisa de Comércio Internacional e Investimento do Instituto Alemão para a Economia Mundial (IfW-Kiel).

A velocidade com que a China alcançou a Alemanha talvez seja mais evidente no setor automobilístico. As montadoras alemãs têm sido criticadas pela falta de inovação, pela transição lenta para os veículos elétricos e por não preverem a concorrência feroz de marcas chinesas como a SAIC Motor e a BYD. Esses problemas levaram a ameaças de dezenas de milhares de demissões e fechamento de fábricas nacionais.

Funcionários trabalham em fábrica chinesa
Antes dependentes da engenharia alemã, as empresas chinesas agora têm alternativas tecnológicas próprias. Foto: CFOTO/NurPhoto/IMAGO Images

Setores químico e de engenharia alemães sob pressão

No entanto, tem havido menos consciência da crescente ameaça da China em outros setores econômicos. Os gigantes chineses do setor químico, por exemplo, aumentaram significativamente sua produção nos últimos anos, especialmente em polietileno e polipropileno, levando a um excesso de oferta global que reduziu as margens de lucro dos produtores alemães, como a Basf.

Mesmo na União Europeia, um mercado importante para a Alemanha, a China aumentou sua participação nas exportações de produtos químicos na década, até 2023, em 60%, enquanto a participação da Alemanha caiu mais de 14%, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Handelsblatt.

O setor de engenharia mecânica da Alemanha, conhecido por sua precisão e qualidade, também está enfrentando forte concorrência dos rivais chineses. Enquanto a participação de mercado da Alemanha nas exportações de maquinário industrial diminuiu ligeiramente para 15,2% de 2013 a 2023, a participação da China pulou de 14,3% para 22,1%.

Subsídios bilionários

A política da China de subsidiar fortemente setores da sua indústria permite que seus fabricantes produzam numa escala e a um custo que as empresas ocidentais não alcançam.

Uma estimativa conservadora concluiu que os subsídios industriais da China em 2019 totalizaram cerca de 221 bilhões de euros (aproximadamente R$ 1,3 trilhão). Um relatório de 2022 do Fundo Monetário Internacional (FMI) constatou que a maioria dos subsídios de Pequim foi direcionada aos setores de produtos químicos, automotivo, de maquinário e de metais.

Claudia Barkowsky, diretora administrativa para a China da Federação Alemã de Engenharia (VDMA), disse ao jornal alemão Handelsblatt na semana passada que as empresas alemãs de engenharia mecânica terão cada vez mais dificuldades para competir, pois seus rivais chineses oferecem preços significativamente mais baixos, “às vezes 50%, ou até mais baratos”.

Uma pesquisa da Câmara de Comércio Alemã na China (AHK) constatou que mais da metade das empresas alemãs que operam na China espera que seus concorrentes chineses se tornem líderes em inovação em seus setores nos próximos cinco anos.

 

 

Publicado originalmente em: https://www.dw.com/pt-br/como-a-china-tem-avan%C3%A7ado-sobre-dom%C3%ADnio-da-ind%C3%BAstria-alem%C3%A3/a-71974283

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