Dias antes da primeira visita de Biden à Europa, reportagens da mídia alegam que inteligência dinamarquesa ajudou os EUA a espionar políticos europeus
Por Laurens Cerulus e Hans von der Burchard | Créditos da foto: Getty Images
Joe Biden deve sentir que está tendo um déjà-vu.
A duas semanas do presidente dos Estados Unidos fazer sua primeira visita à Europa desde que foi eleito, a mídia dinamarquesa informou que os serviços secretos do país ajudaram seus homólogos norte-americanos a espionar líderes europeus.
As reportagens empurraram os europeus de volta aos dias sombrios de 2013, quando o denunciante Edward Snowden revelou programas massivos de vigilância dos EUA que incluíam grampeamento de telefones celulares de chefes de estado aliados – como da Chanceler alemã Angela Merkel.
Na época, era o então presidente Barack Obama que teve de ter conversas constrangedoras com os líderes da UE sobre espionagem de aliados. Agora caberá a seu ex-vice-presidente tranquilizar os europeus enquanto se dirige a Cornwall, no Reino Unido, em 11 de junho, para um encontro do G7 onde questões de confiança transatlântica, cooperação e comércio digital terão prioridade na agenda.
O momento da reportagem da emissora pública dinamarquesa, que foi republicada por vários meios de comunicação europeus, dificilmente poderia ser mais complicado para Biden.
Washington e Bruxelas estão negociando um novo acordo transatlântico de transferência de dados para substituir um anterior, que foi vetado pelo tribunal superior da UE devido a preocupações com a espionagem dos EUA. As matérias de segunda-feira devem aumentar o foco da UE nos poderes de espionagem dos EUA, limites legais e garantias para os dados dos europeus, que o tribunal sentiu faltar.
“Se essas revelações [de espionagem] estiverem corretas, quero dizer que não são aceitáveis entre os aliados, muito claramente”, disse o presidente francês Emmanuel Macron em um briefing na segunda-feira. “É ainda menos aceitável entre aliados e parceiros europeus, por isso sou apegado à ideia de haver laços entre norte-americanos e europeus baseados na confiança”, disse Macron. “Não há espaço entre nós para suspeitas.”
Macron disse que seu governo pediu à Dinamarca e aos EUA “que compartilhem todas as informações relacionadas a essa espionagem e estamos aguardando suas respostas”.
Merkel, que se juntou à Macron virtualmente para o briefing, disse: “Já discutimos essas coisas há muito tempo em conexão com a NSA. Nossa posição em relação à investigação das questões naquele momento não mudou. Contamos com relações de confiança e continua valendo agora o que era correto naquela época. Fiquei tranquilizada com o fato de a Dinamarca também – o governo dinamarquês, o ministro da defesa – ter deixado muito claro o que pensam sobre estas coisas e, a este respeito, vejo uma boa base não só para esclarecer os fatos, mas também para realmente estabelecer relações baseadas na confiança.”
O ministro da Defesa dinamarquês, Trine Bramsen, disse à DR, a emissora que divulgou a história, que “a interceptação sistemática de aliados próximos é inaceitável”.
A NSA se recusou a comentar.
A reportagem alega que os serviços de inteligência dinamarqueses emprestaram aos seus homólogos norte-americanos na Agência de Segurança Nacional (NSA) acesso para espionar políticos alemães, franceses, noruegueses e suecos através de cabos de Internet na Dinamarca. Merkel estaria entre os alvos, assim como importantes políticos alemães, incluindo Peer Steinbrück, um ex-ministro das finanças, e o presidente Frank-Walter Steinmeier. Outros funcionários não identificados de alto nível foram espionados na França, Noruega e Suécia.
Snowden também é trazido de volta ao centro do palco.
Embora o episódio possa ser visto como águas passadas em Washington, nem de longe é esse o entendimento na Europa.
As revelações de Snowden levaram a grandes discussões sobre a segurança e privacidade dos europeus – incluindo o colapso do acordo de transferência de dados Privacy Shield e seu antecessor Safe Harbor – e continuam a envenenar os vínculos transatlânticos. Muitos dos personagens principais que navegaram no episódio de 2013 estão agora de volta ao jogo, incluindo Biden, que era vice-presidente na época, e Margrethe Vestager, chefe digital da Europa, que fazia parte do governo da Dinamarca.
“Biden está bem preparado para responder por isso quando visitar a Europa, já que, é claro, ele estava profundamente envolvido no escândalo da primeira vez”, disse Snowden no Twitter na segunda-feira. Ele demandou “que fosse explicitamente exigida a divulgação pública total não apenas da Dinamarca, mas também de seu parceiro sênior”.
Saiba mais em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Pelo-Mundo/O-retorno-de-Snowden-novo-escandalo-de-espionagem-turva-lacos-UE-EUA/6/50733
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