Há uma linha direta na América Central que remonta há mais de um século, desde as intervenções militares apoiadas pelos EUA, à aliança com as oligarquias reacionárias, à devastadora reestruturação neoliberal, até a crise migratória agora explorada na política dos EUA.
Por: Daniel Denvir | Entrevista com: Hilary Goodfriend e Jorge Cuéllar | Tradução: Pedro Silva | Crédito Foto: Sebastião Salgado/Instituto Terra. Sebastião Salgado reflorestou propriedade da família em Aimorés (MG)
Esta é a primeira de uma série de duas partes sobre a história e o presente da América Central, com os pesquisadores Hilary Goodfriend e Jorge Cuéllar em conversa com Daniel Denvir no The Dig, um podcast da Jacobin Radio. É também uma história do quase-império estadunidense, traçando seu impacto a partir de meados do século XIX.
A América Central conquistou a independência do Império Espanhol em 1821, passou dois anos como parte do Império Mexicano e, em seguida, quase duas décadas como uma república federal fragmentada. Sua economia colonial era periférica, baseada na autossubsistência e em um pequeno comércio de exportação de produtos como índigo e cochonilha. A independência trouxe turbulência política, com elites liberais e conservadoras em guerra enquanto mantinham a opressão dos camponeses indígenas.
Em meados do século XIX, o capital e o poder militar dos EUA remodelaram a região. No início da década de 1850, a Nicarágua tornou-se um importante ponto de trânsito para os estadunidenses que se dirigiam para o oeste, rumo à Califórnia, época da Corrida do Ouro. Em 1855, uma nova ferrovia construída por capitalistas estadunidenses ligava as costas do Atlântico e do Pacífico do Panamá. Naquele mesmo ano, o mercenário americano William Walker, convidado por liberais nicaraguenses, tomou o poder e legalizou a escravidão. Seu governo terminou quando os exércitos centro-americanos o expulsaram, mas seu mandato demonstrou como as ambições anglo-estadunidenses tratavam as elites locais como aliadas dispensáveis.
Enquanto isso, a produção de café integrava a América Central ao capitalismo global, impulsionando a ascensão de poderosas oligarquias. A intervenção estadunidense na região se aprofundou: em 1885, os Estados Unidos enviaram fuzileiros navais ao Panamá (então parte da Colômbia) para reprimir uma rebelião. A Doutrina Monroe, originalmente um alerta contra a intromissão europeia, tornou-se um pretexto para a intervenção estadunidense. Em 1903, os EUA apoiaram a secessão do Panamá da Colômbia para a construção do Canal do Panamá, assegurando o controle sobre a área do canal.
As bananas logo se juntaram ao café como motor econômico, consolidando o domínio oligárquico e a influência dos EUA. Em 1909, os Estados Unidos apoiaram uma iniciativa bem-sucedida para derrubar o presidente nicaraguense José Santos Zelaya, o que levou a duas décadas de ocupação estadunidense, uma rebelião liderada por Augusto Sandino, a ditadura da família Somoza e, finalmente, em 1979, a Revolução Sandinista.
Em 1905, o presidente dos EUA Theodore Roosevelt expandiu a Doutrina Monroe, afirmando o direito dos EUA de intervir nos países latino-americanos para manter a “ordem”. A doutrina consolidou a expansão estadunidense, reforçando a dominação imperial da região.
No início do século XX, as intervenções dos EUA na região eram rotineiras. Um poderoso sistema estadunidense controlava a bacia do Caribe, embora a política de Boa Vizinhança de Franklin Delano Roosevelt, na era do New Deal, tenha reduzido a interferência constante. Durante esse período de calmaria, reformas social-democratas floresceram na Guatemala e na Costa Rica. Essas reformas foram um divisor de águas, ocorrendo uma década depois de uma insurgência armada comunista e indígena ter sido brutalmente esmagada pela oligarquia salvadorenha em 1932.
A política estadunidense favorável, no entanto, terminou abruptamente com o início da Guerra Fria. Em 1954, a CIA lançou um golpe contra o presidente social-democrata da Guatemala, Jacobo Árbenz, por reformas agrárias que ameaçavam a United Fruit Company. Esse golpe inaugurou uma era de terror anticomunista e antiindígena apoiado pelos EUA na Guatemala. Os sistemas políticos em toda a região tornaram-se mais repressivos, fechando-se até mesmo a reformas modestas à medida que as crises sociais e econômicas se intensificavam. Isso, por sua vez, alimentou movimentos revolucionários armados na Guatemala, Nicarágua e El Salvador.
Na Nicarágua, a Revolução Sandinista triunfou em 1979, apenas para ser derrotada por uma insurgência apoiada pelos EUA, sediada na vizinha Honduras. Na Guatemala e em El Salvador, os regimes apoiados pelos EUA combateram os exércitos rebeldes travando uma guerra assassina contra o povo.
A história da América Central não pode ser contada integralmente em dois episódios, muito menos nesta introdução. O que é fundamental compreender é a linha direta entre a intervenção militar apoiada pelos EUA e o apoio às oligarquias reacionárias, a reestruturação neoliberal dos anos do pós-guerra e a devastação resultante. A atual crise migratória é a consequência mais recente — agora explorada como ferramenta da política reacionária dos EUA.
Império e extrativismo
DANIEL DENVIR
Começando pelo início: como o colonialismo espanhol, e posteriormente o colosso imperial em expansão para o norte, ajudaram as elites locais a estabelecer essas estruturas econômicas e políticas extremamente desiguais e opressivas por toda a América Central? Esses sistemas, organizados em torno de formas brutalmente autoritárias de exploração do trabalho e repressão política, enriqueceram uma minoria oligárquica extremamente pequena. Eles priorizavam as exportações acima de tudo — café e bananas. Como essas ordens se formaram, tanto de forma coesa quanto de forma desigual pela América Central?
JORGE CUÉLLAR
Minha compreensão da história da América Central realmente começa com a imposição do colonialismo espanhol e, como você disse, as economias extrativas em torno do ouro, da prata, do índigo e do cacau, que utilizam os pobres e os povos indígenas da América Central como força de trabalho.
Isso cria não apenas uma estratificação em torno de quem explora o capital e quem é explorado, mas também cria uma espécie de sistema de castas raciais que sustenta e racializa essa desigualdade. E assim, esse sistema de desenvolvimento colonial que priorizou a metrópole — que, neste caso, era a Espanha e Portugal para o Brasil — deixou a América Central com uma economia fortemente subdesenvolvida e uma dependência dessa gama restrita de commodities de exportação, das quais bananas e café se tornaram as culturas comerciais mais duradouras para a região.
Após o período colonial, essas estratificações permanecem. Elas estão sedimentadas e impressas nos países da América Central que emergirão no início do século XIX como Estados-nação autênticos. Mas, ao longo dos quatrocentos anos que se seguiram ao encontro colonial, [o que existe] é um regime trabalhista que exclui a maioria das populações centro-americanas para saciar o apetite de uma elite muito restrita — pessoas de ascendência espanhola, de pele branca.
Isso reforçou padrões de desigualdade e exploração que se tornaram muito binários ao longo da história da América Central — e que se reproduziram com o surgimento de Estados-nação e repúblicas —, o que consolida essas desigualdades de forma muito rigorosa, impedindo a mobilidade econômica. Uma oligarquia que descende diretamente desses grandes proprietários de terras por meio de casamentos intergeracionais também se forma.
