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Mobilizadas, as cidades têm jeito

Em SP, rede de organizações sociais formula, agenda de transformações. Que propor aos 2,5 milhões sem moradia? E se a universidade for polo para gerar emprego e renda? Movimento quer influir em questões cruciais da metrópole

Por Allen Habert

Na contramão da dispersão partidária natural nas eleições, a Agenda mínima “São Paulo Sua para uma cidade do bem viver” se propôs a ser o caule e as raízes que precisamos implementar e conquistar na maior cidade do continente americano.

A chamada Agenda mínima, necessária e imprescindível, é um pacto pela cidade formado por três áreas: o pacto pela vida, pelo trabalho e pela democracia dentro de uma cultura de paz. Lançada pela iniciativa denominada Conferência São Paulo Sua, pretendeu ativar o diálogo social com a sociedade e os candidatos a prefeito, vice e vereadores.

Fruto da participação de 1.000 lideranças de 150 entidades e instituições durante um ano de debates em equipes de trabalho, seminários, encontros e plenárias, transformou-se num documento referencial da cidadania e da ideia de que São Paulo tem jeito. Realizou lives convidando os candidatos a prefeito e vice a apresentarem suas propostas e compromissos em relação às prioridades da Agenda mínima da São Paulo Sua.

Esta pandemia em curso e suas dramáticas consequências aumentaram as responsabilidades em articular um amplo e diverso arco de alianças democrático da sociedade civil para pressionar os poderes executivo, legislativo e judiciário a estarem à altura dos desafios a cidadania e a democracia em cada canto desse país. Esse desafio se estende a todas as cidades brasileiras. Vivemos um momento crítico, em que os valores democráticos precisam ser reafirmados e em que as pontes precisam ser reconstruídas por quem está, de fato, comprometido com a grande política, virtuosa, aquela iniciada pelos gregos, que está ao serviço da coletividade.

Exemplos que se estendem a todo o país

O Plano Diretor Estratégico de São Paulo terá uma revisão na Câmara Municipal em 2021. Isto influirá no desenvolvimento econômico e urbana de toda a cidade. Os interesses do capital imobiliário, das empresas de transportes públicos e do lixo, por exemplo, podem conflitar com os anseios de 2,5 milhões de paulistanos que não possuem moradia nem saneamento básico. Um legislativo sintonizado com a voz das ruas precisa crescer e se muscular.

Muitos dos dramas vividos em São Paulo são comuns nas demais capitais brasileiras. Mas para fazer valer os interesses da população com serviços públicos de qualidade é fundamental que sejam criadas iniciativas como a São Paulo Sua e a São Carlos Sua em outras cidades. E que venham a Porto Alegre Sua, a Belém Sua, a Salvador Sua, a Cidade Sua. O que esse momento exige de todos nós é empenho para reunir e unir lideranças e representantes, em todos os níveis da sociedade, comprometidas com uma sociedade mais justa, democrática e do bem viver.

Daí a urgência de entender que a cidade visível e a invisível necessitam dialogar. Diversos ativos, como o educacional, o cultural, o esportivo, o empresarial, o sindical, o científico-tecnológico e o religioso, precisam estabelecer pontes e derrubar cercas.

É preciso ouvir e reunir este mosaico de atores em conjunto com os partidos políticos para conquistar saltos na qualidade de vida e na participação do cidadão. Não há saída sem democracia para quem quer construir uma nova civilização no planeta em que a vida seja a inspiração do bem viver.

Uma cidade é rica quando ela distribui e não quando ela acumula e concentra riquezas. Daí a necessidade de um Pacto da Cidade, respaldado pela sociedade civil, para ajudar a ampliar os consensos e convergências entre os setores sociais a fim de combater as iníquas desigualdades, de todos os gêneros, herdadas e em processo.

Um exemplo do que se pode realizar

São Paulo possui 18 universidades e 570 faculdades formando mais de 80 mil universitários por ano. Elas podem debruçar-se criativamente para a melhoria da economia regional e da saúde onde estão territorialmente inseridas. Conhecimento, cultura e inovação rimam com trabalho, renda e bem viver. 

Por que não eleger o trabalho e a cultura como um centro de prioridades e foco de todos os segmentos organizados e das instituições? Oportunidades para 600 mil jovens de 18 a 29 anos disponíveis e desempregados poderiam ser construídas. O equivalente a 12 estádios do Itaquera lotados não merecem uma mobilização das inteligências coletivas com uma métrica mensal das conquistas realizadas?

Isso numa cidade como São Paulo que possui 1,78 milhão de empresas ativas, 28% da produção científica do País e R$ 700 bi de PIB.

É imperioso que a capital paulista caminhe para uma gestão descentralizada nas 32 subprefeituras que têm em média 375 mil habitantes em 96 distritos – e equipada com mais profissionais, tecnologia e recursos. Amparando-as com a dinamização e empoderamento dos cerca de 20 conselhos municipais existentes na cidade com 15 mil lideranças eleitas. Ou seja, reconstruir a democracia, a governança e a participação no País a partir das cidades, debaixo para cima.

A iniciativa São Paulo Sua deseja contribuir e inspirar que em todas as cidades se lancem as comemorações do Bicentenário da Independência e da realização da Semana de Arte Moderna de 2022.

Alimentar o sonho de um Brasil que se reencontre com sua verdadeira vocação, com seu espírito de país plural e vibrante, e que possa trocar de pele em seu aniversário como Nação.

Veja em: https://outraspalavras.net/cidadesemtranse/mobilizadas-as-cidades-tem-jeito/

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