Ex-prefeito de São Paulo, petista diz que a juventude se rebelou contra projetos de Bolsonaro que iam contra o ensino. Para ele, a defesa do PT e do ex-presidente Lula são indissociáveis
Carla Jiménez | Rodolfo Borges
O ex-prefeito de São Paulo e ex-candidato à presidência pelo PT Fernando Haddad vê com esperança a juventude brasileira, especialmente a que ampliou a diversidade nos bancos universitários. É esse grupo, segundo ele, que tem mostrado energia para resistir aos projetos conservadores e de redução de investimentos do Governo de Jair Bolsonaro. Dois ministros já passaram pela pasta, um terceiro não chegou a assumir e um quarto —o professor unitário e pastor Milton Ribeiro— toma posse nesta quinta-feira. “É um paradoxo a capacidade de resistência e resiliência em educação do Brasil. Embora tenhamos tido três ministros desastrosos —e um que ainda não se pronunciou—, a capacidade de resistência tem sido muito importante”, observa Haddad, durante entrevista ao vivo ao EL PAÍS nesta quinta.
O petista foi ministro da Educação entre 2005 e 2012, nos Governos do ex-presidente Lula e de Dilma Rousseff. “O primeiro ato de resistência a Bolsonaro em 2019 veio de um milhão de estudantes e professores que foram às ruas”, destaca, em alusão ao ato de maio do ano passado, contra redução de investimentos em educação.
Para Haddad, nasceu ali o movimento antifascista em defesa do orçamento da Educação e contra programas bolsonaristas e as escolas militares. O ex-prefeito diz que enxerga nesse grupo a possibilidade de estabelecer um novo pacto social no Brasil. “Falamos de milhões de brasileiros que resistem bravamente ao desmonte de Bolsonaro”.
Haddad integra hoje uma frente progressista mundial para defender os princípios da democracia e as conquistas sociais e ambientais. Questionado se é possível falar em progressismo diante da elite econômica brasileira que esteve ao lado do Governo Bolsonaro, ele reconhece a dificuldade. “Toda nossa literatura produzida no Brasil sobre nossa história e nossas elites fez menos para explicar o Brasil ao estrangeiro do que a eleição de Bolsonaro”, provocou. Haddad, que é doutor em sociologia, diz que intelectuais sempre tentaram explicar a natureza da “elite predatória” do Brasil, sem visão social. “Escrevíamos em vão. A eleição de Bolsonaro explicou ao mundo a dificuldade que Brasil tem de dialogar com as forças progressistas”, diz ele.
Questionado sobre o papel de defesa do ex-presidente Lula assumida pelo seu partido, Haddad diz que não vê incompatibilidade. “Lutar pela Justiça não pode atrapalhar nunca”, diz ele, a respeito da investigação do ex-presidente na Lava Jato, que o levou à prisão em 2018 e pelo qual responde a outros processos. “Existem julgamentos paradigmáticos”, afirma. Ele compara o caso de Lula ao do capitão francês Alfred Dreyfus, condenado injustamente à prisão perpétua por suposta traição, no final do século 19. O julgamento foi revisto anos depois. “Aquilo deu uma nova dimensão ao conceito de República na França”, diz. “[a defesa de Lula] Não atrapalha a luta pela democracia e a defesa de um programa do PT”, completa.
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