HILARY GOODFRIEND
A noção de dependência do teórico e revolucionário brasileiro Ruy Mauro Marini talvez seja instrutiva aqui. As economias centro-americanas foram inseridas no mercado mundial como agroexportadoras bem antes da independência. Marini argumenta que esse tipo de produção voltada para a exportação cria uma ruptura no ciclo do capital, pois as mercadorias estão sendo produzidas para serem vendidas no exterior e não para o consumo interno. Isso tem sérias implicações para a qualidade de vida dos trabalhadores e para as condições de reprodução social, para dizer o mínimo.
A desigualdade resultante, altamente racializada, também necessita de formas violentas de exploração e regimes autoritários para se sustentar. A controversa, porém ambiciosa, tese da superexploração de Marini basicamente postula que os capitalistas latino-americanos recorreram a pagar seus trabalhadores abaixo do valor de sua força de trabalho para compensar suas perdas no mercado global, onde trocavam matérias-primas de baixa produtividade por bens industriais de alta produtividade. Essa é uma maneira de pensar como é possível sustentar condições miseráveis para vastos segmentos da população — por meio da existência de grandes reservas de mão de obra. Essas condições brutais de exploração do trabalho exigem altos níveis de coerção e violência estatal para serem reproduzidas ao longo do tempo.
Testes beta do império
DD
A história da intervenção militar e econômica dos EUA na região é longa, extensa e constante. Ela remonta a 1894 na Nicarágua, 1895 no Panamá, 1903 em Honduras, 1920 na Guatemala, 1921 na Costa Rica e 1932 em El Salvador. E remonta a um período ainda mais antigo. William Walker foi um cidadão e mercenário estadunidense, inspirado pelo Destino Manifesto, que invadiu a Nicarágua em 1865 para intervir em um dos lados de uma guerra civil, mas acabou se tornando presidente até ser deposto por uma força militar centro-americana liderada pela Costa Rica.
Como o poder dos EUA moldou a ordem regional nesses primeiros anos, inclusive em termos dessas campanhas de obstrução — esses esforços para expandir o império anglo-colonial para a América Central?
JC
Walker é, na verdade, um ponto de partida para o funcionamento do império na América Central. Ele lançou as bases para o que viria a seguir — abrindo caminho para a United Fruit Company, a construção do Canal do Panamá e a ideia, entre as elites estadunidenses, de que elas podem literalmente invadir e transformar esses sistemas políticos para atender aos caprichos do capital privado.
“A América Central é continuamente o palco desses enclaves anarcocapitalistas e de aventuras libertárias malucas.”
HG
A América Central sempre foi, para os Estados Unidos, um local de exploração da fronteira estadunidense e de desenvolvimento e condução de diferentes projetos imperiais. Acredito que podemos observar isso, em certa medida, ao longo dessas múltiplas e inumeráveis invasões que começam muito cedo. Mesmo antes da Segunda Guerra Mundial, os EUA já disputavam com o poder imperial europeu na região, ultrapassando os britânicos e os alemães, bem depois de a Espanha ter se retirado dessas repúblicas recém-independentes.
Dessa forma, a América Central sempre esteve, desde o início, voltada para os EUA – pelo menos em termos de sua constituição independente – de uma forma que não é exatamente o caso da América do Sul. E isso é significativo para muitas das formas como a economia política da região se desenvolve.
JC
Walker não foi apenas um precursor do império estadunidense — ele também foi um modelo para o tipo de capitalismo aventureiro do cidadão privado que veremos mais tarde na América Central. Isso é algo que ainda vemos hoje: atores privados tratando a América Central como uma espécie de tábula rasa para suas ambições, formando exércitos e milícias particulares, negociando acordos com as elites locais.
Walker é um dos primeiros exemplos disso — especialmente quando pensamos nas maneiras como ele tentou instituir a escravidão na Nicarágua, o que era algo inédito.
HG
Para explicitar algumas das conexões que Jorge está traçando, a América Central é continuamente o local desses enclaves anarcocapitalistas e de aventuras libertárias malucas.
DD
A ideia de que o Estado estadunidense e os estadunidenses em geral poderiam imaginar a América Central como uma extensão, direta ou indireta, do império anglo-colonizador é um procedimento operacional padrão já no século XIX. Isso aconteceu após a Revolução do Texas, que é essencialmente uma operação de obstrução, e a tomada da metade norte do México pelos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, a Nicarágua foi extremamente importante como ponto de trânsito para a corrida do ouro na Califórnia. Não há um ponto final definido para como o crescente império estadunidense irá se parecer, formal ou informalmente.
JC
Exatamente. Walker personifica o Destino Manifesto em uma única pessoa. Você falou sobre a Revolução do Texas — uma das primeiras missões obstrucionistas de Walker foi em Sonora, no México. Ele vem fazendo esse tipo de coisa desde o início, mas o que ficou realmente claro é que parte do projeto do império anglo-colonizador é modernizar a América Central atrasada. É exatamente isso que esses cidadãos e milicianos encorajados pensam que estão realizando — que estão “civilizando” a América Central.
Essa dinâmica desigual entre os Estados Unidos e a América Central, que ainda está em curso, começa aqui, mas se repete inúmeras vezes, tendo os efeitos disso para os povos centro-americanos como danos colaterais.
HG
Assim como a América Central é constitutiva dessas práticas do império dos EUA, ela também se torna constitutiva de certos tipos de práticas e resistências anti-imperialistas — e isso é verdade para o resto do Caribe pelas mesmas razões — de modo que a resistência popular é muito constituída nessa chave anti-imperialista e nessa linguagem anti-imperialista que tem raízes realmente profundas.
Não é por acaso que Augusto Sandino estreou lutando contra a invasão e ocupação estadunidense da Nicarágua, e que os sandinistas — a FSLN (Frente Sandinista de Libertação Nacional) — posteriormente adotaram seu nome. Da mesma forma, Farabundo Martí, que estreou lutando ao lado de Sandino na Nicarágua, se tornaria o homônimo da FMLN (Frente Farabundo Martí) em El Salvador na década de 1980.
A United Fruit e as forças armadas dos EUA
DD
Jorge, você mencionou esse discurso civilizador ou modernizador que motiva estadunidenses como Walker. Ele também exerceu certo apelo entre as elites centro-americanas da época. Walker é convidado para a guerra civil pelos liberais. Antes de prosseguirmos, vocês dois podem descrever um pouco do que era a política formal em meados e no final do século XIX? O que exatamente significava essa divisão entre conservadores e liberais?
JC
Nesse ponto, conservadores e liberais eram nacionalistas em algum grau, e não eram necessariamente tão diferentes entre si. Eram principalmente rixas de elite — rivalidades entre clãs — focadas em expandir os negócios da família e consolidar o poder. Ambos estavam ligados à Igreja Católica, especialmente os conservadores.
