Frango com cloro é apenas o começo. O governo pretende dilacerar os padrões alimentares, serviços públicos e proteções públicas
Por George Monbiot | Créditos da foto: Peter Nicholls/Reuters
O manifesto conservador fez uma promessa clara. Ele prometeu que, nas negociações comerciais do governo, “não comprometeremos nossos altos padrões de proteção ambiental, bem-estar animal e padrões alimentares”. Apenas seis meses após a eleição, a promessa foi abandonada.
Nosso governo agora está propondo que frango lavado com cloro, carne bovina tratada com hormônios de crescimento, carne de porco de animais em que se injeta um medicamento que torna sua carne mais magra, chamada ractopamina, e vários outros alimentos produzidos nos Estados Unidos por meios perigosos, cruéis e repugnantes serão permitidos neste país, desde que sejam aplicados impostos comerciais mais altos (tarifas).
A secretária de comércio, Liz Truss, deixou claro que essas tarifas serão removidas dentro de 10 anos. É impossível ver os negociadores comerciais americanos permitindo que as tarifas mais elevadas passem, em primeiro lugar. Os EUA pretendem garantir acesso “abrangente” aos nossos mercados de alimentos, enquanto “reduzem ou eliminam tarifas”. Essa bobagem sobre tarifas mais altas é uma tentativa flagrante de nos tornar dóceis, de adoçar a pílula tóxica das importações norte-americanas que não atendem aos nossos padrões. Quando digo adoçar, quero dizer com xarope de milho com alto teor de frutose.
Não é que nossos padrões sejam maravilhosos. Mas, em comparação com as práticas revoltantes dos EUA, nossas regras alimentares, estabelecidas pela União Europeia, são um refúgio de sanidade. Além de lavar a carne de frango com cloro para compensar as condições sujas em que é criado e processado e injetar substâncias perigosas em bovinos e porcos, a Big Farmer e a Big Food [grandes empresas agricultoras e produtoras de alimentos] nos EUA usam 72 pesticidas proibidos no Reino Unido e alimentos corantes que foram associados à hiperatividade em crianças, não impõem limites à quantidade de açúcar nos alimentos para bebês e permitem que o leite de vaca contenha duas vezes a quantidade de pus permitida pelo Reino Unido.
O que tudo isso significa é que vamos trazer para este país alimentos cuja produção é proibida aqui. Nossos agricultores e processadores de alimentos serão superados, ou nossos padrões de produção doméstica serão reduzidos para equivaler aos dos EUA. Alguns deputados conservadores tentaram inserir uma emenda na lei agrícola no mês passado para manter a promessa do manifesto. Mas foi decisivamente golpeada por apoiadores do governo. O projeto retorna à Câmara dos Comuns na quarta-feira.
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