Crédito Foto: Getty Images. Aço brasileiro deve ser um dos mais afetados por medidas anunciadas por Trump
O presidente americano, Donald Trump, prometeu impor tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio para os Estados Unidos.
“Qualquer aço que entrar nos Estados Unidos terá uma tarifa de 25%“, afirmou Trump a repórteres no avião presidencial Air Force One.
Detalhes do plano de Trump ainda não foram anunciados — prevê-se que isso seja divulgado ainda esta semana.
Mas já é possível antecipar que o Brasil será um dos países mais atingidos pelas tarifas.
Tarifas são usadas como barreiras comerciais pelos países. Ao cobrá-las, o governo desestimula importações ao encarecer produtos importados em relação aos produtos nacionais.
Além disso, o encarecimento pode ter o efeito de esfriar a demanda pelos produtos.
O principal afetado pelas medidas é o Canadá — que é a maior fonte de aço e alumínio importados pelos EUA. Mas Brasil, México e Coreia do Sul também são grandes fornecedores de aço aos EUA.
Em 2024, de acordo com o Departamento de Comércio dos EUA, o Canadá exportou 6 milhões de toneladas para os EUA.
Em seguida, vem o Brasil com 4,1 milhões de toneladas e depois o México, que enviou 3,2 milhões de toneladas de aço para os EUA no ano passado.
O Brasil é o nono maior produtor de aço bruto do mundo, atrás de China, Índia, Japão, EUA, Rússia, Coreia do Sul, Alemanha e Turquia.
Os EUA são, de longe, o maior mercado para produtos siderúrgicos do Brasil. O Brasil exporta para os EUA 12 vezes mais do que para a Europa e 6 vezes mais do que para a América Latina.

Já em relação ao alumínio, outro produto alvo de tarifas anunciadas por Trump, o Brasil é o 14º maior fornecedor para os EUA, segundo dados do departamento de Comércio dos EUA.
O próprio Brasil também pratica protecionismo no setor do aço. Em outubro, após mais de um ano de análise, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) elevou para 25% o imposto de importação para 11 tipos de produtos de ferro e de aço. Antes disso, esses produtos pagam de 10,8% a 14% para entrarem no país.
O pedido foi feito pelo Sindicato Nacional da Indústria de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos (Sicetel) que acusava “concorrência desleal dos produtos importados”.
Reações
Ainda não houve manifestação oficial do Brasil — seja do governo federal ou das indústrias afetadas.
A União Europeia disse que não recebeu nenhuma notificação oficial de novas tarifas dos Estados Unidos.
Em uma declaração, a Comissão Europeia disse que não vê “nenhuma justificativa” para essas tarifas sobre suas exportações e acrescentou: “Reagiremos para proteger os interesses das empresas, trabalhadores e consumidores europeus de medidas injustificadas”.
“A imposição de tarifas seria ilegal e economicamente contraproducente, especialmente dadas as cadeias de produção profundamente integradas que a UE e os EUA estabeleceram por meio do comércio e investimento transatlântico. Tarifas são essencialmente impostos”, diz a nota da União Europeia.
“Ao impor tarifas, os EUA estariam taxando seus próprios cidadãos, aumentando os custos para os negócios e alimentando a inflação. Além disso, as tarifas aumentam a incerteza econômica e interrompem a eficiência e a integração dos mercados globais.”
Especialistas acreditam que as remessas de aço e alumínio da UE para os EUA já devem enfrentar um aumento nas tarifas no final de março.
Isso porque há pouco mais de um ano o então presidente Joe Biden concordou com um acordo para suspender as tarifas que foram impostas no primeiro mandato de Trump — mas isso está prestes a acabar.
Na Europa, tarifas sobre diversos outros produtos dos EUA, como motocicletas Harley Davidson, jeans e bourbon, voltarão a entrar em vigor.