O que realmente está acontecendo durante o episódio de Walker — e posteriormente durante as ocupações estadunidenses em lugares como a Nicarágua — é que os conservadores eram a facção mais fervorosa em relação ao separatismo dos Estados Unidos. São eles que realmente acreditam em um tipo de destino nacional específico. São conservadores por meio da política da Nicarágua. Enquanto os liberais têm a sensação de que podem administrar a relação imperial com o colosso ao norte. Eles veem a promessa em uma relação com os Estados Unidos para a modernização, para o desenvolvimento de infraestrutura e para a expansão da economia de plantation.
Essas diferenças ideológicas não são tão diferentes neste momento — exceto por aqueles momentos muito peculiares, e que seriam muito determinantes, de abertura de portas para pessoas como Walker acelerarem este projeto de modernização. Os conservadores preferiam uma abordagem reformista e mais lenta.
DD
Como foi a intervenção militar dos EUA na região no final do século XIX e início do século XX? E como tudo isso se relaciona com a crescente importância econômica do café e da banana na América Central, operações administradas por grandes corporações como a United Fruit Company?
JC
Em 1899, com a fundação da United Fruit Company em Boston e a ocupação de lugares como a Nicarágua, esses dois interesses começaram a convergir. O exército estadunidense está envolvido no estímulo a projetos de infraestrutura — há um debate sobre a construção de um canal na Nicarágua ou o Canal do Panamá, todos voltados para atender ao capital estadunidense, encurtando as rotas comerciais.
Ao mesmo tempo, a United Fruit Company crescia rapidamente e se tornava um império em expansão, contando fortemente com a presença militar dos EUA na América Central e no Caribe. Os militares atuavam efetivamente como o exército privado da United Fruit, pressionando governos locais, colaborando com as forças armadas nacionais e criando as condições para a entrada de capital estadunidense. Era um acordo simples: nós construímos esta ponte para vocês, vocês nos vendem esta terra.
Ao longo da primeira metade do século XX, esse padrão se repetiu constantemente. Os militares estadunidenses intervieram primeiro e a United Fruit agiu em seguida, expandindo suas operações. Isso se observa da República Dominicana à Nicarágua, do Panamá a algumas partes da Costa Rica, passando pela Guatemala e El Salvador. Mas Honduras foi o exemplo por excelência da república das bananas.
Honduras tornou-se o modelo de como a United Fruit Company, em conjunto com as Forças Armadas dos EUA, remodela o Estado para servir aos interesses do capital. A essa altura, muitas figuras da classe política estadunidense estão envolvidas tanto com o governo dos EUA quanto com os conselhos dessas grandes corporações — que se tornarão uma parte significativa da produtividade econômica desses países, exercendo uma influência descomunal na política local.
HG
Neste período, podemos começar a ver como o desenvolvimento desigual da região molda diferentes resultados políticos e econômicos. Em países menos povoados, como Honduras, os Estados Unidos conseguem intervir e estabelecer um controle firme sobre o Estado. Diferente de lugares como El Salvador ou Guatemala, onde as oligarquias locais são muito mais fortes e mais coerentes política e economicamente. Esse desenvolvimento regional desigual criou muitas tensões entre essas repúblicas recém-independentes.
O manual do Panamá: golpe, canal, criação de um país
DD
Como os EUA ajudaram simultaneamente a transformar o Panamá em um país independente e a estabelecer o controle sobre o então inacabado Canal do Panamá? E, ainda mais dramaticamente, como estabeleceram a soberania sobre toda a zona do Canal do Panamá, que pelo resto do século serviria como uma gigantesca base do poder militar e econômico dos EUA em toda a região?
JC
A secessão do Panamá da Colômbia realmente destaca as contradições da influência dos Estados Unidos na região. O Panamá, como país independente, não existiria sem o apoio dos EUA à rebelião contra Bogotá. Essa rebelião foi impulsionada pelas elites panamenhas que queriam levar adiante um tratado sobre o canal que a Colômbia havia rejeitado.
Nesse sentido, o Panamá, como país, foi criado pelos Estados Unidos. A construção do canal no início do século XX não só garantiu o controle estadunidense sobre aquela hidrovia artificial, como também deixou um impacto cultural incrível na sociedade panamenha ao estabelecer a Zona do Canal, que era essencialmente administrada como território dos EUA.
HG
O canal é o que consagra a importância geopolítica, econômica e logística da região. Sua infraestrutura comercial realmente eleva os riscos das disputas políticas na região. O canal torna-se crucial tanto para os interesses do capital estadunidense quanto para os militares de ambos os lados do continente.
DD
Passemos às revoltas do início do século XX na Nicarágua e em El Salvador. Hilary, você mencionou anteriormente que os principais movimentos revolucionários nicaraguenses e salvadorenhos do final do século XX tomaram seus nomes dessas revoltas. Como essas lutas armadas surgiram? E como moldaram a ordem oligárquica de El Salvador e, em reação, a ditadura da família Somoza na Nicarágua? Qual foi o legado revolucionário delas para a FSLN e a FMLN?
HG
É difícil exagerar o quão formativas essas experiências são, mas elas também são distintas, embora compartilhem sobreposições históricas realmente interessantes. A luta de Sandino na Nicarágua é fundamentalmente uma insurgência nacionalista e anti-imperialista — ele luta contra as ocupações estadunidenses. Essa luta atraiu solidariedade regional, inclusive de atores como Farabundo Martí, que viajou à Nicarágua para lutar ao seu lado.
A insurgência de 1932 em El Salvador, por outro lado, é mais uma resposta à conjuntura de crises econômicas massivas após a quebra do mercado de 1929 e a Grande Depressão. Os preços do café caem e as condições de vida da vasta maioria dos trabalhadores camponeses, em sua maioria indígenas — que cultivam o café nessas plantações, especialmente no oeste de El Salvador — tornam-se totalmente insustentáveis.
Essa conjuntura, somada aos esforços do Partido Comunista para liderar uma revolta, é o que resulta em uma insurreição, especialmente concentrada no oeste de El Salvador. O governo respondeu com violência genocida.
Então, embora estejamos falando sobre diferentes tipos de insurreições populares respondendo a diferentes condições, ambas foram moldadas pelo agravamento das realidades materiais — repressão ditatorial, violência estatal e realidades econômicas que tornaram a sobrevivência impossível para as maiorias trabalhadoras.
“Vale a pena refletir um pouco sobre a magnitude da repressão com que o levante de 1932 em El Salvador foi enfrentado. Estamos falando de dezenas de milhares de pessoas massacradas.”
Acredito que o legado do levante sandino na Nicarágua seja de um orgulho nacional duradouro, enquanto o legado de La Matanza em El Salvador é bem diferente. Resulta na supressão da expressão da identidade indígena e na negação oficial da existência da indigeneidade no país. Instaura um profundo credo anticomunista, especialmente entre os militares e a oligarquia, que persiste pelo resto do século.
Vale a pena refletir um pouco sobre a magnitude da repressão com que o levante de 1932 em El Salvador foi enfrentado. Estamos falando de dezenas de milhares de pessoas massacradas. A liderança do Partido Comunista, incluindo Martí, foi toda executada. E isso em um país com uma população muito pequena.
A forma como La Matanza foi consagrada na memória oficial tem muitas ressonâncias com o que acontece no período pós-guerra civil. O Estado construiu uma narrativa paternalista — por um lado, demonizando a indigeneidade, mas, por outro, retratando os indígenas como vítimas inocentes manipuladas por “comunistas malignos”.
