Não é fácil explicar ideias relativamente complexas de forma simples e clara. Pergunte a qualquer professor.
Por Michael Roberts
Não é fácil explicar ideias relativamente complexas de forma simples e clara. Pergunte a qualquer professor. É uma habilidade que falta a muitos. Hadas Thier teve um sucesso brilhante nesse desafio com seu livro de introdução à economia marxista. Ela faz chegar a nós uma explicação clara, direta e divertida de todas as percepções teóricas básicas de Marx sobre a natureza do capitalismo e seu desenvolvimento.
E ela faz isso usando exemplos modernos que ajudam o leitor a entender por que a economia política marxista é tão exemplar em sua análise da realidade das economias capitalistas modernas. Eu diria que ninguém fez melhor – e eu deveria saber porque eu tentei fazer isso no passado, mas sem chegar nem perto do sucesso de Thier.
Acho que parte da razão para a façanha de Thier é que ela é uma ativista no movimento trabalhista e não uma economista acadêmica. Na minha experiência, os economistas marxistas acadêmicos geralmente não têm capacidade de explicar claramente as ideias econômicas políticas marxistas para os outros. Thier refere-se à sua própria experiência: “quando eu peguei pela primeira vez um livro sobre economia, eu completei cerca de duas páginas antes de desabar em lágrimas, sentindo-me sem esperança de que pudesse entender economia. O sistema capitalista em geral, e a economia em particular, são propositalmente mistificados. Analisar o modo como o capitalismo funciona é deixado para ‘os especialistas’, e se as coisas parecem um pouco estranhas para você, bem, isso deve ser porque você não é muito esperto. Isso acontece duplamente e triplamente para pessoas da classe trabalhadora, mulheres, pessoas não brancas e outros círculos eleitorais oprimidos que são diariamente barrados com a mensagem de que não podemos esperar compreender sistemas e ideias complexas, muito menos esperar conseguir ter alguma participação neles.”
Então Thier se apronta para mudar isso: “Eu faço o meu melhor para oferecer exemplos concretos suficientes e descrições sem jargões para esclarecer os pontos, o que vai ajudá-lo a continuar subindo sem perder o fôlego.” Ela tem um admirável sucesso. Este livro é adequadamente chamado “A People’s Guide to Capitalism” [Um Guia Popular para o Capitalismo].
Thier diz que seu livro “tem como objetivo acompanhar o conteúdo e a linha de desenvolvimento do Capital de Marx. Os três volumes da Capital foram escritos para fornecer um arsenal teórico a um movimento operário para a derrubada revolucionária do sistema – e para fazê-lo na base mais científica possível.” Mas Thier começa, com razão, a história do surgimento do capitalismo antes de seguir para a teoria (o oposto da abordagem de Marx no Capital). Ela habilmente descreve os principais conceitos da teoria econômica marxista, intercalados com excelentes caixas inseridas em várias questões-chave que se sustentam por si mesmas como explicações perspicazes. Os assuntos nessas inserções incluem: Marx sobre a natureza; a teoria da utilidade marginal versus a teoria do valor de Marx; como o capitalismo desperdiça tantos recursos; o que é um bitcoin?; capitalismo como um modo de produção e assim por diante.
Após o capítulo sobre como o capitalismo emergiu de organizações sociais humanas anteriores, Thier apresenta dois capítulos sobre as “questões quentes sobre de onde vêm os lucros e a forma particular de exploração do capitalismo”. Nelas, ela “desembrulha os conceitos vitais de capital, trabalho e sociedade de classes”, para que “possamos ver as tendências propulsoras do sistema de competição e acumulação”. Não há espaço nesta resenha para revisar detalhadamente a narrativa apresentada por Thier; afinal, o leitor pode fazer isso. Mas, em resumo, Thier aborda o mito dos chamados mercados livres e a superioridade da teoria de valor de Marx, que defende que apenas o trabalho cria valor para a sociedade em oposição à “economia vulgar”, das teorias de valor “utilidade” e “escassez”.
Ela também lida com o papel do dinheiro nas economias modernas como “um equivalente universal” da troca de mercadorias. Em contraste com a teoria monetária moderna atual que afirma que o dinheiro é o produto do Estado, ela argumenta que o dinheiro “necessariamente se cristaliza fora do processo de troca”. (Marx). E Thier lida claramente com dinheiro fiduciário que substituiu ouro e prata nas economias modernas e com o papel crescente de moedas digitais ou criptomoedas, como o bitcoin.
Saiba mais em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Um-guia-popular-do-capitalismo/4/49139
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