Clipping

Entenda as “tarifas recíprocas” anunciadas por Trump

Presidente dos EUA quer igualar os impostos que outras nações aplicam às exportações de seu país. Medida cita etanol brasileiro e visa pressionar por negociações para redução de barreiras a produtos americanos.

Crédito Foto: IMAGO/Newscom / AdMedia. “O que um país faz os EUA pagarem, nós cobraremos o mesmo deles; nem mais, nem menos”, disse Trump da Casa Branca.

O presidente dos Estados UnidosDonald Trump, anunciou nesta quinta-feira (14/02) a imposição do que chamou de “tarifas recíprocas” aos países que taxam os produtos americanos, com o objetivo de igualar os impostos que essas nações aplicam às exportações dos EUA.

“Decidi que, por razões de justiça, vou impor tarifas recíprocas, o que significa que o que um país faz os EUA pagarem, nós cobraremos o mesmo deles; nem mais, nem menos”, disse Trump a repórteres no Salão Oval da Casa Branca.

As novas tarifas não entrarão em vigor imediatamente, mas dentro de “semanas” ou “meses”, e os primeiros a serem punidos serão aqueles com os maiores déficits comerciais com os EUA, disse um funcionário de alto cargo antes da assinatura do memorando.

“Todos se aproveitaram dos EUA e pagamos um preço alto por isso. Os EUA ajudaram muitos países ao longo dos anos a um grande custo financeiro. Agora é hora de esses países se lembrarem do que fizemos por eles e nos tratarem de forma justa”, enfatizou Trump.

Documento cita etanol brasileiro

A Casa Branca distribuiu um memorando listando países e produtos que estariam em condição “injusta” de comércio em relação aos americanos. O primeiro item dessa lista é o etanol brasileiro.

“A tarifa dos EUA em etanol é de meros 2,5% Já o Brasil cobra dos EUA tarifas de exportação de 18%. Como resultado, em 2024, os EUA importam mais de 200 milhões de dólares em etanol do Brasil enquanto os EUA exportaram apenas 52 milhões de dólares em etanol ao Brasil”, afirma o texto citando ainda produtos agrícolas da Índia e veículos e mariscos da União Europeia.

A medida pode impactar exportações de economias emergentes, como o Brasil. Na segunda-feira, Trump havia anunciado a imposição de tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio – o que deve impactar diretamente o Brasil, segundo maior exportador de aço aos EUA, atrás apenas do Canadá.

Outro dos principais alvos da medida é a União Europeia. Atualmente, os EUA taxam em 2,5% a importação de veículos europeus, como das alemãs Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz. Já a UE cobra impostos de 10% sobre os veículos vendidos pelos americanos. A reciprocidade poderia, então, acarretar uma quadruplicação da taxação dos automóveis europeus.

Neste seu segundo mandato, iniciado mês passado, Trump já ameaçou a Colômbia com a elevação de 25% nas tarifas de importação pelos EUA, mas depois recuou, após acordo sobre repatriação de migrantes ilegais colombianos.

Dias depois, assinou decreto sobretaxando importações de México e Canadá, mas dois dias mais tarde anunciou uma pausa de um mês na imposição da medida.

Trump também anunciou tarifas adicionais de 10% sobre todos os produtos da China ao que Pequim respondeu com tarifas de 15% sobre carvão e GNL (gás natural liquefeito) e 10% sobre o petróleo, além de máquinas agrícolas e veículos.

Trump e Modi, sentados, em aperto de mãos
Pouco após criticar tarifas da Índia, Trump recebeu Modi e previu “acordos comerciais maravilhosos”. Foto: Jim Watson/AFP/Getty Images

“Tratamento injusto”

Através dessas tarifas recíprocas, os Estados Unidos passariam a cobrar sobre importações estrangeiras o mesmo percentual de taxas que os países aplicam sobre produtos americanos.

O documento assinado por Trump cita duas áreas que, segundo ele, levaram a um tratamento “injusto” dos EUA no comércio internacional: tarifas impostas por outros países sobre as exportações dos EUA e as chamadas “barreiras não tarifárias”, que vão desde regulamentações até taxas de câmbio.

Trump acusa os demais países de competição desleal e injusta em relação aos produtos americanos e tenta, através de tarifas a importações, atrair indústrias de volta aos EUA.

A medida também visa provocar negociações com alguns países, para que estes reduzam barreiras de importação a produtos americanos.

Durante seu anúncio das “tarifas recíprocas”, Trump afirmou que a Índia impõe “mais tarifas do que qualquer outro país”. Pouco depois, ele recebeu o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, na Casa Branca e previu “acordos comerciais maravilhosos” entre eles.

Nova Déli fez gestos conciliatórios antes da reunião, reduzindo as tarifas alfandegárias sobre motocicletas de alta qualidade dos EUA, uma vantagem para a fabricante Harley-Davidson.

Atualmente, os Estados Unidos têm uma tarifa média de importação de 2% sobre bens industriais. Metade de todas as compras de bens industriais, que representam 94% das importações americanas, é isenta de impostos.

Lula ameaça com reciprocidade, Haddad pede cautela

Nesta sexta-feira (14/02) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou, durante entrevista de rádio, que haverá reciprocidade diante das tarifas impostas por Trump. “Eu ouvi dizer que vai taxar o aço brasileiro. Se taxar o aço brasileiro, nós vamos reagir comercialmente, ou vamos denunciar na Organização do Comércio [OMC] ou vamos taxar os produtos que a gente importa deles”, alertou.

No dia anterior, entretanto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu cautela. Ele afirmou que o Brasil não precisa temer as medidas do governo americano, já que a balança comercial entre os dois países é superavitária para os Estados Unidos, nos setores de bens e serviços.

O ministro disse que o governo brasileiro não irá se manifestar “a qualquer sinalização”, vai aguardar para ver o “que é concreto, efetivo” e avaliar “como vai terminar essa história”.

“A balança é superavitária para os Estados Unidos, considerados bens e serviços. No caso de bens, ela é equilibrada, praticamente equilibrada. Não há nenhuma razão para nós temermos”, ressaltou. “Vamos, com cautela, avaliar o conjunto das medidas que podem ser anunciadas. Enquanto isso, a área econômica está fazendo um balanço das nossas relações comerciais para que a reciprocidade seja um princípio observado pelos dois países”, disse.

 

 

Publicado originalmente em: https://www.dw.com/pt-br/entenda-as-tarifas-rec%C3%ADprocas-anunciadas-por-trump/a-71609948

Comente aqui