A guerra na Ucrânia está exacerbando a fome no mundo. Ocidente e Rússia trocam acusações em meio à alta do preço dos alimentos desde o início do conflito. Confira alguns mitos e verdades sobre a crise.
Por: Wulf Wilde | Crédito Foto: Efrem Lukatsky/AP/picture alliance. A Ucrânia está entre os principais exportadores de cereais do mundo, mas exportações foram afetadas pela guerra
De acordo com o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PMA), 345 milhões no mundo enfretam risco de desnutrição aguda – e a escalada dos preços dos cereais iniciada em fevereiro deve provavelmente elevar ainda mais o número nos próximos meses. Segundo os países ocidentais, a estratégia de guerra da Rússia é a principal culpada pela crise da exportação de cereais. O Kremlin, por sua vez, culpa as sanções ocidentais pelo quadro. Além disso, há quem opine que a ausência da participação da Ucrânia no mercado mundial de alimentos poderia ser facilmente compensada. A DW checou esses argumentos.
Alegação: “A Rússia é responsável pela crise global da fome”
“O perigo de uma crise mundial de alimentos é responsabilidade da Rússia e foi causada pela guerra de Putin”, disse o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, no início de junho. Outros políticos ocidentais expressaram opiniões semelhantes.
Não há outra razão para o aumento dos preços dos alimentos em todo o mundo a não ser o bloqueio da Rússia aos portos da Ucrânia no Mar Negro e as restrições de Moscou às suas próprias exportações de trigo, disse o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
A Ucrânia é o terceiro maior exportador mundial de milho e o sétimo maior de trigo. Dessa forma, o preço do milho subiu quase 20% de meados de fevereiro até o início de março. Desde então, o preço do milho caiu, mas o do trigo ainda continua quase 60% acima do nível do ano anterior.
O agravamento da crise da fome, contudo, não foi causado apenas pela explosão isolada dos preços, apontou Martin Frick, diretor do PMA para Alemanha, Áustria e Liechtenstein, em entrevista à DW.
O número de ameaçados pela fome aguda já havia aumentado drasticamente nos últimos anos – de 150 milhões em 2019 para 279 milhões no final de dezembro de 2021. Agora são 345 milhões. “Isso é consequência de três ‘Cs’: conflito, clima, coronavírus. Um quarto C foi acrescentado a isso: custos”, diz Frick. “A guerra na Ucrânia aumentou ainda mais o custo dos cereais, mas eles já eram altos antes da invasão de 24 de fevereiro.”
A crise da fome, afirma ele, é principalmente uma crise de distribuição e de preços. A avaliação é compartilhada pelo presidente da Assembleia Geral da ONU, Abdulla Shahid. “Não nos falta comida; na verdade, temos o suficiente para alimentar o planeta. Mas temos déficits na distribuição, disponibilidade e poder de compra”, disse Shahid durante um discurso em 26 de maio.
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