Essa história revisionista retratava a população como encurralada em um fogo cruzado, não como participante ativa de sua própria luta. Essa mesma narrativa é recapitulada nas memórias do pós-guerra em lugares como a Guatemala, mas também no discurso de extrema direita que ganha novos contornos hoje, sob o comando de Nayib Bukele, por exemplo, em El Salvador.
A CIA sente o cheiro de reforma a quilômetros de distância
DD
Em 1954, os Estados Unidos transformaram a Guatemala em um laboratório para uma nova fase global de império no pós-guerra, quando a CIA derrubou o presidente democraticamente eleito Jacobo Árbenz por ousar nacionalizar terras ociosas da United Fruit Company. O golpe na Guatemala foi o terceiro realizado pelos Estados Unidos, que emergiram como superpotência global após a Segunda Guerra Mundial, após os golpes na Síria e no Irã.
Antes de chegarmos ao golpe, porém, que tipo de governo social-democrata moderado Árbenz e seu antecessor, Juan José Arévalo, estavam tentando construir na Guatemala? Árbenz havia participado de um movimento que derrubou o ditador Jorge Ubico em 1944. Quero me concentrar nesse período antes de chegarmos ao golpe — em como foram essas tentativas de reforma na Guatemala e em outros lugares. Nas décadas seguintes, ficaria absolutamente claro que a reforma era impossível e que o confronto revolucionário armado era a única resposta a esses regimes militaristas brutais que protegiam o poder de uma pequena elite abastada. Então, como foi essa revolução de 1944 e seu governo?
HG
É importante lembrar que, na década de 1940, os Estados Unidos estavam extremamente distraídos com a Segunda Guerra Mundial, e a Guerra Fria ainda não havia começado oficialmente. Isso abriu espaço para projetos social-democratas com grande participação e influência do Partido Comunista na região. Isso não ocorreu apenas na Guatemala, mas também, de forma muito significativa, na Costa Rica.
Em alguns aspectos, esses são programas social-democratas padrão — reforma agrária, previdência social, infraestrutura pública, regulamentações trabalhistas básicas. Mas essas reformas são devastadoras para os regimes de acumulação que dominaram a região. Ao mesmo tempo, também são reformas entendidas como necessárias para o avanço da industrialização nacional.
Após a Grande Depressão, os preços das commodities não se recuperaram de fato, e essas pequenas economias enfrentavam sérias dificuldades para se manter economicamente solventes e viáveis. Em outras partes da América Latina, os países se voltavam para a industrialização por meio da substituição de importações. Esforços mais formais nessa direção surgiram nas décadas de 1950 e 1960 na América Central, mas esses primeiros projetos reformistas social-democratas também faziam parte de projetos nacional-desenvolvimentistas mais amplos que eram promovidos na América do Sul por meio de agências como a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe).
JC
Uma das coisas que fizeram parte dessa primavera democrática na Guatemala foi a pressão pela reforma agrária — não apenas para ajudar os agricultores de subsistência, mas também para redistribuir grandes extensões de terras ociosas pertencentes a corporações e ricos proprietários de terras. Outra reforma foi a legalização do Partido Comunista nas urnas, que antes era proibido de participar da política eleitoral. Tudo isso fazia parte de um esforço para abrir o sistema político de uma forma que ameaçasse os interesses oligárquicos.
Esse período, da ditadura de Ubico até Arévalo e Árbenz, foi breve, mas aterrorizou a oligarquia guatemalteca — tanto que levou ao golpe de 1954.
Ao mesmo tempo, de 1910 a 1940, assistimos à nacionalização e a experimentos democráticos no México — como a expansão da infraestrutura na Cidade do México. A Guatemala recorreu a esse modelo para romper o impasse oligárquico — onde uma pequena elite controlava a economia e o sistema político. Mas o ponto de ruptura ocorreu quando essas reformas atingiram as mais sagradas das propriedades rurais, aquelas vinculadas à United Fruit Company.
O próprio Árbenz é um personagem um tanto estranho para ser considerado um agente transformador da sociedade guatemalteca. Ele ascendeu nas fileiras militares da Guatemala e não era um revolucionário óbvio. No entanto, ele e Arévalo, que certa vez se autodenominou um “socialista espiritual”, eram vistos como uma ameaça tão grande que a oligarquia e os Estados Unidos reagiram decisivamente. O que eles tentavam fazer não era diferente de uma abordagem do New Deal para reconstruir a sociedade guatemalteca, mas era um desafio ao status quo suficiente para provocar uma grande reação negativa.
O caso de Árbenz reflete um padrão regional mais amplo — o papel decisivo dos militares na formação da política nacional. Ao longo do século XX, os militares foram predominantemente uma força reativa e conservadora, mas, por vezes, devido ao seu monopólio da violência, puderam ser agentes de transformação. Os militares também tiveram um impacto incrível na formação da América Central moderna.
HG
Certamente, o golpe de 1954 transformou a Guatemala em um laboratório, mas também o fez com Honduras. Honduras tornou-se a plataforma de lançamento da CIA para a mudança de regime, assim como mais tarde se tornaria o palco da guerra dos Contras na década de 1980. Não é coincidência que, em 1954, Honduras tenha assinado um acordo militar realmente significativo com os Estados Unidos, que essencialmente transformou o país em uma gigantesca base militar estadunidense.
Seja legal ou dê um golpe
DD
Quanto desse golpe tem a ver com a distração dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial? E até que ponto estava em curso uma mudança política substancial, da política de Boa Vizinhança de Franklin Delano Roosevelt para a Guerra Fria de Harry Truman?
HG
Este é um assunto de grande debate na América Central, muitas vezes baseado em uma comparação: por que a Costa Rica teve permissão para buscar a social-democracia enquanto a Guatemala não?
Há uma série de fatores estruturais, contingentes e conjunturais em jogo. Uma diferença fundamental é o momento — 1944 e 1954 são dois momentos muito distintos na política externa dos EUA. A transição da Segunda Guerra Mundial — quando os Estados Unidos eram aliados da União Soviética — para a Guerra Fria significou uma mudança na lógica da intervenção.
“Por que a Costa Rica foi autorizada a buscar a social-democracia enquanto a Guatemala não?”
Mas também havia fatores econômicos. As participações da United Fruit na Guatemala eram muito mais significativas do que na Costa Rica. A Guatemala é um país muito maior e mais densamente povoado, então os riscos eram maiores. Enquanto isso, José Figueres (“Don Pepe”), então no poder na Costa Rica, exibia suas credenciais anticomunistas em Washington.
Ele tinha melhores contatos em Washington e conseguiu os convencer de que não levaria o país por um caminho contrário aos seus interesses. Mas é significativo, creio eu, que haja esses dois caminhos divergentes — a Guatemala é impedida de seguir o caminho seguido pela Costa Rica.
DD
Na Costa Rica — só para acrescentar uma observação sobre Figueres, ou Don Pepe — ele também consegue polir suas credenciais anticomunistas, em parte porque derrubou um governo reformista de centro-esquerda que atuava em parceria com o Partido Comunista da Costa Rica em 1948. Curiosamente, ele deu continuidade a muitos dos programas de reforma social e econômica do país, mas mesmo assim derrubou o governo alinhado aos comunistas e proibiu o Partido Comunista. Ele então se apresenta como um modelo do que o “capitalismo liberal com rosto humano” pode ser na América Central.
