Passagem de veículos militares ocorre no mesmo dia em que a Câmara analisa a PEC do voto impresso. Ato com presença de ministros foi alvo de críticas de parlamentares, que veem tentativa de intimidação do presidente.
O presidente Jair Bolsonaro participou nesta terça-feira (10/08) de um desfile que reuniu dezenas de blindados e outros veículos militares em frente ao Palácio do Planalto.
Bolsonaro assistiu ao comboio do alto da rampa do Planalto, ao lado dos três comandantes das Forças Armadas e de diversos ministros, incluindo Walter Braga Netto (Defesa), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Ciro Nogueira (Casa Civil) e Anderson Torres (Justiça). Nenhum deles usava máscara facial contra o coronavírus.
A parada militar começou por volta de 8h30 (horário de Brasília) e durou cerca de dez minutos, reunindo, além de blindados, jipes, tanques e caminhões militares. Durante o desfile, um militar vestido com traje de combate desceu de um dos veículos e entregou ao presidente um convite para um treinamento de militares da Marinha programado para este mês em Formosa, Goiás.
Em mensagem nas redes sociais na segunda-feira, Bolsonaro explicou que a tropa viria do Rio de Janeiro para o exercício militar em Formosa, e portanto passaria por Brasília. Na postagem, em meio à polêmica causada pelo desfile militar, o presidente convidou os presidentes do Legislativo e do Judiciário, entre outras autoridades do país, para assistir ao comboio.
A parada militar foi alvo de críticas de parlamentares por ocorrer no mesmo dia em que a Câmara deve votar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso, amplamente defendida por Bolsonaro. Alguns deputados e senadores viram o desfile de blindados como uma tentativa de intimidação, ainda mais por ocorrer num momento de tensão entre os três Poderes.
A PEC foi rejeitada por uma comissão especial da Câmara na semana passada, mas o presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), decidiu mesmo assim levar a proposta ao plenário. A maioria dos partidos já apontou que vai votar contra o texto, e o próprio presidente reconheceu uma possível derrota na segunda-feira.
Para Lira, o fato de o desfile ocorrer no mesmo dia da votação na Câmara foi uma “trágica coincidência”.
Comboio com dezenas de veículos militares passou em frente à Esplanada dos Ministérios
Reação de parlamentares
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e a deputada Tabata Amaral (sem partido-SP) tentaram impedir a passagem do comboio militar junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas a ação acabou sendo rejeitada.
“É um absurdo gastar recursos públicos em uma exibição vazia de poderio militar. As Forças Armadas, instituições de Estado, não precisam disso. Os brasileiros, sofrendo com as consequências da pandemia, também não precisam. O Brasil não é um brinquedo à disposição de lunáticos”, afirmou Vieira.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, Humberto Costa (PT-PE), também repudiou o ato, que chamou de uma demonstração de força de Bolsonaro para tentar pressionar e intimidar os deputados que votarão a PEC do voto impresso nesta terça-feira.
“Queria manifestar o meu repúdio ao presidente da República, que em vez de estar preocupado em cuidar do país, está preocupado em cercar o Congresso Nacional e, com isso, tentar intimidar os parlamentares na votação de um tema que é simples, é parlamentar, é da legislação, e está sendo transformado numa espécie de pretexto para demonstrações desse tipo, e quiçá até tentativas de golpe no nosso país”, disse Costa na segunda-feira, em reunião da comissão.
A líder da bancada feminina no Senado, Simone Tebet (MDB-MS), afirmou que a parada militar é um exemplo de “intimidação real, clara, indevida e inconstitucional”. “Se [o desfile] acontecer, só cabe à Câmara dos Deputados rejeitar a PEC, em resposta clara e objetiva de que vivemos numa democracia e que assim permaneceremos.”
O treinamento militar da Marinha ao qual Bolsonaro foi convidado durante o desfile, conhecido como Operação Formosa, acontece todos os anos na cidade goiana próxima a Brasília, desde 1988. É de praxe o presidente da República ser convidado, mas não é comum que ocorra uma parada militar para o convite.
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