Antes do seu assassinato, o revolucionário Thomas Sankara lutou para transformar Burkina Faso em uma nação independente. Mas como mostra o filme recém-lançado, seu legado continua inspirando lutas mesmo que a elite tente eliminá-lo da memória popular.
Por Benjamin Talton / Tradução Caroline Freire
Antigamente, a única linha ferroviária de Burkina Faso partia de Abidjan, Costa do Marfim, na costa do Atlântico, e percorria seiscentos quilômetros, ao norte, até a capital e maior cidade do país, Ouagadougou. Esta ferrovia fora construída durante a administração colonial francesa e sua rota permaneceu inalterada até Thomas Sankara chegar ao poder, em 1983, por meio de um golpe militar.
Em 1985, o governo de Sankara começou a trabalhar na sua extensão, em direção ao norte. A “batalha das ferrovias”, como ficou conhecida, fez parte deste cenário de transformação – trabalhadores de aldeias localizadas às margens da rota planejada se organizaram em mutirões para limpar o leito da estrada e construir cem quilômetros de trilhos, que conectariam Ouagadougou e a cidade de Kaya. Na visão de Sankara, o desenvolvimento do país deveria ser direcionado e realizado pelas próprias pessoas.
A intenção de Sankara era que a linha ferroviária chegasse até a cidade de Tambao, fronteira de Burkina Faso com o Níger, onde ficava a maior reserva de manganês da região, inacessível por estrada e, portanto, inexplorada. Transformar Burkina Faso em uma nação verdadeiramente independente, autodeterminada e com coesão social e política, exigia capital e Sankara contava com a exploração do manganês para atingir tais objetivos. No entanto, o trabalho inspirador realizado pelo povo de Burkina Faso na construção da linha ferroviária foi interrompido em 15 de outubro de 1987, dia em que Sankara foi assassinado e seu governo deposto por meio de um golpe orquestrado por Blaise Compaoré.
O filme “Sankara n’est pas mort” (Sankara não está morto), de 2019, apresentado no Festival de Cinema Africano de Nova York deste ano, mostra a euforia da revolução popular de 2014, que pôs fim ao controle de Blaise Compaoré após 27 anos no poder. Escrito e dirigido por Lucie Viver, o filme é um retrato competente e belissimamente filmado de Burkina Faso e seu povo neste momento incerto, mas de muita esperança. É um misto de poesia e relatos de viagem, traz trechos dos discursos de Sankara e cenas da revolução de 2014, mostrando a vida das pessoas após o levante.
O filme começa com Bikontine, protagonista e narrador, sendo arrastado pelas manifestações contra Compaoré e pelas subsequentes celebrações pelo fim de seu regime no momento em que se preparava para deixar o país, rumo à Europa. Ainda perturbado, mas resignado com o fato de ter de permanecer, pelo menos por ora, Bikontine embarca em uma jornada de descoberta da sua terra natal, Burkina Faso – a terra dos homens íntegros –, seguindo pela ferrovia até o trecho em que sua construção fora interrompida, perto de Kaya, depois do assassinato de Sankara.
Saiba mais em: https://jacobin.com.br/2021/03/thomas-sankara-nao-esta-morto/
Comente aqui