O Brasil caminha para entrar na época de maior desmatamento e queimadas na Amazônia sem um plano para conter a degradação da floresta.
André Shalders
A destruição na porção brasileira do bioma costuma aumentar na época que vai de junho a setembro ou outubro, pois são os meses mais secos do ano na região.
E os indicadores já disponíveis mostram que 2020 pode ser ainda pior em termos de derrubada da vegetação e de queimadas do que foi 2019.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o mês de junho deste ano registrou 2.248 focos de incêndio na Amazônia — é o maior número desde 2007. É também um aumento de 19,5% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando foram registrados 1.880 focos.
‘Rascunho tímido’
No governo federal, a responsabilidade de desenhar um plano para combater a destruição da floresta ficou com o vice-presidente da República, Hamilton Mourão.
A proposta é chamada nos corredores de Brasília de Plano de Combate ao Desmatamento Ilegal, e deveria ser apresentada em meados de junho — mas, até agora, o plano não apareceu. O projeto deve nortear as ações na Amazônia até o ano de 2023.
A BBC News Brasil entrou em contato com a vice-presidência para esclarecimentos, mas não houve resposta.
A ideia é que o projeto de Mourão substitua o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia, o PPCDAm. A última fase deste plano, criado em 2004, se encerra formalmente em 2020. Na prática, porém, o PPCDAm foi abandonado na gestão do atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
O deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP) é o coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista do Congresso. Ele esteve com Mourão na quarta-feira (24), e conta que o vice-presidente se mostrou preocupado com o início do período de queimadas — sem, no entanto, apresentar datas ou informações mais concretas sobre o plano para a Amazônia.
“O governo tem o rascunho de um plano de combate ao desmatamento, mas que é muito tímido perto do que precisa para enfrentar um problema. A gente deixou isso claro para ele, e ele (Mourão) até fez um mea culpa em relação às medidas que o governo vem tomando até aqui”, diz Agostinho à BBC News Brasil.
“O que deu para perceber é que ele tem uma estrutura muito pequena lá, que é a da vice-presidência. Botar o Conselho (da Amazônia, presidido por Mourão) para funcionar é tranquilo, porque dá para fazer por videoconferência. Mas para elaborar um plano detalhado, a estrutura dele parece pequena”, diz Agostinho.
“Quer dizer, o governo não divulgou até agora um plano concreto; e deixou de lado o PPCDAm, que foi construído por especialistas”, afirma ele.
A pressão sobre o governo brasileiro neste assunto tem crescido nos últimos dias.
Na semana passada, um grupo de 29 fundos de investimentos enviou uma carta a sete embaixadas brasileiras em países europeus, no Japão e nos Estados Unidos. Eles pediam encontros com representantes do governo brasileiro para discutir o aumento da devastação na floresta.
Juntos, estes fundos somam US$ 4,1 trilhões — mais de duas vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no ano passado (US$ 1,8 trilhão).
Na estação seca do ano passado, o Brasil ganhou as manchetes do mundo por conta do aumento da destruição da floresta. Depois de dados do Inpe mostrarem o aumento da devastação, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) demitiu o físico Ricardo Galvão, que dirigia o órgão de pesquisa, aumentando a repercussão do assunto.
Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, a situação deste ano pode ser ainda pior que a de 2019. Ter um planejamento claro para enfrentar a temporada seca na Amazônia é fundamental para evitar uma devastação ainda maior, dizem eles.
Saiba mais em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53259453#:~:text=O%20Brasil%20caminha%20para%20entrar,secos%20do%20ano%20na%20regi%C3%A3o.
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