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O Congo É Aqui!

 

Por: Liszt Vieira | Créditos foto: (Reprodução/Facebook)

A mãe de Moïse Kabagambe, o jovem congolês assassinado a pauladas no quiosque Tropicália, no posto 8 da Barra da Tijuca, fez uma declaração impactante: “Mataram meu filho aqui como matam em meu país”.

O jovem foi cobrar a quantia de 200 reais a que tinha direito por 2 dias de trabalho não pago. O gerente do quiosque, cujo nome a Polícia não quis divulgar – mas que circulou nas redes sociais – chamou quatro pessoas, provavelmente seguranças, que espancaram Moïse com um bastão de beisebol até a morte. A câmera de segurança do quiosque filmou a cena estarrecedora. Parece filme de terror.

Atribuir esse assassinato apenas a racismo, xenofobia ou desprezo a um pobre trabalhador informal, parece insuficiente. Na realidade, vem se instalando no Brasil uma Cultura de Ódio divulgada pelas redes bolsonaristas desde o primeiro dia do Governo Bolsonaro.

Por trás de muitas atividades no Rio de Janeiro, como fornecimento de gás, acesso a canais de TV, compra de alimentos, serviços de delivery e segurança, até mesmo pontos de rua de mendigos, existe a dominação das milícias. Além de suprir, cobrando caro, necessidades básicas, controlam tráfico de armas e drogas, muitas vezes em confronto com traficantes nas favelas.

Hoje, cerca de 50% da cidade, no mínimo, se encontra sob o controle das milícias que passaram a crescer de forma assustadora após a eleição de Bolsonaro. O livro A República das Milícias – Do Esquadrão da Morte À Era Bolsonaro, de Bruno Paes Manso, mostra a íntima relação das milicias com setores da Polícia Militar, Polícia Civil e até mesmo baixos escalões do Exército.

Chamou a atenção a performance do general Braga Neto, atual Ministro da Defesa, quando foi interventor militar na Segurança Pública no Rio de Janeiro, em 2018. Atacou os traficantes nas favelas e ignorou as milícias, que continuaram crescendo, controlando novos territórios na cidade e se fortalecendo com a liberação da compra de armas e munições, sem controle. Tudo com as bênçãos do Presidente da República e a aprovação tácita das Forças Armadas!

No Rio de Janeiro, o Estado é múltiplo. Para o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), o que define o Estado é o monopólio do uso legítimo da força num território. Isto é, dentro de um determinado território, nenhum outro grupo, além do Estado, tem o poder de obrigar, cobrar, taxar e punir. Ora, obrigar, cobrar, taxar e punir é exatamente o que fazem as milícias que controlam metade do território do Rio de Janeiro. E já se expandiram para diversos outros municípios.

A partir do Poder central, a barbárie recebeu forte impulso para se expandir na sociedade. Nenhuma surpresa. Todo mundo sabia que o candidato Bolsonaro defendia as milícias, tortura, armas para todos, guerra civil, o caos e a ditadura militar. Seu herói anunciado era o coronel Brilhante Ustra, torturador e assassino de presos políticos que chegou ao cúmulo de colocar rato na vagina das presas políticas. Bolsonaro anunciou: Vim para destruir, não para construir. Destruiu muita coisa, mas a Democracia resiste.

Em 2018, ele enganou quem queria ser enganado.

 

Veja em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Antifascismo/O-Congo-e-Aqui-/47/52626

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