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Efervescência nos Andes: as eleições presidenciais no Equador e Peru

Por Gustavo Menon 

Em meio à busca por vacinas para contenção dos casos de COVID-19, dois países da América do Sul realizarão suas eleições presidenciais neste final de semana. Afetados pelos efeitos da pandemia, Equador e Peru buscam alternativas políticas para conter as crises socioeconômicas presenciadas nos últimos anos. Tais disputas serão realizadas dentro de um quadro de fragmentação política na região e, acima de tudo, diante de dilemas a serem equacionados do ponto de vista comercial. A paralisação dos organismos de integração na América Latina, com o apagamento da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), o enfraquecimento das relações na Comunidade Andina (CAN) e a inércia da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) demonstra a falta de capacidade de cooperação entre os países do subcontinente em pensar soluções conjuntas para os problemas compartilhados.

Ainda do ponto de vista da orquestração regional, o Grupo de Lima, organização intergovernamental de direita composta pelos chanceleres de mais de dez países americanos para isolar a Venezuela, sofreu um importante revés com o anúncio da retirada do governo argentino da organização. A Organização dos Estados Americanos (OEA), por sua vez, após ter legitimado o golpe na Bolívia em 2019 e validado diversas sanções ao governo de Caracas, estará presente nos pleitos observando as dinâmicas eleitorais no próximo domingo. Espera-se que mais de 10 milhões de equatorianos e cerca de 20 milhões de peruanos irão às urnas com o objetivo de definir o destino de suas respectivas nações.

Como elemento comum, nas relações internacionais, ambos os países do pacífico observaram nos últimos anos o crescimento da economia chinesa e criaram estratégias para se aproximar do gigante asiático. Além do fortalecimento comercial, em especial com o aumento das exportações de produtos primários em direção à China, alternativas de financiamento e investimentos estrangeiros diretos na área de infraestrutura e energia foram concebidos em parceria com o governo de Pequim. Essa aproximação se materializou na criação da Aliança do Pacífico, um bloco comercial que pretende conectar as economias da América Latina com clara orientação em direção à Ásia. Enquanto o Peru foi um dos fundadores da iniciativa, o Equador, em contrapartida, apenas no governo de Lenín Moreno, com sua agenda liberalizante, demostrou o interesse em se tornar um Estado-membro.

Apesar da aproximação com o capital chinês, o maior desafio de ambos os países, no campo econômico, continua sendo a diversificação da matriz produtiva. Os diversos governos de Lima e Quito, desde o século XX, não conseguiram atingir a meta de diversificar suas economias e obter um aumento substancial na produção de mercadorias e serviços com valor agregado.

De acordo com a Comissão Econômica da América Latina e o Caribe (CEPAL), durante o contexto de contração global em 2020, o subcontinente foi a região mais atingida do mundo em desenvolvimento pela crise derivada da COVID-19. Embora exista uma projeção de crescimento positivo para 2021, tal avanço não será o suficiente para recuperar os patamares da atividade econômica do momento pré-pandemia. Em seu balanço preliminar sobre o crescimento da região, a CEPAL prevê uma contração média de -7,7% dos países latino-americanos para 2020 (a maior em 120 anos!) e uma recuperação de 3,7% em 2021 – número abaixo da taxa média de crescimento global que, de acordo com a organização, será de cerca de 5,2%, considerando o mesmo período. Isso em um cenário otimista com avanço das campanhas de vacinação e imunização.

Ainda segundo a CEPAL, estima-se que as economias equatoriana e peruana tiveram uma taxa de -8% e -11,12% do PIB, respectivamente, em 2020. Outro fator agravante – e convergente em ambos os países – são as denúncias de corrupção, inclusive a partir dos desdobramentos da conturbada e enviesada Operação Lava-Jato e seus tentáculos no financiamento de campanhas e na concessão de obras de desenvolvimento socioeconômico.

É neste contexto de forte desintegração regional, complicações sanitárias, acusações de corrupção e baixo desempenho econômico que equatorianos e peruanos irão às urnas no próximo domingo desejando encontrar soluções para os efeitos perversos desse grave quadro de cruzamento de crises.

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