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Para especialistas, nova variante é desastre anunciado

Cientistas e ativistas que defendem distribuição mais igualitária de vacinas contra covid-19 dizem que, com parte da população global desprotegida, era inevitável o surgimento de cepa mais perigosa como a ômicron.

Para os ativistas e cientistas que passaram o último ano defendendo uma distribuição mais justa das vacinas contra a covid-19, a notícia de uma nova variante do coronavírus, potencialmente mais perigosa, era um desastre à espera de acontecer.

A variante se chama ômicron e foi detectada inicialmente na África do Sul, onde menos de 25% da população está totalmente vacinada. A variante é a primeira desde a detecção da delta, há cerca de um ano, a ganhar da Organização Mundial da Saúde (OMS) o rótulo de “variante de preocupação”, sua categoria mais elevada.

A designação significa que a variante tem mutações que podem torná-la mais contagiosa ou mais virulenta, ou tornar as vacinas e outras medidas preventivas menos eficazes – embora nenhum desses efeitos ainda tenha sido oficialmente confirmado. Vários países da Europa já detectaram casos.

“O que a ciência nos diz desde o início é que, se você tem grandes populações desprotegidas contra este vírus, ele vai sofrer uma mutação”, diz David McNair, diretor executivo de política global da ONG ONE, que combate a miséria na África. “É uma tragédia que hoje estejamos vendo isso acontecer.”

“Armazenar vacinas, não financiar uma resposta conjunta global – tudo isso levou a esta situação. E o triste é que os países da UE, América do Norte, Canadá e outros tinham o poder de mudar isso há um ano e escolheram não fazê-lo”, complementa.

UE reivindica liderança global

Enquanto quase 70% dos adultos na União Europeia estão totalmente vacinados contra a covid-19, a maioria dos trabalhadores de saúde nos países africanos não está.

Apesar desta discrepância, o porta-voz da Comissão Europeia, Stefan De Keersmaeker, insiste que a UE está “na vanguarda para assegurar a solidariedade global com o resto do mundo”.

Ele destaca a promessa conjunta da UE com os EUA de vacinar 70% do mundo até setembro de 2022, com o bloco como um dos principais contribuintes para a Covax, a iniciativa global destinada a impulsionar a produção e fornecimento de vacinas para as nações mais pobres.

“E, naturalmente, há também o fato de que somos os principais exportadores de vacinas para o resto do mundo”, diz. “Nós somos, por assim dizer, a farmácia do mundo nessa conta”.

Só um terço das doses entregue

Mas quando se trata de cumprir compromissos de curto prazo, as promessas da UE parecem estar aquém das expectativas.

O bloco e seus membros se comprometeram a doar 300 milhões de doses de vacinas a países de baixa e média renda até o final de 2021 – através da Covax e de doações bilaterais. Mas até agora, menos de um terço foi entregue.

Os números obtidos pela DW mostram que, até 26 de novembro, cerca de 95 milhões de doses doadas haviam chegado aos países beneficiários.

Disputas com empresas farmacêuticas

Fontes diplomáticas disseram à DW que os Estados-membros do bloco estão jogando para as farmacêuticas parte da culpa pela lentidão nas entregas.

“A maioria das empresas farmacêuticas não quer cuidar da logística por conta própria”, diz um diplomata da UE em condição de anonimato. “Eles pensam que cabe ao Estado-membro que comprou as doses enviá-las ao país para o qual querem doá-las. O problema é que estas são vacinas complicadas, com condições complicadas de entrega e armazenamento”.

Em carta à Comissão Europeia obtida pela agência de notícias Reuters, o secretário de Estado da Saúde alemão, Thomas Steffen, também culpa os fabricantes de vacinas.

“Estamos diante de contínuos problemas burocráticos, logísticos e legais”, diz a carta, datada de 18 de outubro. “As fabricantes parecem tirar proveito da obrigação contratual dos Estados-Membros de obter seu consentimento prévio por escrito para impedir as transferências de vacinas que consideram potencialmente prejudiciais a seus interesses comerciais”.

De Keersmaecker, porta-voz da Comissão Europeia, não confirmou o recebimento da carta, mas disse à DW que discussões com empresas farmacêuticas estão em andamento. “Continuamos a acompanhar a situação das entregas sob nossos contratos”, afirmou.

Infografik Impfung Afrika PT

Saiba mais em: https://www.dw.com/pt-br/para-especialistas-nova-variante-%C3%A9-desastre-anunciado/a-59960471

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