Por: Horacio Rovelli | Crédito Foto: (Reprodução)
A Argentina não precisa fazer um ajuste fiscal e comercial brutal, mas o fará, para honrar uma dívida que foi assumida sem o consentimento da população sem cumprir os mandatos constitucionais que exigem autorização prévia do Congresso Nacional e inclusive violando o próprio estatuto do FMI (Fundo Monetário Internacional), em seu artigo 6º, onde diz que não pode se conceder crédito a um país para ser usado na fuga de capitais – e foi exatamente isso o que fizeram, endividaram a Argentina para beneficiar uma minoria parasitária e rentista, conforme admite o próprio Banco Central Argentino.
Em 21 de maio de 2020, o Banco Central publicou o informe “Mercado cambial da dívida e formação de ativos estrangeiros, 2015-2019”, que mostra como a dívida assumida pela administração de Mauricio Macri tinha como objetivo viabilizar a fuga de capitais do período entre dezembro de 2015 e outubro de 2019, que movimentou um total de 86,2 bilhões de dólares. Segundo os dados, cerca de 85% dos recursos adquiridos naquele empréstimo não foram investidos no país, se tornaram ativo financeiro de argentinos residentes no exterior.
Além disso, este informe sustenta que, em total, 6,7 milhões de pessoas físicas e pouco mais de 85 mil pessoas jurídicas compraram os 86,2 bilhões de dólares durante o governo macrista, mas as 100 maiores adquiriram 24,7 bilhões.
Nem o Banco Central – que elaborou a lista – nem o governo nacional divulgaram os nomes daqueles que compraram as moedas com as quais se endividava o Tesouro argentino. O periódico digital Cohete a la Luna publicou, em maio de 2020, uma matéria chamada “Os 100 de Macri”, datada de 24 de maio de 2020, assinada por seu diretor, Horacio Verbitsky, com uma lista de nomes de compradores que nunca foi negada pelos interessados %u20B%u20Bou pelo Banco Central.
Entre esses grandes evasores de capitais estão a Telefónica Argentina, com 1,24 bilhão de dólares; Pampa Energia SA (grupo Midlin), com 903,9 milhões de dólares. Outros casos são os das empresas e holdigns como Monsanto Argentina SA (de Gustavo Idígoras, destacado membro do Conselho Agroindustrial Argentino), Grupo Clarín, Telecom Argentina, Banco HSBC e Grupo Techint.
Outros ganhadores são a Hidrovia Paraná AS, a empresa que detém a concessão da dragagem do Rio Paraná; a petroleira General Deheza, uma das grandes beneficiárias das privatizações e concessões do movimento Menem, que possui três portos próprios; a Arcor AS, da família Pagani; o Grupo Galiza, das famílias Braun, Ayerza e Escasanny; e o Grupo IRSA de Eduardo Elsztain, entre outros.
Nenhuma das 100 empresas da lista das que compraram 24,7 bilhões de dólares, conseguiu pagar metade dos dólares que compraram, o que representa crime de evasão fiscal e fuga de capitais para compradores, além de violação de leis, incluindo o de lavagem de dinheiro por parte dos bancos, que vendiam esses dólares do Banco Central e sem precisar a origem dos fundos.
Ajuste externo e dependência
Sempre, de acordo com a declaração dos exportadores, eles atingiram a soma de 77,9 bilhões de dólares no ano de 2021, dos quais o consórcio CIARA-CEC (sigla em espanhol da Câmara da Indústria dos Produtores de Azeite da Argentina – Centro Exportador de Cereais) vendeu no exterior por 32,8 bilhões, o que representou um aumento nas receitas cambiais de 61,8% com relação a 2020, e um recorde absoluto neste século.
Observa-se que as exportações de produtos primários crescem sua participação de 21,91% no período 2003-2015 para 25,41% em 2016-2019, e logo a 28,64% em 2021.
As MOA (Manufaturas de Origem Agropecuária, como farinhas azeite e biocombustíveis) cresceram de 35,29% para 38,01% e 39,71% respectivamente.
Os produtos primários e MOAs representaram 68,35% das exportações da Argentina em 2020-2021. Entre 2003 e 2015, representaram 57,2%.
AS MOI (Manufaturas de Origem Industrial), por outro lado, diminuíram de 32,6% no período 2003-2015, para apenas 25,04% nos anos 2020-2021, apesar do fato de que, após a desvalorização do peso desde 2018, o salário em dólares do trabalhador da indústria é inferior ao do Brasil, razão pela qual todo o setor automotivo produz mais peças na Argentina do que no país vizinho.
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