O Ministério das Relações Exteriores da China pediu nesta segunda-feira que os EUA “corrijam sua abordagem errônea e parem de politizar e transformar questões econômicas e comerciais em armas” e fez um apelo por mais diálogo.
Duas ameaças de Trump; dois recuos
O aço e o alumínio brasileiro já estiveram ameaçados com grandes tarifas por Trump em duas ocasiões — e em ambas elas acabaram não sendo aplicadas.
Em março de 2018, no começo de seu primeiro mandato como presidente, Trump anunciou alíquotas de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio que são comprados pelos EUA de outros países.
A medida teria grande impacto para a indústria brasileira, já que os EUA são os maiores compradores do aço produzido no Brasil.
Mas, dias depois, Trump assinou um novo decreto isentando Argentina, Austrália, Brasil, União Europeia e Coreia do Sul da nova regra. As taxas voltaram a 0,9%, para o aço e 2% para o alumínio.
Em dezembro de 2019, Trump voltou a falar em aumento de tarifas para o aço e alumínio — tendo Brasil e Argentina como alvos principais. Ele atribuiu a decisão à desvalorização do real e do peso argentino em relação ao dólar.
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“Brasil e Argentina estão promovendo desvalorização em massa de suas moedas, algo ruim para os nossos fazendeiros. Portanto, tendo efeito imediato, vou restaurar as tarifas sobre aço e alumínio que são importados aos Estados Unidos desses países”, escreveu Trump em sua conta no Twitter (atual X).
A jornalistas, Trump disse na época: “Se você olhar o que aconteceu com o câmbio deles, eles desvalorizaram o seu câmbio de modo substancial, em 10%. A Argentina também. Eu havia dado a eles um grande alívio tarifário, mas agora eu estou retirando isso. É muito injusto com a nossa indústria, é muito injusto com nossos fazendeiros. Nossas companhias de aço vão ficar muito felizes, nossos fazendeiros vão ficar muito felizes com o que eu fiz”.
Dias depois, Trump conversou com o então presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e anunciou que havia desistido das tarifas ao aço brasileiro.
Após a conversa, Trump publicou no Twitter: “Acabo de ter uma ótima conversa com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Discutimos muitos assuntos de comércio. A relação entre Estados Unidos e Brasil nunca foi tão forte”.
Apesar das duas ameaças — em março de 2018 e dezembro de 2019 — os EUA nunca aplicaram a sobretaxa ao aço e alumínio brasileiros.
No segundo anúncio de Trump, a medida só foi prometida nas redes sociais. O decreto que regulamentaria as barreiras tarifárias nunca foi publicado pelo órgão responsável pelas relações comerciais americanas, o USTR.
Naquele momento, integrantes do governo Trump demonstraram perplexidade com a medida anunciada pelo republicano, que não havia sido previamente discutida com o Departamento de Estado ou com o de Comércio.
O gesto foi entendido como um aceno aos agricultores americanos, eleitorado cativo de Trump que acabou fortemente castigado pela guerra comercial com a China.
Por que tarifas?
Em sua última ameaça comercial, Trump não deixou claro por que escolheu aço e alumínio especificamente para tarifas — mas há pistas de seu primeiro mandato, segundo o repórter da BBC News, Jonathan Josephs.
Em março de 2018, Trump se reuniu com produtores americanos de aço e alumínio na Casa Branca para ouvir suas preocupações e anunciar novas tarifas. “Precisamos de grandes siderúrgicas, grandes fabricantes de alumínio para defesa.”
Ele também falou sobre a necessidade de proteger empregos e reequilibrar acordos comerciais que ele via como injustos. Os usos militares dos metais variam de navios de guerra e helicópteros a mísseis e munições.
Ao mesmo tempo, ele destacou a China por fornecer aço barato em excesso ao mundo, o que tornou difícil para os rivais dos EUA competirem em preço. É uma alegação que Pequim nega.
Publicado originalmente em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/czj3l484pd8o
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