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Apoiadores de Evo Morales bloqueiam estradas para exigir eleições

Protesto de camponeses contra adiamento do pleito complica a ação contra a crise sanitária da covid-19

Fernando Molina

As rodovias da Bolívia estão bloqueadas em pelo menos 70 pontos por grupos de camponeses que protestam contra o adiamento das eleições. As manifestações foram convocadas por sindicatos simpáticos ou diretamente ligados ao Movimento ao Socialismo (MAS), o partido do ex-presidente Evo Morales, o único a defender a realização das novas eleições presidenciais em 6 de setembro, data escolhida pelo Parlamento. Alegando razões sanitárias, o Tribunal Eleitoral adiou a votação para 18 de outubro.

O Governo culpou os bloqueios pela falta de oxigênio e medicamentos para pacientes com covid-19 em várias cidades. “Pedimos aos dirigentes da COB (Central Operária Boliviana) que pensem no dano que suas medidas estão ocasionando. Peço-lhes mais uma vez que deixem de bloquear e cuidem do nosso povo”, tuitou a presidenta interina, Jeanine Áñez. O principal dirigente dos protestos, o secretário-geral da COB, Juan Carlos Huarachi, processado penalmente por ter convocado bloqueios, pediu aos mobilizados que permitam a passagem de ambulâncias, medicamentos e oxigênio. “Nossa luta é pela saúde, e não podemos prejudicar os hospitais”, afirmou.

Segundo o representante de uma fábrica de oxigênio medicinal situada na zona rural de La Paz, o chamado não está sendo atendido: os bloqueios estão impedindo que a empresa funcione normalmente. Huarachi pediu desculpas à população pela “irritação e transtorno” que a decisão do Tribunal Eleitoral de adiar as eleições causou para os trabalhadores e camponeses. Evo Morales, acusado pelo governismo de estar por trás da atuação dos sindicatos, convocou um diálogo entre estes e a instituição eleitoral, que “não pode apoiar tentativas de um Governo de fato de se prorrogar e impedir um processo eleitoral”. O Tribunal Eleitoral e a COB se reunirão nas próximas horas para discutir os critérios contrapostos.

Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) manifestou pelo Twitter “seu repúdio a qualquer tipo de bloqueio de equipes médicas, confrontações e incidentes de violência contra a integridade física das pessoas ou contra a propriedade pública e privada, assim como o uso desnecessário e excessivo da força pública na Bolívia”. Algo semelhante fez o escritório das Nações Unidas na Bolívia.

Os bloqueios também foram amplamente condenados nos meios de comunicação e nas redes sociais, frequentemente com insultos racistas. “Selvagens”, “andinos que preferem a morte à vida”, “pagos pela narcocorrupção de seu chefe Morales” e outros epítetos como estes foram publicados. O clima nas redes é parecido ao que se observava no começo de ano, quando as classes médias urbanas ainda não haviam se dividido em torno da candidatura e da gestão governamental de Áñez, e havia na época um consenso contra o MAS e seus dirigentes.

Segundo o analista Pablo Stefanoni, “os bloqueios de organizações sociais, muitas delas simpáticas ou ligadas ao MAS, mostram força nas ruas, mas enfraquecem a capacidade de irradiação deste partido para as cidades e os eleitores em dúvida, que poderiam decidir dar uma nova chance ao MAS, dada a enorme ineficiência do Governo de Áñez. Um mês e pouco de adiamento eleitoral não parece razão suficiente para bloqueios radicais e, justo quando o MAS precisa recompor o apoio urbano, essas ações o mostram como insensível à emergência da covid-19”.

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