Presidente dos EUA defendeu peso de sua economia sobre países latino- americanos e reforçou críticas contra plano do Brics de substituir o dólar no comércio internacional.
Crédito Foto: Mike Segar/REUTERS. Trump assinou decretos que impactam o Brasil, como a saída dos EUA do Acordo de Paris
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (20/01) que o Brasil e os demais países da América Latina são mais dependentes da economia americana do que o contrário.
Questionado como seria sua relação com o governo brasileiro e com os países latino-americanos nos próximos quatro anos, o republicano disse que “a relação é excelente”: “Eles precisam de nós, muito mais do que nós precisamos deles. Não precisamos deles. Eles precisam de nós. Todo mundo precisa de nós”, continuou em coletiva de imprensa em seu primeiro dia de governo.
A declaração é feita em meio à disputa entre EUA e países emergentes sobre o modelo de transações financeiras internacionais, hoje dependente do dólar. Do lado do Brics, o Brasil lidera uma discussão sobre uso de moedas alternativas no comércio internacional, a fim de diminuir a dependência do dólar. “Não há como fazer isso, vão desistir”, disse Trump.
Em novembro, o republicano já havia alertado que avalia impor tarifas de 100% aos países que compõem o Brics, entre eles o Brasil, se a proposta de substituição da moeda americana avançar.
Nova fase da relação Brasil-EUA
Apesar de reforçar que quer manter boas relações com países latino-americanos, a declaração indica que o patamar de normalidade diplomática estabelecido entre Brasília e Washington durante o atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve passar por um novo momento sob a nova gestão da Casa Branca.
Em publicação nas redes sociais antes da fala de Trump, por exemplo, Lula reforçou que “as relações entre o Brasil e os EUA são marcadas por uma trajetória de cooperação, fundamentada no respeito mútuo e numa amizade histórica”, dizendo-se “certo de que podemos seguir avançando nessas e outras parcerias”.
Na segunda-feira, durante reunião ministerial na Granja do Torto, Lula também defendeu a paz com os EUA: “Da nossa parte, não queremos briga. Nem com a Venezuela, nem com os americanos, nem com a China, nem com a Índia e nem com a Rússia.”
Desde que assumiu o Palácio do Planalto, em janeiro de 2023, o presidente brasileiro atuou para aproximar o Brasil dos EUA em temas como o combate às mudanças climáticas, a proteção de trabalhadores e a transição verde, todos discutidos pessoalmente entre o petista e o ex-presidente dos EUA, Joe Biden.
A relação também foi marcada por divergências. O brasileiro criticou diversas vezes a ingerência americana na guerra da Ucrânia, por exemplo, e endossou as discussões em fóruns multilaterais para diminuir o poder do dólar como moeda internacional.
O diálogo entre os países ainda se manteve constante mesmo com os embates, seguindo uma tradição diplomática brasileira de cordialidade estabelecida entre Palácio do Planalto e a Casa Branca. Numa de suas últimas viagens internacionais antes de deixar o presidência, Joe Biden chegou a visitar Manaus e anunciar medidas de apoio financeiro para a preservação da Amazônia.
Esse diálogo entre o Palácio do Planalto e a Casa Branca foi retomado no governo do petista após a política externa brasileira passar por um alinhamento automático aos EUA, sob o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Entusiasta de Trump, Bolsonaro adotou uma estratégia de viés personalista na relação entre os dois países no período em que o mandato do brasileiro coincidiu com o do magnata nova-iorquino.
Saída do Acordo de Paris impacta o Brasil
Em seu primeiro dia de governo, Trump assinou uma série de atos que desmantelam medidas de seu antecessor, o democrata Biden. Ele voltou a retirar os EUA do Acordo de Paris, que convoca os governos a tomarem ações para limitar o aumento da temperatura global, a fim de mitigar os impactos das mudanças climáticas. O país é o segundo maior emissor de gases do efeito estufa do mundo, atrás apenas da China.
A decisão do republicano afeta diretamente o Brasil, presidente da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, a se realizar em Belém em novembro, uma vez que o Acordo obriga os países a apresentarem suas metas de redução de emissões a cada cinco anos.
A próxima rodada de relatórios está prevista para fevereiro de 2025, e é tomada como um termômetro de preparação para a COP. O desinteresse americano pode ser ecoado por outros signatários.
Além disso, a medida de Trump indicaria que os EUA terão um papel menor na conferência, o que pode esvaziar o evento e minar as decisões tomadas pelos participantes.
A presença ativa dos americanos nas negociações é considerada fundamental para o Brasil e outros países em desenvolvimento, que pressionam as nações mais desenvolvidas, como os EUA, a adotarem políticas de financiamento mais incisivas para combater o aquecimento global.
Publicado originalmente em: https://www.dw.com/pt-br/trump-diz-que-eua-n%C3%A3o-precisam-do-brasil-e-critica-brics/a-71366231
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