JC
A Guatemala tem importância estratégica para os Estados Unidos devido às participações da United Fruit Company. A economia da Costa Rica — baseada na pecuária e na produção de arroz — é insignificante em comparação com a Guatemala, que era um grande produtor e exportador.
Só isso já desempenhou um papel enorme.
Mas há outra dimensão que é negligenciada: a importância simbólica da Guatemala na América Central. A Guatemala era o principal centro administrativo do Império Espanhol na região. Na verdade, isso ecoa a maneira como os próprios Estados Unidos passam a operar como uma espécie de hegemonia regional. Os EUA entendiam que o tamanho, a economia e o legado histórico da Guatemala lhe conferiam peso e significado em toda a América Central, onde sua reformulação teria efeitos em cascata por toda a região.
A Costa Rica, por sua vez, era vista como uma negociadora melhor em termos da forma como solicitava empréstimos aos Estados Unidos. Pediu ajuda aos EUA com muita gentileza, de uma forma que parecia alinhada aos planos nacionais de desenvolvimento de Washington. Isso é algo que veremos com o Banco Monetário Internacional (MFI), o Banco Mundial e organizações regionais como o Banco Centro-Americano de Integração Econômica.
Em contrapartida, a Guatemala não estava apenas negociando — estava tentando, de fato, reestruturar a máquina estatal. Redistribuição de terras, nacionalização — essas eram mudanças estruturais reais. Ainda era um caminho de desenvolvimento, mas não um que interessasse aos Estados Unidos.
Se incluirmos Honduras no cenário, a década de 1950 marca esse momento em que Honduras também trilha seu próprio caminho de desenvolvimento. Nesse ponto, Honduras não seguia o modelo da Guatemala — tentava imitar o da Costa Rica, sendo gentil com os Estados Unidos.
A Guatemala se tornou um exemplo do que acontece quando um país toma o caminho “errado” — é o que acontece quando você não segue as regras estabelecidas pelos Estados Unidos.
Migração climática
DD
Um país sobre o qual não falamos é Belize, que durante a maior parte de sua história foi Honduras Britânicas. Belize, cujo território há muito tempo é reivindicado pela Guatemala, só se tornou independente em 1981. Como devemos pensar a história de Belize?
JC
Belize é um polo de matérias-primas. Durante grande parte de meados do século XX, sua economia girou em torno da silvicultura e da exportação de madeira, abastecendo tanto o emergente governo belizenho quanto a coroa britânica. Não houve atividade política real acontecendo na mesma escala que seus vizinhos, porque ainda era uma colônia do Império Britânico, e assim permaneceu até a década de 1980.
É visto como um centro de embarque de materiais para o Reino Unido. Um dos primeiros partidos políticos belizenhos de verdade, o Partido Unido do Povo, por exemplo, só surgiu na década de 1950. Até então, a maioria dos belizenhos não se considerava uma nação — eles se consideravam súditos da coroa britânica. Isso teve muito a ver com a posição de Belize tanto no Império Britânico quanto no emergente império estadunidense.
HG
Dessa forma, Belize é muito mais identificado com o Caribe anglófono do que com o resto da América Central.
JC
Outro aspecto da história que frequentemente esquecemos sobre Belize, especialmente em relação à migração da América Central, é que na década de 1960 o país foi atingido por um enorme furacão. Ele desencadeou grande parte da migração de Belize para o sudoeste dos EUA. Esta é uma história muito centro-americana, no sentido de que hoje falamos constantemente sobre migração climática — pessoas escapando da insegurança alimentar e da moradia precária. Pessoas de Belize vivenciaram isso em primeira mão.
Nas décadas de 1970 e 1980, Belize foi um local de exílio e refúgio para pessoas provenientes de países vizinhos da América Central, que enfrentavam turbulências políticas resultantes da intervenção estadunidense — conflitos civis e massacres. Acredito que muitos belizenhos consideram esse período a “Central-Americanização” de Belize — um fenômeno bastante interessante, mas pouco estudado, principalmente porque a cultura de Belize é mais voltada para o Caribe e porque grande parte de sua população é produto da importação de escravos.
HG
Provavelmente vale a pena mencionar que Belize também é um destino importante para a migração de mão de obra de países como El Salvador — especialmente a economia de serviços do país.
JC
Se quisermos continuar na história mais recente de Belize, a partir da década de 1990, vemos um aumento na atividade de gangues, que faz parte de uma história migratória mais ampla. Muitos belizenhos migraram para lugares como Los Angeles e se envolveram com gangues como Bloods e Crips. Eles foram então reintroduzidos em Belize devido à política de deportação dos EUA.
Revolução e reação
DD
Voltemos à onda de movimentos revolucionários que varreu a região na segunda metade do século XX. Na Nicarágua, os sandinistas derrubaram o ditador Anastasio Somoza em 1979 e, em seguida, enfrentaram uma brutal guerra com os Contras, apoiada pelos EUA. Em El Salvador, a FMLN uniu cinco organizações político-militares de esquerda para travar uma luta armada contra o governo de esquadrões da morte apoiado pelos EUA, com o apoio de movimentos de massa da sociedade civil altamente organizados. Na Guatemala, uma longa luta armada enfrentou um regime militar apoiado pelos EUA que cometeu um genocídio horrível contra camponeses indígenas.
Como as condições em cada país — Nicarágua, El Salvador e Guatemala — convergiram para criar um momento em que a reforma foi considerada claramente impossível? Como eram essas organizações revolucionárias? Como elas uniram e organizaram essas amplas coalizões da maneira como o fizeram? E como aprenderam com modelos latino-americanos anteriores — como a teoria de Foco, que emergiu da Revolução Cubana? E, por fim, qual o papel da teologia da libertação, que estava se espalhando pelas igrejas católicas da região, na viabilização dessas novas coalizões revolucionárias?
HG
Acredito que o caso guatemalteco é instrutivo, pois os movimentos democráticos por reformas são violentamente reprimidos, levando os reformistas a pegar em armas e adotar métodos insurgentes para tentar derrubar um Estado do qual a participação deles foi categoricamente negada.
Observamos isso de diferentes maneiras em toda a região: o fechamento contínuo de espaços democráticos, enquanto os processos desiguais de integração regional e industrialização criam classes médias incipientes e aumentam as expectativas. Esses processos de industrialização e integração estão diversificando as exportações e expandindo a fronteira agrícola — e deslocando ainda mais massas de pessoas em toda a região. A concentração de terras realmente explode nesse período, deixando cada vez mais pessoas sem terra. Há um agravamento geral de todas essas contradições sociais — do autoritarismo, de um lado, e desse modo de industrialização desigual, carregado e subordinado aos EUA, de outro.
“Os resultados em cada país foram muito diferentes. A Nicarágua viu uma revolução bem-sucedida, El Salvador chegou a um impasse brutal e a Guatemala sofreu a mais longa guerra civil das Américas, culminando em genocídio.”
