Apesar de números oficiais indicarem apenas 85 mortes por coronavírus e cerca de 2 mil infecções, profissionais de saúde relatam falta de testes. Defensoria Pública diz que há subnotificação de casos.
Isolado na emissora de rádio onde trabalha em Belém, Angelo da Costa Tupinambá fala com um pouco de dificuldade. Entre uma pausa e outra, que faz para recuperar o fôlego, ele conta por telefone à DW Brasil que tem sofrido com falta de ar e perda de olfato, sintomas associados à covid-19.
“Estou evitando ao máximo sair daqui para ir a uma unidade básica de saúde diante do caos generalizado no sistema”, conta Tupinambá, de 39 anos. “Está tudo lotado, algumas unidades nem atendem mais”.
Os sintomas apareceram depois que Tupinambá permaneceu ao lado do sogro, de 69 anos, que estava doente. Após várias idas ao hospital, ele acabou morrendo em casa, há uma semana, em decorrência de uma síndrome respiratória aguda grave. O resultado do teste para comprovar se a morte pode ter sido causada pela covid-19 ainda não ficou pronto.
Desesperada, a família teve ainda que esperar mais de 12 horas após o óbito pelo transporte do corpo pelo serviço funerário municipal, que estaria sobrecarregado.
As denúncias sobre o suposto caos funerário chegaram à Defensoria Pública Estadual do Pará. “Já houve um aumento exponencial de mortes”, diz a defensora Rossana Parente Souza sobre os impactos da pandemia na capital paraense. “Os números oficiais não estão acompanhando o que está acontecendo na realidade.”
Segundo a contagem oficial da prefeitura, até esta terça-feira (28/04), Belém, com 1,4 milhão de habitantes, confirmou 2.047 casos de covid-19 e 85 mortes em decorrência do novo coronavírus. Mais de 400 testes aguardam resultado.
Nos três cemitérios municipais, a movimentação, no entanto, indica um cenário mais grave. Segundo a investigação da Defensoria Pública, o Serviço de Verificação de Óbito, acionado apenas em casos de mortes não violentas, foi chamado para recolher 65 corpos de prováveis vítimas da covid-19 apenas no último domingo. Antes da pandemia, a média diária era de sete chamadas. Em cidades da região metropolitana, como Ananindeua, enterros não puderam ser feitos devido à falta de guia de sepultamento.
Com o aumento das mortes, um caminhão frigorífico, com 50 corpos, estacionado em frente ao Instituto Médico Legal (IML) já funciona como uma extensão do prédio. Segundo o contrato publicado pela prefeitura, o aluguel do veículo, de 72 mil reais mensais, se estende até novembro de 2021.
“Existe muita subnotificação”, avalia Luana Pereira, defensora pública que também atua em Belém. “Estamos só no início da contaminação aqui na região e já estamos nessa situação”, lamenta.
Procurada pela DW Brasil, a prefeitura de Belém não se manifestou até o fechamento da reportagem.
Saiba mais em: https://www.dw.com/pt-br/covid-19-lota-hospitais-e-gera-colapso-funer%C3%A1rio-em-bel%C3%A9m/a-53278521
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