Por 60 anos, Cuba viveu sob o cerco da nação mais poderosa do planeta, negando-lhe alimentos, remédios e material de construção. Sob Trump os EUA impuseram mais 243 sanções e hoje pelo menos 54 grupos de oposição ao regime são financiados pela USAID e NED – enquanto o país luta para diminuir os impactos da COVID e enviam mais de 3.700 profissionais da saúde para ajudar 39 países.
Por Francisco Dominguez |Tradução Cauê Seignemartin Ameni
Em uma ação evidentemente bem coordenada, em 11 de julho de 2021, grupos de opositores ao governo fizeram manifestações em várias cidades cubanas, notadamente em Havana. Segundos depois da manifestação, a grande mídia mundial estava a todo vapor divulgando os acontecimentos.
Essa explosão social é um acontecimento incomum em Cuba e ainda mais surpreendente foi a intensidade e a violência desdobrada pelos manifestantes (vandalismo, agressão a funcionários, saques e ataques a prédios públicos), que lembra os protestos na Venezuela em 2014 e 2017 e na Nicarágua na última tentativa de golpe em julho de 2018.
Ficou claro que esses grupos de oposição estavam executando a conhecida tática venezuelana de guarimba (distúrbios de rua violentos e orientados pela mídia). Os protestos foram imediatamente respondidos por mobilizações de massa em apoio à revolução em Cuba, imagens das quais foram apresentadas como antigoverno por meios de comunicação como o The Guardian (embora tenha, posteriormente, retificado o erro).
As razões para os protestos de rua foram a escassez de alimentos, medicamentos, fornecimento de eletricidade e combustível que sobrecarrega a vida diária dos 11 milhões de cubanos da ilha com graves dificuldades. Isso inclui filas de comida e combustível, apagões de eletricidade, queda na receita e dificuldades econômicas em geral.
Os cubanos têm preocupações genuínas com a deterioração da realidade socioeconômica em seu país, causada principalmente pela intensificação drástica do bloqueio dos EUA sob o governo do ex-presidente Donald Trump. Joe Biden, apesar das promessas eleitorais de restaurar as boas relações como fez Obama, não agiu para aliviar essa situação – e seus impactos aumentaram dramaticamente com a eclosão da pandemia Covid-19.
A pandemia dizimou o turismo em Cuba, a principal fonte de receita da ilha. Também interferiu no comércio e desacelerou a economia. Mas, além desses impactos na renda e nos alimentos, os cubanos também tiveram que enfrentar a escassez de medicamentos – gravemente afetada pelos efeitos do embargo – o que contribuiu para uma crise de saúde, notadamente em Matanzas.
A eleição de Donald Trump levou os EUA a reverter totalmente as decisões tímidas, mas positivas, de aliviar aspectos do bloqueio a Cuba sob o governo Obama. Sob Trump, os EUA impuseram 243 medidas coercitivas unilaterais adicionais (também conhecidas como sanções), incluindo o acréscimo de Cuba à lista dos Estados que patrocinam o terrorismo, o que representou uma intensificação brutal e totalmente injustificada da agressão dos EUA contra o povo cubano.
As sanções visam todos os aspectos da economia cubana. Elas proíbem o comércio com empresas controladas ou operadas por e ou em nome dos militares; proíbe os cidadãos dos EUA de viajarem a Cuba individualmente e em grupos para intercâmbios educacionais e culturais; retira a maior parte de seu pessoal da embaixada dos EUA em Havana, levando, entre outras coisas, a suspensão do processamento do visto; permite que cidadãos norte-americanos entrem com litígios contra entidades cubanas que “trafegam” ou se beneficiam de propriedades confiscadas pela revolução cubana desde 1959; proíbe navios de cruzeiro e outras embarcações de navegar entre os EUA e a ilha; proíbe voos dos EUA para cidades cubanas que não sejam Havana; suspende voos fretados privados para Havana e impede que cidadãos norte-americanos permaneçam em estabelecimentos ligados ao governo cubano ou ao Partido Comunista; coíbe o envio de remessas dos EUA para Cuba (a Western Union teve que encerrar suas operações na ilha); procura bloquear o fluxo de petróleo venezuelano para Cuba aplicando sanções a companhias de navegação e companhias petrolíferas estatais de Cuba e Venezuela; proíbe as autoridades cubanas de entrar nos EUA por suposta cumplicidade em abusos dos direitos humanos na Venezuela e muito mais.
Tudo isso se soma às condições existentes que tornam muito difícil para as empresas internacionais que operam nos EUA de fazer negócios também com Cuba, o que significa que o bloqueio na realidade não é apenas uma questão de mão dupla. As sanções visam causar o máximo de sofrimento, exatamente como o bloqueio foi projetado para fazer no infame Memorando Estadual 499 dos EUA de 1960:
O único meio previsível de alienar o apoio interno é o desencanto e o descontentamento com base na insatisfação econômica e nas adversidades […] todos os meios possíveis devem ser empreendidos prontamente para enfraquecer a vida econômica de Cuba […] uma linha de ação que, embora tão ágil e discreta quanto possível, faz as maiores incursões na negação de dinheiro e suprimentos a Cuba, para diminuir os salários monetários e reais, para provocar a fome, o desespero e a derrubada do governo.
Em 2018, a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (CEPAL) informou que o embargo financeiro e comercial dos EUA a Cuba custou à economia do país US$ 130 bilhões.
Saiba mais em: https://jacobin.com.br/2021/07/como-os-eua-tentam-sufocar-cuba-ao-inves-de-ajudar/
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