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Como saída dos EUA do Acordo de Paris impacta o mundo

Estados Unidos são segundo maior emissor de gases de efeito estufa do planeta. Decisão de Trump, porém, não inviabiliza o tratado, garantem especialistas.

Por: Louise Osborne | Crédito Foto: Mike Segar/REUTERS. Donald Trump voltou a retirar os EUA do Acordo de Paris, como havia feito em seu primeiro mandato

O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou nesta segunda-feira (20/01) uma ordem executiva para retirar os Estados Unidos, o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, do histórico Acordo de Paris pela segunda vez.

A medida coloca os EUA entre um pequeno número de países, incluindo Irã e Iêmen, que não fazem parte do pacto internacional, que convoca os governos a tomarem ações para limitar o aumento da temperatura global a 2 ºC acima dos níveis pré-industriais e a perseguirem esforços para manter as temperaturas abaixo de 1,5 ºC para evitar os piores impactos da crise climática.

“Estou imediatamente me retirando do injusto e unilateral golpe climático de Paris”, disse o novo presidente ao assinar a ordem em Washington, pouco após sua posse. “Os Estados Unidos não irão sabotar nossas próprias indústrias enquanto a China polui impunemente.”

O ministério das Relações Exteriores da China respondeu imediatamente, expressando preocupação sobre a retirada dos EUA e disse que o país responderá ativamente às mudanças climáticas e promoverá conjuntamente a transição global para uma economia de baixo carbono.

Sozinha, a China é responsável por cerca de um terço das emissões globais de gases de efeito estufa, contribuindo com 32% das emissões. Os Estados Unidos emitem 13,6%, seguidos pela União Europeia, segundo o Climate Watch.

Foco em petróleo e gás

Durante seu discurso inaugural, Trump reafirmou suas promessas de campanha de investir nas reservas de petróleo e gás americanas.

Por semanas, Trump vinha prometendo assinar uma série de ordens executivas em seus primeiros dias no cargo, muitas delas visando o que ele chamou repetidamente de “fraude do novo acordo verde”. Uma de suas primeiras ações foi suspender novas concessões de energia eólica offshore. No passado, Trump se opôs a este tipo de produção de energia – um mercado em rápido crescimento nos EUA – chamando as turbinas de “um desastre econômico e ambiental”.

Espera-se que o novo presidente também se desfaça de algumas ou todas as políticas climáticas implementadas por seu antecessor, Joe Biden, incluindo partes da Lei de Redução da Inflação de 2022 (IRA). A IRA tem como objetivo aumentar a energia renovável, os empregos verdes e combater as mudanças climáticas.

Os EUA também saíram do Acordo de Paris no primeiro mandato de Trump, mas Biden reverteu essa decisão quando assumiu o cargo em 2021.

 

“Sinal para outros reduzirem compromissos”

Uma retirada dos EUA do Acordo de Paris removeria a obrigação do país de reduzir suas emissões, alertou Laura Schäfer, da ONG ambiental e de direitos humanos Germanwatch.

“Nesta década crucial para a ação climática, isso é, claro, devastador”, disse ela. “Isso poderia ser um sinal para outros países reduzirem seu compromisso com a mitigação climática. Poderia diminuir a pressão sobre outros grandes emissores como a China. As emissões dos EUA desempenham um papel importante na questão de se conseguiremos manter o aquecimento global abaixo de 2 graus e 1,5 grau”, afirmou.

Cientistas dizem que a janela para manter o aquecimento global abaixo de 1,5 °C está se fechando, com tempertaturas médias globais já atingindo este teto.

Sob o Acordo de Paris, os países são obrigados a registrar suas emissões e apresentar metas de redução a cada cinco anos, com a próxima rodada prevista para ser apresentada antes do início de fevereiro, em preparação para a conferência climática COP30, que ocorrerá em Belém, no Brasil, em novembro de 2025.

A administração do ex-presidente Joe Biden apresentou as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) dos EUA em dezembro. Elas delinearam compromissos para reduzir as emissões líquidas entre 61% e 66% até 2035, em comparação com os níveis de 2005.

