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Como um diplomata desobediente ajudou a salvar milhares de judeus do Holocausto

Oitenta anos atrás, um diplomata de meia-idade e de médio escalão caiu em uma profunda depressão. Seus cabelos embranqueceram em questão de dias, enquanto vias as ruas de Bordeaux, na França, se enchendo de refugiados judeus fugindo dos nazistas.

James Badcock Madrid

Como cônsul de Portugal em Bordeaux, Aristides de Sousa Mendes enfrentou um dilema moral. Ele deveria obedecer às ordens do governo ou ouvir sua própria consciência e fornecer aos judeus os vistos que lhes permitiriam escapar do avanço das forças alemãs?

Sousa Mendes optou pela vida em detrimento de sua carreira. Sua decisão lhe deu status de herói entre os sobreviventes e descendentes dos milhares que ajudou a fugir.

Por causa dela, no entanto, ele perdeu o emprego e passou o resto de sua vida em penúria. Na época, Portugal vivia sob a mão de ferro do ditador António Salazar.

No dia 9 de junho, Portugal finalmente concedeu reconhecimento oficial ao diplomata, e o Parlamento do país decidiu que um monumento no Panteão Nacional deveria levar seu nome.

Por que Bordeaux?

Em meados de junho de 1940, as forças de Hitler concluíam a vitória sobre a França. Paris caiu em 14 de junho e um armistício foi assinado pouco mais de uma semana depois.

O corpo diplomático de Portugal seguia estrita orientação da ditadura de direita de Salazar: os vistos deveriam ser concedidos a judeus refugiados e apátridas somente com permissão expressa de Lisboa.

Aristides de Sousa Mendes (direita) com rabino Chaim Kruger, em 1940
Image captionRabino Chaim Kruger disse a Sousa Mendes que não podia abandonar os milhares de outros refugiados judeus em Bordeaux

Para aqueles que lotavam as ruas de Bordeaux na esperança de atravessar a Espanha e escapar da perseguição nazista, não havia tempo para esperar.

“Ouvimos dizer que os franceses se renderam e os alemães estavam em movimento”, diz à BBC Henri Dyner. Judeu, Dyner tinha três anos na época, mas guarda lembranças vívidas da fuga de sua família de sua casa em Antuérpia, quando a Alemanha nazista atacou a Bélgica e invadiu a França e a Holanda.

“O que eu lembro é o som do bombardeio, que deve ter me acordado, e minha mãe me dizendo que era um trovão.”

Antonio De Oliveira Salazar faz revista de tropas portuguesas das ilhas dos Açores em Lisboa, em 22 de outubro de 1940
Image captionSalazar (à esq.) manteve Portugal neutro durante a Segunda Guerra Mundial

“Meus pais ligaram o rádio e ouviram o rei Leopoldo dizer aos belgas que havíamos sido traídos e atacados pelos alemães. Meu pai suspeitava que poderia haver uma guerra desde 1938. Ele tinha um plano e um carro”, lembra Dyner, agora um engenheiro aposentado que vive em Nova York.

Eliezar Dyner, sua esposa Sprince e outros cinco parentes, incluindo um bebê de sete meses, fugiram do ataque e entraram na França.

“Meu pai evitou grandes estradas, distanciou-se de Paris e ficamos presos à costa. Ele queria estar apenas 16 quilômetros à frente do front o tempo todo, porque achava que poderia ser uma guerra rápida. Qual seria a razão para ir longe demais se teríamos que voltar à nossa casa? “

Depois de ver aviões de guerra alemães bombardeando trincheiras francesas e ouvir as notícias de sucessivas vitórias do Eixo, o pai de Henri percebeu que, quando chegaram a Bordeaux, não conseguiriam voltar à Antuérpia tão cedo.

Saiba mais em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-53081420

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