Quanto à forma como essas insurgências se configuram, elas variam ao longo do tempo, influenciadas por diferentes conjunturas globais. Da mesma forma que as revoluções mexicana e russa inspiraram as insurgências da década de 1930, na década de 1960, a Revolução Cubana tornou-se o modelo e a inspiração para a região. Isso significa que, ao lado de estratégias marxista-leninistas mais tradicionais e ortodoxias do Partido Comunista — que buscam se alinhar a essa burguesia nacionalista elusiva —, temos formações muito mais heterodoxas, frequentemente urbanas, da Nova Esquerda, bem como organizações maoístas se desenvolvendo por toda a região.
Esses grupos estão cada vez mais em diálogo constante com movimentos camponeses radicalizantes, fundamentalmente inspirados pela Teologia da Libertação. E não apenas no campo — grupos da Ação Católica em círculos urbanos de classe média também são realmente fundamentais para mobilizar pessoas para as insurgências. Mas no campo, onde os exércitos insurgentes mais poderosos concentravam a vasta maioria de suas forças, é a doutrina cristã radical da Teologia da Libertação — a opção preferencial pelos pobres — que fornece uma ponte para o diálogo com essas outras tradições mais marxistas.
JC
A região era uma panela de pressão. Gosto de chamar isso de superexploração com características nacionais. Guatemala, Nicarágua e El Salvador compartilhavam um modelo de comando militar de elite, defendendo os privilégios e as necessidades econômicas de uma oligarquia. Eram militaristas por natureza, protegendo os privilégios da elite e servindo a interesses econômicos vinculados ao capital estrangeiro.
Mas os resultados em cada país foram muito diferentes. A Nicarágua viu uma revolução bem-sucedida, El Salvador chegou a um impasse brutal e a Guatemala sofreu a mais longa guerra civil das Américas, culminando em genocídio. E, no entanto, as condições estruturais eram as mesmas: desigualdade massiva, racismo estrutural e exclusão econômica generalizada. Essas condições atingiram um ponto de ebulição quase simultaneamente.
Mas o que também precisamos lembrar, como Hilary mencionou, são os exemplos incríveis da Revolução Cubana e do golpe contra Árbenz — o próprio Che Guevara cita o golpe como uma grande influência. Ao ver o experimento reformista de Árbenz ser esmagado pela intervenção estadunidense, Guevara concluiu que a reforma jamais seria permitida na América Latina. Essa constatação impulsionou muitos à luta armada contra a classe dominante e os poderes constituídos como o único caminho viável para a mudança.
Foi esse duplo impacto de 1954 — o golpe na Guatemala — e 1959 — a Revolução Cubana — que moldou o desenvolvimento dos movimentos revolucionários na Nicarágua, em El Salvador e até em Honduras. A partir daí, a luta armada tornou-se a estratégia dominante na tentativa de derrubar esses sistemas incrivelmente desiguais.
Em 1979, a Nicarágua havia tido sucesso, mas a luta de El Salvador levou a um processo de paz muito complexo e conturbado. E Honduras tornou-se o palco para os esforços de contrainsurgência dos EUA, com o objetivo de extinguir os movimentos camponeses e desarticular os movimentos políticos em toda a região. É por isso que a Teologia da Libertação se tornou tão importante — ela forneceu uma gramática diferente para explicar e politizar a desigualdade, alcançando as pessoas de maneiras que a retórica tradicional marxista-leninista e maoísta às vezes não conseguia. A Teologia da Libertação tornou-se um meio para compreender a desigualdade e a miséria de uma forma que motivou as pessoas a se juntarem aos movimentos sociais.
Este é o momento em que as condições postas em movimento na década de 1930 — cimentadas pelo autoritarismo e pelo profundo enraizamento do poder oligárquico — atingem outro ponto crítico, mobilizando as pessoas contra elas.
Mas os caminhos que cada país toma para sair dessa crise são dramaticamente diferentes. Na Guatemala, ela leva a uma ditadura militar que desencadeia violência contra comunidades organizadas, a maioria das quais são indígenas. Na Nicarágua, nas décadas de 1970 e 1980, a guerra dos Contras produz um dos maiores êxodos de nicaraguenses para os Estados Unidos. No caso de El Salvador, que grande parte da minha família viveu, a guerra tornou-se um momento de incrível conscientização — mas também deixou um profundo descontentamento que nunca foi totalmente resolvido. Não havia válvula de escape para liberar essa pressão, de modo que o descontentamento não resolvido se transformou nessas formas pervertidas após a guerra.
Apesar das origens semelhantes desses conflitos em meados do século, seus desfechos são tão diferentes que quase parecem histórias completamente distintas. Mas, de muitas maneiras, todos foram moldados pela Guerra Fria, que se desenrolou em diferentes contextos e em diferentes países.
HG
Em termos de como esses movimentos se concretizaram, a Guatemala enfrentou desafios únicos. As forças revolucionárias guatemaltecas eram menores, mais fragmentadas e operavam em um território geográfico e demográfico muito mais vasto. Isso foi um obstáculo constante para alcançar o tipo de unidade e avanços militares vistos em outros lugares.
Na Nicarágua, os sandinistas conseguiram se recuperar dos primeiros reveses militares e desenvolver uma estratégia diplomática realmente sofisticada. Isso foi crucial. O governo revolucionário sandinista posicionou-se efetivamente no cenário mundial, forjando laços com eurocomunistas, social-democratas e outros Estados amigos — um cenário diplomático que era aberto na época, mas que se estreitaria com o avanço da Guerra Fria.
A FMLN em El Salvador tentou replicar esse modelo. Obteve sucesso desde o início, principalmente com a formação da FDR (Frente Democrática Revolucionária) — seu braço político civil, que em 1981 intermediou com sucesso a Declaração Franco-Mexicana. Essa foi uma grande vitória diplomática: a França e o México reconheceram formalmente a FMLN como uma força legítima na guerra civil. Isso lhe deu reconhecimento internacional e permitiu que se defendesse no cenário mundial.
Ao mesmo tempo, esforços diplomáticos e ações políticas foram apoiados pela luta armada e mobilização de massas. No final da década de 1970 e início da década de 1980, El Salvador testemunhou mobilizações populares de organizações camponesas, sindicatos e grupos estudantis. Muitas delas tinham ligações diretas ou indiretas com estruturas militares clandestinas. Este foi um verdadeiro movimento revolucionário popular, sem paralelo em escala na região.
Mas o momento era importante. O triunfo da Revolução Nicaraguense — embora inspirador para a luta salvadorenha — também tornou a vitória impossível. A enorme escala da resposta dos EUA tornou um resultado semelhante em El Salvador muito mais difícil.
O terror como política externa
DD
Vamos analisar a resposta dos EUA — os brutais esquadrões da morte e a violência militar que, nos três países, foram ativamente patrocinados pelos Estados Unidos. Que tipo de repressão esses regimes orquestraram com o apoio dos EUA? Como os regimes dominantes em El Salvador e na Guatemala se comparam em termos de seus programas de repressão? Como eles organizaram diferentes grupos de elite por trás desses Estados militares? E como ambos os regimes assumiram novas formas à medida que esse processo de repressão e resistência se intensificou ao longo da década de 1980?
HG
O programa de contrainsurgência dos EUA, que também contava com o apoio de outros países, incluía uma série de práticas de terror de Estado e controle social. Em El Salvador, há a implementação de organizações rurais paramilitares. Na Guatemala, grupos semelhantes são mobilizados para recrutar a população para vigiar, reprimir e delatar uns aos outros — o que criou uma atmosfera de medo e desconfiança entre os vizinhos.
