Há eventos que devem ser estampados na memória nacional – e o crime da Vale privatizada, que há cinco anos matou 240 e destruiu o Rio Doce, é um. A cautela precisa ser perene – para a mineração-rentismo, os garimpos, o agronegócio movido a venenos…
Por: Roberto E. Zwetsch | Créditos da foto: Alex de Jesus/O Tempo
O dia 25 de janeiro é para jamais nos esquecermos na memória nacional. Na memória de nossa gente pobre, de trabalhadoras e trabalhadores de uma grande empresa multinacional de mineração que se tornou criminosa e – até o momento – não assumiu plenamente suas responsabilidades pelo crime cometido: contra as pessoas, contra a economia nacional e local e, principalmente, contra o meio ambiente.
Num ato público que procura reverter em parte os danos e a omissão do governo federal no caso, o presidente Lula disse o seguinte:
“Hoje faz 5 anos do crime que deixou Brumadinho debaixo de lama, tirando vidas e destruindo o meio ambiente. 5 anos e a Vale nada fez para reparar a destruição causada. É necessário o amparo às famílias das vítimas, recuperação ambiental e, principalmente, fiscalização e prevenção em projetos de mineração, para não termos novas tragédias como Brumadinho e Mariana”.
Triste é saber que no governo do PT de então se fez uma tentativa de acordo para que a empresa fizesse a reparação. Mas foi uma medida fraca, inócua, sem resultados concretos, e que só adiou sine die o que de fato precisava ser feito, especialmente em relação às família e ao meio ambiente. A explosão daquela mina matou pelo menos 270 pessoas, poluiu irremediavelmente o Rio Doce, que passou a ser Rio Morto, e atingiu a vida de milhares de famílias ribeirinhas que dele dependiam para viver, trabalhar e até se banhar. A poluição atingiu mais de 30 municípios e chegou até o mar no litoral do ES. Uma aldeia do povo Krenak até hoje não tem como acessar as águas do rio. Ele está totalmente impróprio para a pesca, a navegação das canoas, e tudo o que por séculos os povos nativos nele realizavam.
O crime de Brumadinho precisa ser estampado na memória nacional de uma maneira ainda mais forte do que ocorreu 35 anos atrás com o crime do Césio 137 em Goiânia (1987), que comprometeu a vida de muita gente devido à irradiação do mineral radioativo. Depois do evento trágico, foi realizado um intenso e dramático trabalho de descontaminação da região. A descontaminação produziu 13.500 toneladas de lixo atômico, cujo perigo para o meio ambiente é de 180 anos.
Brumadinho representa um alerta do que pode acontecer outras vezes em Minas Gerais, um estado descrito como um verdadeiro queijo suíço devido aos inúmeros buracos causados pela mineração desbragada que existe no estado há centenas de anos. Mas também é um recado para a Amazônia dos garimpos, ao RS com os projetos de mineração da região sul e mesmo à irresponsável contaminação das imensas lavouras de monocultura do agronegócio movidas a venenos e outros males. A cidadania brasileira, a defesa da vida e do meio ambiente são alicerces para uma democracia verdadeira, qualificada e que garanta o futuro das crianças e jovens brasileiros, e de todo o ecossistema que recebemos como dádiva do Criador.
Veja em: https://outraspalavras.net/historia-e-memoria/brumadinho-o-alerta-que-vem-da-lama/
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