Renda média real do trabalhador subiu 7,7% e desemprego caiu 2,9 pontos em um ano, segundo o IBGE. Movimento sinaliza recuperação da economia e expansão do mercado consumidor, avaliam especialistas.
Por: Fábio Corrêa | Créditos da foto: Brunno Covello/dpa/picture alliance. Rendimento médio teve seu maior aumento no grupo agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura
A primeira divulgação da pesquisa do IBGE sobre o desemprego no ano de 2023 indica uma trajetória de recuperação de longo prazo do mercado de trabalho brasileiro. Há mais emprego por carteira assinada, mais pessoas ocupadas e, principalmente, crescimento no rendimento dos trabalhadores em todo o país.
De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua divulgados nesta sexta-feira (17/3), a taxa de desocupação no país no trimestre encerrado em janeiro atingiu 8,4%, o que representa o contingente de 9 milhões de brasileiros ativamente em busca de trabalho.
No trimestre anterior, encerrado em outubro de 2022, a taxa era de 8,3%, o que pode ser considerado estabilidade. No entanto, em relação ao mesmo período do ano anterior, os números do instituto mostram uma queda de 2,9 pontos percentuais, com 3 milhões de pessoas a menos na situação do desemprego. A taxa para o trimestre encerrdo em janeiro foi a menor desde 2015.
De acordo com economistas consultados pela DW, o dado traz otimismo, pelo menos para os próximos meses. Além da queda do desemprego, o aumento da renda média do trabalhador dá indícios de que o período de carestia, causado principalmente pela pandemia da covid-19, pode ter chegado ao fim.
Para se ter uma ideia do avanço do emprego do país, há dois anos, no trimestre terminado em janeiro de 2021, o percentual de desocupados era de 14,5% da população economicamente ativa. Esse número subiu para 14,8% no trimestre terminado em abril de 2021, mas, a partir disso, registrou uma trajetória de queda até o trimestre encerrado em outubro de 2022.
De acordo com a coordenadora-geral da PNAD Contínua, Adriana Beringuy, o cenário atual é “bem mais favorável” do que há um ano, apesar de a atual taxa de desocupação, de 8,4%, ainda estar em patamar elevado. “Mas é considerável que ela vem recuando bastante, principalmente no último ano”, explica Beringuy.
Aumento da renda e do mercado consumidor
Um dos números que mostram mais claramente a recuperação do mercado de trabalho é a renda dos brasileiros. Segundo a PNAD Contínua de janeiro, o rendimento real no país, já descontada a inflação, cresceu 1,6% em relação ao trimestre anterior, e 7,7% na comparação anual, chegando a uma média mensal de R$ 2.835. Em janeiro de 2022, o valor médio era de R$ 2.633.
Já a massa de rendimento real habitual, ou seja, o total de todos os rendimentos de pessoas ocupadas no país, ficou estável no trimestre, mas teve um incremento de 11,9% em 12 meses, apontando um total de R$ 275,1 bilhões, de acordo com o IBGE.
Para o professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mário Rodarte, esse dado indica um mercado consumidor em crescimento no país. “Esse aumento da massa de rendimentos, que não se via há muito tempo, é bem interessante. Isso dá uma ideia do mercado consumidor, esse crescimento pode dar indícios do que pode estar por vir, porque o mercado consumidor dá uma certa sustentação aos movimentos próximos ao mercado de trabalho”, explica.
Segundo a pesquisa, esse aumento de rendimentos foi visível em todas as atividades, com destaques na comparação anual para o grupo agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (11,7%), indústria (7,1%), construção (8,5%) e alojamento e alimentação (9,5%).
“Na comparação anual, tivemos uma alta no emprego, acima do crescimento vegetativo, com uma queda substancial do número de desocupados e um crescimento de 3 milhões nos postos de trabalho. Isso mostra, ainda que de forma tímida, mas bem interessante, um certo aquecimento do mercado de trabalho”, acrescenta Rodarte.
Mais carteira assinada
Outro ponto de destaque na PNAD Contínua de janeiro foi o aumento, em um ano, das contratações por carteira assinada no setor privado em 6,5%, com mais de 2,3 milhões de pessoas entrando no regime CLT. A alta foi maior até mesmo nos empregados sem carteira assinada no setor privado, de 5,9% em um ano, e dos trabalhadores por conta própria, que se manteve estável. A informalidade ficou em 39% (38,5 milhões de trabalhadores), menor que os 40,4% no mesmo trimestre do ano anterior.
“Assim que entrou a pandemia, a taxa de informalidade caiu abruptamente”, diz Beringuy, do IBGE, que acrescenta que esses trabalhadores também foram os primeiros a reagir durante a crise sanitária no Brasil. “Ao longo de 2021, esse número de informais cresceu bastante. Só que, ao longo de 2022, passamos a ter um crescimento importante do emprego com carteira assinada no setor privado e, relativamente, a informalidade foi perdendo um pouco de força”, acrescenta.
Para Mário Rodarte, da UFMG, é visível um movimento do autoemprego para o emprego nos últimos meses, ou seja, com pessoas encontrando inserções mais interessantes no mercado de trabalho. “Vemos que a queda mais substanciosa de ocupados aconteceu no trabalhador familiar auxiliar, ou seja, quem estava ajudando no negócio da família talvez tenha saído para uma ocupação em outro local”, explica. Em quantidade, esse número de pessoas que trabalha “de graça” para familiares passou de 1,9 milhão em janeiro de 2022 para 1,5 milhão no primeiro mês deste ano.
Tendência para os próximos meses
Segundo o pesquisador da UFMG, a política adotada em período eleitoral no governo Jair Bolsonaro de conceder benefícios a diversas categorias, como caminhoneiros e taxistas, e aumentar os valores médios concedidos por programas de distribuição de renda como o então Auxílio Brasil, contribuiu para injetar recursos na economia e reaquecer o mercado de trabalho.
Rodarte afirma que, com políticas já aprovadas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva
sobre o aumento do salário mínimo, os reajustes no setor público e até mesmo na concessão de bolsas de pesquisas, esse movimento deve continuar, a princípio, pelo menos nos meses seguintes.
“Isso tudo está acontecendo em um momento em que a construção civil ainda não está animada, porque é um dos setores que mais emprega no país, e está estagnada, com queda de 0,2% na ocupação. O governo está sinalizando mais recursos do Minha Casa Minha Vida, e isso pode estimular um setor que ainda não deu sua cara”, explica o economista.
Para Adriana Beringuy, que coordena a pesquisa do IBGE, janeiro, por estar ligado a férias e ser o primeiro mês do ano, possui algumas particularidades, como uma menor busca por emprego e um aquecimento de setores como hotelaria e alojamento. “É muito cedo para pintar um movimento, porque é um mês de transição de sazonalidades, que acabam interferindo na dinâmica do mercado de trabalho. Esse movimento de recuperação, se vai continuar ou ter perda de fôlego, vamos saber só ao certo nos próximos meses”, diz.
Já Rodarte, da UFMG, aponta que uma possível redução dos juros básicos, por parte do Banco Central, pode ajudar o mercado de trabalho, com o crédito ficando mais barato para o setor privado. “O pequeno e o médio empresário, no Brasil, sempre estão com o freio de mão puxado, no sentido que eles fazem o investimento baseado no próprio pé de meia. Então, havendo uma redução da taxa de juros nas próximas reuniões do Copom, pode acontecer algo melhor”, afirma.
Veja em: https://www.dw.com/pt-br/renda-m%C3%A9dia-cresce-e-desemprego-cai-em-um-ano-no-brasil/a-65031051
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