Há assassinatos seletivos de dissidentes e organizadores políticos. Há uso generalizado de desaparecimento forçado, tortura e demonstrações seletivas e espetaculares de violência — como cadáveres mutilados deixados em locais públicos como advertência. Há também, de forma mais espetacular na Guatemala, mas não menos horrível, creio eu, em El Salvador, o uso de táticas de terra arrasada no campo para exterminar comunidades inteiras que são percebidas como bases sociais de apoio.
“Há uso generalizado de desaparecimento forçado, tortura e demonstrações seletivas e espetaculares de violência — como cadáveres mutilados deixados em locais públicos como advertências.”
Essas práticas financiadas, armadas e treinadas pelos EUA se combinarão para efetivamente prejudicar esses movimentos revolucionários. Especialmente no início da década de 1980, revoltas em massa — nas quais centenas de milhares foram às ruas — eram brutalmente reprimidas.
O efeito disso, no caso salvadorenho, é uma mudança de estratégia. Em vez de tentar tomar o poder do Estado por meio de uma ofensiva militar nacional e coordenada, eles recorreram a uma guerra popular prolongada, para usar a linguagem vietnamita, para tomar e manter territórios no campo, preparando-se para um longo conflito militar. A Guatemala é igualmente forçada a se envolver em um conflito militar muito mais longo, mas com muito menos capacidade militar do que no caso salvadorenho. A insurgência guatemalteca nunca chega perto de derrubar o Estado, mas certamente é capaz de representar uma ameaça consistente à governança, o suficiente para provocar uma resposta.
JC
Os Estados Unidos treinaram, armaram e ofereceram grande parte do manual para essas forças especiais — criando a infraestrutura para desaparecimentos forçados, massacres, violência seletiva e prisões clandestinas. Nessa época, grande parte da liderança militar da Guatemala e de El Salvador havia sido treinada na Escola das Américas, um programa militar estadunidense especializado em “guerra de contrainsurgência”. Honduras também se tornou um importante centro de treinamento — um local para onde muitos militares salvadorenhos e guatemaltecos iam para serem treinados sob orientação estadunidense.
É aqui que se vê o surgimento de forças especiais de elite. Na Guatemala, os Kaibiles, um batalhão de resposta rápida formado na década de 1970, tornaram-se famosos por execuções extrajudiciais. Eles viriam a cometer algumas das mais graves violações de direitos humanos na Guerra Civil Guatemalteca.
No caso salvadorenho, o Batalhão Atlácatl, fundado em 1981 com treinamento dos EUA, foi responsável por um dos maiores massacres da guerra — o Massacre de El Mozote.
Não se tratava apenas de táticas militares — os Estados Unidos forneceram milhões de dólares a esses países para que se envolvessem nesse tipo de atividade. Grande parte da liderança política dos anos posteriores também será marcada por sua experiência com a guerra estadunidense na América Central.
O custo humano do xadrez da Guerra Fria
DD
Que tipo de regimes existiam na Guatemala e em El Salvador? Como eles representavam diferentes grupos de elite e administravam os diversos conflitos e contradições que surgiam entre essas elites?
HG
Mencionamos que, em meados do século, a região passou por um projeto frustrado de industrialização e integração regional que acabou sendo inteiramente subordinado às demandas do capital estadunidense e degenerou em conflitos entre os Estados desigualmente desenvolvidos da região. Mas esses esforços também criaram novas classes burguesas, mesmo refletindo mudanças globais mais amplas na economia política.
Na década de 1980, o neoliberalismo estava a todo vapor em grande parte do mundo. O golpe contra Salvador Allende no Chile ocorreu em 1973. Ronald Reagan estava no poder nos Estados Unidos, Margaret Thatcher estava no poder na Grã-Bretanha, e o modelo agroexportador que conseguiu se manter predominante na região estava sob forte pressão. As insurgências rurais que causavam estragos absolutos nessas enormes plantações aceleravam a crise de uma maneira diferente.
Dentro das elites, havia um conflito entre os oligarcas tradicionais proprietários de terras e muitos de seus filhos mais jovens, educados nos EUA e formados em administração de empresas. Essa geração mais jovem, que investia cada vez mais em interesses comerciais e financeiros, estava cada vez mais ligada a ativos e empreendimentos transnacionais e lutava por uma maneira de reintegrar a região a essa economia globalizada e neoliberalizada.
Ao mesmo tempo, os conflitos dentro das Forças Armadas também se intensificaram. Havia facções que aderiam ao nacionalismo desenvolvimentista, enquanto outras personificavam o anticomunismo mais sanguinário e reacionário que se podia imaginar. Os Estados Unidos manobravam entre essas facções, mudando seu apoio ao longo do tempo, à medida que esses conflitos se prolongavam e evoluíam.
Inicialmente, os EUA e essas elites locais pressionavam por vitórias militares em El Salvador e na Guatemala. Mas, com o fim da Guerra Fria e a mudança das condições globais e geopolíticas, o equilíbrio se inverteu. A facção que defendia a redução da violência — para que a América Central pudesse ser reintegrada às estruturas econômicas neoliberais — venceu. Os Estados Unidos acabaram favorecendo essas facções.
JC
O que diferencia esses dois países é a forma como as disputas pelo poder se desenrolaram dentro de suas forças armadas. Na Guatemala, diferentes alas das forças armadas disputavam o controle. No caso salvadorenho, houve tentativas de reforma para pôr fim à luta armada prolongada.
Mas não podemos perder de vista o incrível fanatismo anticomunista dos Estados Unidos, que se recusava a ceder terreno e que realmente encorajou as alas mais reacionárias dessas forças armadas nacionais. Isso levou diretamente ao governo do general evangélico cristão Efraín Ríos Montt na Guatemala — um período que testemunhou alguns dos massacres mais sangrentos da Guerra Civil Guatemalteca. A maioria das mortes e desaparecimentos ocorreu nessa época.
Aqui começa a “teoria do dominó” da Guerra Fria na América Central: se a Nicarágua caiu, El Salvador poderia ser o próximo, e a Guatemala precisava se manter. Também não podemos desconsiderar o papel do império estadunidense e sua mudança ideológica, que começou a apoiar os elementos mais reacionários desses aparatos militares. Foi isso que levou ao aprofundamento da crise social nesses países e à perda de tantas vidas — com impactos impossíveis de mensurar completamente.
Mas para os Estados Unidos, este é o fim da Guerra Fria, e a vitória precisa ser alcançada. A América Central se tornou um campo de batalha crucial para essa luta. O conflito remodelou a cultura política de muitos desses países de maneiras que tiveram efeitos duradouros no pós-guerra. Durante esse período, o reaganismo tornou-se a forma dominante de encarar qualquer tipo de dissidência política. Isso se observa em ambos os países, mas não devemos perder de vista como os Estados Unidos estão ditando muitas das regras em relação à atividade militar nacional.
HG
E não se tratava apenas de estratégia militar — tratava-se também de quando e em que termos as negociações poderiam ocorrer. Ao longo das guerras, houve diferentes aberturas para um possível diálogo com as quais os Estados Unidos se recusaram a se envolver. Foi somente quando os EUA se dispuseram a apoiar as negociações — que só começaram no final da década de 1980 — que surgiu um caminho diplomático para uma transição negociada.
