Em entrevista, ele propõe duas medidas que desafiam a lógica neoliberal: uma Renda Básica efetiva e serviços públicos de excelência para todos. Seu livro, disponível em texto e vídeos, é um ótimo programa para a Quarentena
CRISE CIVILIZATÓRIApor Ladislau Dowbor
Em meio à multiplicação das mortes e dramas, a pandemia traz alguma esperança. Quando tudo passar, não será possível viver como antes, comenta-se e se escreve com frequência. Há uma encruzilhada à frente. A ditadura financeira procurará dominar a sociedade como nunca, ampliando o ataque aos direitos sociais e serviços públicos lançado após a crise de 2008. Mas esta ameaça enfrentará resistência e – novidade essencial – alternativas. O economista Ladislau Dowbor debruça-se há anos sobre elas.
Em breve entrevista, na última quinta-feira (2/4), ele apontou duas transformações pelas quais é preciso lutar desde já. São claras, compreensíveis e opostas à lógica de competição predatória e acumulação infinita que marca o capitalismo contemporâneo. É preciso instituir uma Renda da Cidadania real, suficiente para uma vida digna. E uma espécie de Revolução do Comum deve assegurar a todos, e de modo igualitário, serviços de excelência em saúde, educação, transporte, segurança, moradia aprazível, rios limpos etc.
Ladislau faz contas simples, mas normalmente ocultas pelos interesses hegemônicos. As riquezas socialmente produzidas, no mundo e no Brasil, já são suficientes para assegurar dignidade material a todos. O PIB per capita brasileiro, semelhante ao global, é de cerca de R$ 3 mil mensais. Mecanismos de concentração extrema represam estes recursos, promovem simultaneamente a pobreza maciça e o consumismo e devastação desvairados, dilapidam inclusive os sistemas de Saúde que poderiam enfrentar a pandemia atual. Para ser efetiva, uma Renda da Cidadania universal deve ter claro sentido redistributivo: não é uma ajuda aos necessitados, mas a parcela a que cada pessoa tem direito pelo fato de existir. Neste sentido, tem caráter não-mercantil. Do mesmo modo, devem ser não-mercantis as melhores escolas e hospitais; e o Estado precisa ter condições de investir maciçamente em redes de trens e metrôs, saneamento, despoluição, transformação urbana das periferias, energias limpas.
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As propostas de Ladislau resultam de uma longa trajetória em Economia Pública. Nos anos 1970 e 80, ele assessorou governos que tentavam livrar-se da herança colonial – como Nicarágua e Guiné-Bissau. Entre 1989 e 92, como secretário de Negócios Extraordinários da prefeita Luiza Erundina, em São Paulo, atuou em especial nas áreas de Meio Ambiente e Relações Internacionais. Foi consultor de agências da ONU, projetos de desenvolvimento local, bancos públicos e municípios.
Nos últimos anos, dedicou-se ao exame do capital financeiro. Seus estudos, crucialmente necesssários para compreender a crise atual e as saídas, estão disponíveis para todos. São um excelente programa para tempos de reclusão e afastamento físico. O livro A Era do Capital Improdutivo, coeditado por Outras Palavras, pode ser baixado e lido aqui (também é possível adquirir exemplares impressos na editora Autonomia Literária, nossa parceira).
Há também uma versão em vídeo. Ladislau adaptou o livro em uma série de quinze programas – um para cada capítulo da obra. Podem ser seguidos em grupo, com apoio do Instituto Paulo Freire, ou de modo individual. Estão, todos, disponíveis aqui. Duram entre 10 e 15 minutos. Provocam para um prazer que se tornou indispensável: questionar o mundo, tramar sua transformação.
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