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Milhares de famílias ainda sofrem impactos das queimadas no Pantanal

Após fogo devastar áreas de floresta e de plantio, comunidades quilombolas, pantaneiras e indígenas da região dependem de doações para sobreviver. Fuligem e seca ameaçam córregos que são fonte de água para moradores.

Entre o pouco que as queimadas em todo o Pantanal pouparam estão algumas sementes crioulas que Laura Ferreira da Silva, liderança do Quilombo Mata Cavalos, vai usar para um recomeço. Nesse território, onde vivem mais de 800 famílias, o fogo destruiu tudo o que elas plantam e colhem para a própria subsistência.

“Nós reunimos todas as pessoas para tentar combater o fogo, mas não demos conta. Só conseguimos salvar as casas”, relembra Silva.

Medições do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ) calculam que 30% do bioma, a maior área alagável do mundo, tenham sido devastados na temporada de queimadas de 2020.

Em Mata Cavalos, no município de Nossa Senhora do Livramento, no Mato Grosso, plantios de banana, cana, mandioca, milho, abóbora foram completamente perdidos. A água dos córregos que cortam o quilombo e abastecia as comunidades está comprometida pelo excesso de fuligem ou seca.

Milhares de famílias afetadas

Em todo estado, estima-se que mais de 2 mil famílias quilombolas, pantaneiras e indígenas ainda sofram o impacto das queimadas. O levantamento é do Movimento SOS Filhas do Cerrado e do Pantanal, uma força-tarefa inédita formada para socorrer as comunidades tradicionais.

“Fizemos esse mapeamento com pessoas das próprias comunidades e lideranças. Ainda falta muito, porque muitas regiões são distantes, aos poucos estamos juntando os números”, explica Paty Wolff, geógrafa e artista do Centro Cultura Casa das Pretas, em Cuiabá.

Muitos atingidos perderam o emprego, deixaram de vender nas feiras o que produziam – como farinha, conservas, outros produtos artesanais. Por enquanto, a alimentação é garantida por doações de cestas básicas arrecadadas pelo movimento, com apoio do Instituto Centro de Vida (ICV), que também leva água para os que precisam.

Questionado pela DW Brasil sobre a situação, o governo de Mato Grosso respondeu que “não tem registros de famílias tradicionais que perderam casas ou lavouras com incêndios florestais no ano de 2020”.

Plantio adiado

Na Terra Indígena Tadarimana, o cacique Marcelo Boe Bororo assistiu florestas sendo engolidas pelo fogo. As chamas acabaram com as árvores frutíferas importantes para as comunidade, como as que dão cajuzinho-do-cerrado, guariroba e pequi.

“Agora em novembro era para estarmos colhendo pequi. Mas praticamente não sobrou nada”, relata Bororo.

Pantanal após queimadas

Estima-se que 30% do Pantanal tenham sido devastados na temporada de queimadas de 2020

A palha usada para reforçar os telhados das casas antes do início das chuvas também queimou. O cacique tenta substituir o método tradicional pela lona, e conta com doações para manter a proteção das residências.

O preparo das roças de milho, mandioca, batata, abóbora, que começariam em outubro para sustentar as 190 famílias do território, está suspenso. “A gente não sabe agora quando vai plantar. Se der para começar logo, talvez a gente consiga colher alguma coisa no fim de fevereiro”, detalha.

Saiba mais em: https://www.dw.com/pt-br/milhares-de-fam%C3%ADlias-ainda-sofrem-impactos-das-queimadas-no-pantanal/a-55807221

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