Desde março, rios de dinheiro são emitidos para salvar bancos privados. Mas estes tornam o crédito ainda mais caro e difícil. Saída: criar bancos comprometidos com as sociedades. É possível – inclusive no plano dos Estados e Municípios
Por Ellen Brown | Tradução: Antonio Martins
Quando a lei norte-americana Dodd Frank [Dodd Frank Act] foi aprovada, em 2010, o presidente Obama declarou triunfalmente: “Não haverá mais resgates [bail-outs] de bancos!” Mas o que a lei dizia, de fato, é que quando os bancos voltassem a falir, seriam submetidos aos chamados bail-ins. Ou seja, o resgate seria feito por seus próprios credores, incluindo grandes depositantes – que seriam chamados a cobrir os maus empréstimos feitos pelas instituições
Então, a Europa tentou os bail-ins. Os resultados foram desastrosos.
Muitos economistas, em diversas partes do mundo, argumentaram que neste caso, quando houvesse novas falências, os bancos deveriam ser nacionalizados – transferidos ao controle dos Estados, como serviços públicos. Mas a oportunidade foi desperdiçada quando, em setembro de 2019 e em março de 2020, os bancos de Wall Street foram silenciosamente resgatados de uma crise de liquidez no chamado repo market, que poderia tê-los levado à falência. Não houve bail-ins entre os grandes investidores, nenhum debate parlamentar, nenhuma decisão pública. Tudo foi feito unilateralmente por burocratas do Fed [o banco central norte-americano], jamais submetidos a voto.
“A justificativa do lucro privado – disse certa vez o presidente norte-americano Franklin Roosevelt – é o risco privado”. A atividade bancária tornou-se agora virtualmente imune a riscos, apoiada pelo crédito dos Estados. As sociedades têm, portanto, o direito de usufruir dos benefícios e lucros. Os bancos precisam ser convertidos em instrumentos do Comum.
Qualquer banco pode quebrar devido ao excesso de maus empréstimos, mas as crises que desencadeiam o colapso dos sistemas bancários são “crises de liquidez”. Os bancos “tomam dinheiro a curto prazo e emprestam a longo prazo”. Eles recebem depósitos do público para fazer empréstimos ou investimentos de longo termo. Prometem a seus depositantes devolver o dinheiro, “sob demanda”. Para manter o malabarismo, quando os depositantes e os tomadores de empréstimo querem dinheiro ao mesmo tempo, os bancos precisam emprestar de alguém. Quando não encontram, ou quando o preço dos empréstimos torna-se subitamente proibitivo, o resultado é uma “crise de liquidez”.
Antes de 1933, quando o governo norte-americano introduziu a agência de seguro de depósitos FDIC, a corridas aos bancos e os pânicos bancários eram comuns. Quando a pessoas suspeitavam que um banco estava em apuros, corriam juntas para retirar seus depósitos. Isso expunha o fato de que os bancos não tinham o dinheiro que haviam assegurado possuir. Durante a Grande Depressão, mais de um terço dos bancos privados, nos EUA, foram fechados após corridas bancárias.
Quando assumiu a presidência, em 1933, Roosevelt era cético sobre segurar depósitos bancários. Ele advertia: “Não desejamos tornar o Estado responsável pelos erros e desvios de bancos privados e premiar práticas bancárias malsãs”. O Estado tinha uma alternativa pública viável, o sistema de bancos postais norte-americano que fora estabelecido em 1911. Os bancos postais tornaram-se especialmente populares durante a Depressão, por serem garantidos pelo governo. Mas Roosevelt foi pressionado a assinar, em 1933, a Lei Bancária, criando a Corporação Federal de Seguro dos Depositos, a FDIC, abastecida com fundos públicos.
Saiba mais em: https://outraspalavras.net/mercadovsdemocracia/a-hora-e-a-vez-dos-bancos-publicos/
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