Diretor de consultoria de risco político diz que a pauta ambiental deve se sobrepor à ideológica em eventual gestão democrata. Para ele, desfecho nos EUA não influenciará 2022 no Brasil
Mais do que um rompimento ideológico com os Estados Unidos, a eventual vitória de Joe Biden na disputa contra Donald Trump pela presidência americana deverá resultar em uma pressão sobre o Brasil na área ambiental. Na prática, isso pode provocar perda de negócios ou na mudança da política do presidente brasileiro Jair Bolsonaro. A avaliação foi feita pelo cientista político Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas do Eurasia Group, empresa de consultoria e análise de risco, em entrevista ao vivo ao EL PAÍS.
“O custo de oportunidade do Brasil ser colocado como vilão ambiental na história aumenta ao longo do tempo e isso vai ser ampliado se o Biden ganhar a Casa Branca.” Diante do maior incêndio no Pantanal em décadas e a sequência de desmatamento e de focos de queimadas na Amazônia, o Governo Bolsonaro apostou no confronto e acusou indígenas e ribeirinhos pelo desastre ambiental, quando, na verdade, a principal suspeita é que grupos desmatadores e grandes fazendeiros agiram em parte desses territórios.
Na conversa, que pode ser vista aqui na íntegra, Garman ressaltou que, independentemente de quem vencer as eleições, os Estados Unidos serão um país dividido, já que as bases do trumpismo permanecerão acesas, assim como a guinada à esquerda dos democratas. Sobre a relação com o Brasil, o cientista político afirma que as pontes não serão rompidas e crê que haverá pouca influência do pleito de agora na disputa pelo Palácio do Planalto em 2022. “A base do bolsonarismo tem raízes muito mais domésticas do que internacionais.” Na sua avaliação, o que deve ser levado em conta no Brasil é a maneira que Bolsonaro irá reagir à crise econômica decorrente da pandemia de coronavírus e à retirada do auxílio emergencial, que deixará de ser pago a partir de janeiro próximo.
Christopher Garman é mestre em ciência política pela Universidade da Califórnia. Há duas décadas acompanha os desdobramentos da política na América Latina. Antes de trabalhar na Eurasia, foi analista sênior na consultoria Tendência e bolsista no Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo.
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