Clipping

Erich Fromm e a psicologia de massas do fascismo

O filósofo socialista alemão Erich Fromm procurou explicar a psicologia social do autoritarismo da direita depois que os nazistas o forçaram a se exilar. Sua obra está repleta de valiosas percepções que podem contribuir com as lutas atuais por liberdade política e econômica.

Uma entrevista com Kieran Durkin / Tradução Everton Lourenço

O autor alemão Erich Fromm foi um dos filósofos sociais mais influentes do século XX. Em obras como O Medo à Liberdade (“Escape From Freedom”) e Psicanálise da Sociedade Contemporânea (“The Sane Society”), Fromm se baseou no trabalho de Karl Marx e Sigmund Freud para desenvolver uma forma inovadora de teoria radical. O trabalho de Fromm oferece sacadas poderosas sobre a natureza do nacionalismo autoritário e os desafios subjetivos na construção de uma alternativa ao capitalismo.

Kieran Durkin é o autor de The Radical Humanism of Erich Fromm (“O Humanismo Radical de Erich Fromm”). Ele conversou com Jacobin sobre a vida e a obra de Fromm e sobre seu relacionamento com outros membros importantes da Escola de Frankfurt, como Max Horkheimer e Herbert Marcuse.

Esta é a transcrição de um episódio do podcast Jacobin’s Long Reads. É possível ouvir o episódio aqui.


DF

Erich Fromm era adolescente durante alguns dos anos mais tumultuados da história alemã moderna: a Primeira Guerra Mundial, a queda da monarquia, a revolta espartaquista, a tentativa de golpe contra a República de Weimar no Putsch de Kapp. Que impacto esses anos tiveram em seu desenvolvimento político e intelectual?

KD

Ter vivido esses eventos que transformaram completamente a Alemanha no início dos anos 1900 teve um efeito profundo em Fromm. Anos depois, quando ele estava lá pelos seus sessenta anos, ele falou da Grande Guerra como tendo sido o evento que determinou seu desenvolvimento intelectual mais do que qualquer outra coisa, e de como ele ficou chocado com a nudez do ódio e da irracionalidade, como manifestados no sentimento nacionalista alemão em relação aos Britânicos na época – como os britânicos de repente haviam se tornado maus e inescrupulosos, com a intenção de destruir os heróis alemães, tão inocentes e tão confiantes, como ele colocou.

Toda a experiência da guerra, com sua irracionalidade em massa e seu nível de destrutividade sem precedentes, representou uma influência absolutamente central sobre Fromm e, em última análise, o empurrou na direção do estudo da psicologia, de Freud e da psicanálise. Sobre a questão da sua visão política mais especificamente, Fromm relatou ter sido influenciado a enxergar para além da irracionalidade em massa do nacionalismo alemão ao ler os argumentos dos deputados socialistas no Reichstag que votaram contra o orçamento de guerra, que eram visíveis na época em seu ataques à posição do governo alemão.

Toda a experiência da Primeira Guerra Mundial, com sua irracionalidade em massa e seu nível de destrutividade sem precedentes, representou uma influência absolutamente central sobre Fromm.

Apesar disso, também é verdade que Fromm estava um tanto afastado da política organizada durante este período. Ele não esteve envolvido em qualquer partido radical, ou em um partido de qualquer tipo, durante sua vida na Alemanha como um todo, na verdade. Mais tarde, nos EUA, quando ele se tornou muito mais diretamente envolvido – um pouco mais tarde em seu tempo nos Estados Unidos – ele afirmou, no entanto, que sua personalidade não era muito adequada para a política e que ele não tinha temperamento para isso, o que pode ter sido um fator nessa distância anterior com relação à política.

Mas seja qual for o motivo, é nítido que ele foi influenciado por ideias socialistas durante e após a guerra. Muitas décadas depois, na década de 1950, ele elogiou fortemente Rosa Luxemburgo, que foi brutalmente assassinada durante a repressão reacionária nas mãos dos Freikorps, apoiados por elementos de direita no Partido Social-Democrata. E o fato é que ele passou a estudar Marx na universidade e ingressou no movimento marxista, embora mantendo alguma distância após se formar.

Finalmente, acho que é importante nessa conexão reconhecer que Fromm foi criado em um lar judeu ortodoxo. Ele era muito devoto à religião quando criança e jovem adulto. Em seus primeiros anos, até meados da década de 1920, ele foi mais influenciado pelo socialismo romântico de seu professor do Talmude, um homem chamado Salman Rabinkov, e do rabino de Frankfurt, Hermann Cohen.

Ele herdou essa visão do socialismo que brotava de uma preocupação com a época messiânica da qual falavam os profetas bíblicos, a época de paz e harmonia universal, onde os leões se deitam com os cordeiros. Sua afinidade com essa noção de socialismo, que para Fromm nesse estágio inicial tendia a enfocar um contraste com a cultura medieval, permanece importante para ele ao longo de toda a sua vida, mesmo que ela tenha dado lugar a elementos marxistas mais ortodoxos e críticos à medida que ele amadureceu.

Saiba mais em: https://jacobin.com.br/2021/05/erich-fromm-e-a-psicologia-de-massas-do-fascismo/

Comente aqui