Primeiro a sabotagem, depois as eleições
DD
Como esses regimes contrarrevolucionários em El Salvador e Guatemala se comparam à guerra suja que os EUA patrocinavam na Nicarágua?
HG
Muitas das táticas e práticas que estamos discutindo foram replicadas na Nicarágua. A perda de vidas foi enorme, com talvez 30.000 pessoas mortas — e o uso de terror, assassinato e violência sexual é tão disseminado quanto em outros lugares. Não é coincidência que essas pessoas tenham sido treinadas nos mesmos campos, nos mesmos lugares, pelas mesmas pessoas.
Mas a estratégia na Nicarágua foi diferente. Em vez de suprimir movimentos populares insurgentes, a estratégia rapidamente se tornou de desgaste. Não se tratava de tentar derrubar o regime, ao estilo da Baía dos Porcos.
Os Contras optam por esgotá-los, fomentar a dissidência, semear dúvidas sobre a capacidade do governo de governar — e, mais crucialmente, tornar impossível governar. A sabotagem da infraestrutura e os danos econômicos causados pela guerra cobraram um preço enorme dos sandinistas. Isso os forçou a desviar recursos que poderiam ter sido usados para desenvolvimento e reformas — colocando-os em uma posição defensiva que, eventualmente, resultou na perda de poder em uma eleição. Essa eleição basicamente apontou uma arma para a cabeça do povo nicaraguense, dizendo: Vocês querem que esta guerra acabe ou não?
JC
A Guerra dos Contras foi fundamentalmente uma guerra ideológica — uma guerra para desacreditar o governo sandinista. Os sandinistas detinham o poder estatal, tinham os militares ao seu lado e contavam com apoio popular. Um tipo diferente de guerra foi travado — uma guerra que era tanto cultural quanto militar.
Houve uma tentativa de “estadunizar” a Nicarágua para demonstrar que o governo revolucionário dos sandinistas não conseguia modernizar o país adequadamente. Os Estados Unidos financiaram a guerra dos Contras na tentativa de expor as falhas do próprio governo sandinista.
Houve escaramuças militares na Nicarágua rural, com forças Contra vindas de Honduras, mas isso é apenas parte da história. O verdadeiro impacto foi que os Contras eram em grande parte compostos pelos próprios nicaraguenses — aqueles que estavam insatisfeitos com o projeto da FSLN.
Eles conseguiram alavancar a insatisfação interna por meio de um exército Contra liderado pela Nicarágua. Isso motivou as pessoas a se juntarem aos Contras e criou a ilusão de uma revolta interna. O objetivo era minar o projeto da FSLN — uma tentativa de apagar as verdadeiras conquistas da revolução.
“Óscar Romero escreveu um famoso apelo ao presidente Carter, implorando-lhe que parasse de financiar a ditadura militar. Poucos meses depois, ele foi morto a tiros enquanto celebrava uma missa em San Salvador.”
Nesse ponto, essas conquistas eram bastante visíveis em termos de níveis de alfabetização, acesso da população à água e alimentos, níveis mais elevados de educação e assim por diante. O projeto da Nicarágua atraiu tanta atenção internacional justamente por seus incríveis sucessos. E esse modelo — essa ideia de que um exército guerrilheiro revolucionário que toma o poder pela força poderia reconstruir uma sociedade melhor — era uma imagem muito ameaçadora para os Estados Unidos.
A guerra dos Contras foi uma tentativa deliberada de manchar essa imagem. Em El Salvador e na Guatemala, programas de rádio e televisão foram usados para demonizar a esquerda armada, mas na Nicarágua, esse tipo de ataque ideológico foi a estratégia principal. Os Estados Unidos tiveram que minar toda a ideia do sandinismo para criar insatisfação suficiente para provocar sua queda.
Na época das eleições de 1990, essa estratégia já havia funcionado. Os sandinistas — comprometidos com a governança democrática — respeitaram os resultados das eleições. Mas a guerra e a implacável pressão ideológica já haviam garantido sua derrota. Não foi uma vitória militar; foi um colapso político arquitetado pelos EUA — que levou à tomada do poder pelo governo de Violeta Chamorro.
HG
A outra distinção que vale a pena mencionar é que a guerra dos Contras foi ostensivamente secreta. O caso Irã-Contras é uma conspiração insanamente elaborada e vertiginosamente complexa que envolve muitos atores e fontes de financiamento diferentes. Isso é diferente do que aconteceu em El Salvador e na Guatemala, onde o apoio dos EUA era público. O Congresso votava ativamente sobre a ajuda, mesmo com debates e restrições — que eram constantemente subvertidos. Estava acontecendo para o mundo ver — enquanto o que aconteceu na Nicarágua foi muito mais sinistro.
Intervenção bipartidária
DD
Onde se encaixa a intervenção militar dos EUA na América Central neste projeto imperial estadunidense mais amplo e duradouro? Deveríamos encarar essas guerras sujas como um projeto fundamentalmente direitista, reaganista e anticomunista extremista? Ou mais como uma manifestação extrema de um imperialismo estadunidense bipartidário mais regular?
HG
De certa forma, são as duas coisas. O projeto de contrainsurgência antecede significativamente Reagan. A Aliança para o Progresso na região tinha uma face pública muito diferente, mas ajudou a lançar as bases para o projeto de vigilância paramilitar e contrainsurgente que atingiria níveis extremos na década de 1980. Nesse sentido, acredito que tanto democratas quanto republicanos certamente têm muito sangue em suas mãos.
Óscar Romero escreveu um famoso apelo ao presidente Jimmy Carter, implorando-lhe que parasse de financiar a ditadura militar. Poucos meses depois, ele foi morto a tiros enquanto celebrava uma missa em San Salvador — e Carter nunca respondeu ao seu apelo.
A tese de Greg Grandin é muito convincente — ele argumenta que a América Central se tornou o palco para a remoralização da política externa estadunidense promovida por Reagan após a derrota no Vietnã. Acredito que há muita verdade nisso: poderia ser enquadrada como uma cruzada na qual os Estados Unidos poderiam voltar a ser os mocinhos. Obviamente, a realidade foi o oposto, mas foi assim que essas intervenções foram apresentadas à coalizão de neoconservadores e evangélicos que formavam a base do reaganismo.
JC
Como você disse, é um pouco dos dois. A abordagem de Reagan foi talvez a mais extravagante, em termos de como é lembrada por ser uma cruzada anticomunista — por tentar vingar as derrotas do Vietnã.
Mas, de certa forma, isso faz parte do imaginário estadunidense. A abordagem de Reagan foi definidora, mas não exclusivamente republicana — era algo bipartidário. Carter também desempenhou um papel, embora com uma nova linguagem em torno dos direitos humanos que não constava no léxico de Reagan.
Com Carter, temos a mediação do Canal do Panamá, que marcou uma transição — da violência militar aberta para uma abordagem mais política para manter o domínio dos EUA na região. Não há como separar os dois — este sempre foi um esforço bipartidário.
Publicado originalmente em: https://jacobin.com.br/2025/05/oligarquia-imperio-e-revolucao-na-america-central/