O mito de democracia racial no Brasil foi sustentado pela ausência da segregação racial institucionalizada no país, em contraposição aos Estados Unidos, com as leis de Jim Crow. Essas leis proibiram, até a década de 1960, o convívio de brancos e negros em vários espaços públicos naquele país, restringindo o acesso da população negra a diversos serviços, em particular a educação. A narrativa da convivência pacífica entre as raças no Brasil surge em oposição ao regime de segregação nos EUA, reforçando nossa imagem como a de um país onde distinções de cor não têm relevância social.
Ao longo do século 20, a ideia de harmonia racial no Brasil passou a ser amplamente questionada. Pensadores como Florestan Fernandes e Abdias do Nascimento mostraram que, por trás da fachada de convivência pacífica entre brancos e negros, havia desigualdades estruturais históricas. Com o avanço das técnicas de análise de dados, os estudos contemporâneos passaram a expor com clareza os abismos entre brancos e negros, especialmente na educação.
No entanto, a literatura especializada em desigualdades educacionais têm evitado discutir o papel da segregação escolar na perpetuação das desigualdades, mantendo uma oposição entre o Brasil, visto como um “paraíso racial”, e os EUA, marcados pela segregação. As explicações socioeconômicas tendem a ignorar como os indivíduos são alocados entre as escolas, enquanto as análises sobre a discriminação se atém apenas nas salas de aula, desconsiderando a alocação desigual de recursos entre escolas.
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