“Sair de Paris essencialmente remove de fato a NDC”, disse David Waskow, diretor da Iniciativa Climática Internacional no World Resources Institute, com sede nos EUA.

“O importante sobre a NDC e o que a administração Biden fez é que ela estabelece uma marca, uma estrela-guia, para o que os Estados Unidos precisam fazer em relação às mudanças climáticas. Então, essa redução realmente estabelece um efeito de sinalização claro, um farol para o que precisa ser feito pelas cidades e estados dos EUA”, afirmou.

Parque de moinhos de vento
Presidente dos EUA, Donald Trump, ataca energia renovável e promete investir em gás e petróleo. Foto: ROBIN UTRECHT/picture alliance

Quem vai liderar os esforços climáticos nos EUA?

Durante o primeiro mandato de Trump, mais de 4 mil governadores, prefeitos e líderes empresariais de todo os EUA prometeram manter os compromissos do país sob o Acordo de Paris por meio da coalizão “We Are Still In”.

Após a vitória de Trump nas eleições de 2024, alguns líderes renovaram seu interesse de continuar com a redução de emissões como parte da US Climate Alliance, que afirma ter como objetivo trabalhar por um futuro de emissões líquidas zero.

Waskow entende que as cláusulas dentro da IRA dificultarão que Trump revogue toda a lei, especialmente porque os estados republicanos estão recebendo uma parte dos créditos fiscais e incentivos para projetos de energia limpa e veículos elétricos.

“Pode haver alguns ajustes nas margens, mas acho que a lei pode permanecer intacta. E, em termos de como os outros países internacionalmente reagirão a isso, acho que é importante olhar além do espetáculo de palco de Trump e ver o que está realmente acontecendo na prática”, disse Waskow à DW.

Ainda assim, uma análise do veículo especializado britânico Carbon Brief sugere que o mandato de quatro anos de Trump poderia resultar em 4 bilhões de toneladas métricas a mais em emissões de dióxido de carbono lançado na atmosfera até 2030, caso o novo presidente revogue completamente a IRA. Isso é equivalente às emissões anuais combinadas da União Europeia e do Japão.

“Isso deixa claro que esperamos muito mais emissões dos EUA em comparação com o que Joe Biden havia planejado”, disse Schäfer.

Produção de gás natural no Texas
Produção de gás natural no Texas: medidas climáticas de Biden, incluindo a Lei de Redução da Inflação, estão na mira de Trump. Foto: Joe Raedle/Getty Images

Haverá um impacto econômico para os EUA?

Reverter as medidas climáticas pode ter um impacto na economia dos EUA, considerando o crescente investimento global em energia verde em comparação com os combustíveis fósseis.

O investimento global em energia em 2024 deve ultrapassar 3 trilhões de dólares (R$ 18 trilhões), segundo um relatório da Agência Internacional de Energia, com dois terços desse valor indo para tecnologias limpas como energias renováveis e veículos elétricos, além de outras energias como a nuclear, contra um terço investido em carvão, gás e petróleo.

Li Shuo, especialista em energia no Asia Society Policy Institute, disse que a retirada dos EUA impactaria a capacidade do país de competir com a China nos mercados de energia limpa, como solar e veículos elétricos.

“A China tem tudo a ganhar, e os EUA correm o risco de ficar ainda mais para trás”, disse ele.

Próximos passos para uma retirada

Apesar da ação rápida de Trump para retirar os EUA do Acordo de Paris, o país terá que esperar um ano após o recebimento da notificação de retirada para que ela se torne oficial. Isso significa que os EUA ainda compõem o grupo quando a próxima conferência climática COP acontecer.

Ainda não está claro se o governo americano de fato participará da cúpula, mas terá um papel diminuído. Especialistas dizem que a UE e o maior emissor mundial, a China, podem estar prestes a fortalecer sua liderança nas negociações.

Para Waskow, o acordo internacional permanece relevante, mesmo sem os EUA, pois quase 90% das emissões globais “estão representadas nesse acordo global, então ele é extremamente importante”.

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