Além do avanço da doença provocada pelo novo coronavírus, população indígena tenta barrar invasões de garimpeiros e madeireiros em territórios. Problemas socioambientais podem agravar efeitos da pandemia na região.
Na aldeia São José, no Alto Solimões, Amazonas, indígenas estão assustados com o poder de contágio da covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus. Com 484 famílias, a maioria da etnia kokama, a comunidade tem diversos casos confirmados.
Alguns fazem parte da família de Edinho Kokama, liderança local. “Está muito difícil”, diz à DW Brasil por telefone. “Com a ajuda dos enfermeiros, tentamos isolar as entradas da aldeia para que ninguém de fora entre”, fala sobre medidas de prevenção.
Os doentes da região do Alto Solimões são a maioria da lista de 31 casos registrados entre indígenas até esta terça-feira (21/04). A pandemia provocou, até então, sete mortes, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Um outro óbito suspeito aguarda a confirmação. A vítima era um enfermeiro da etnia baniwa e havia denunciado, pelas redes sociais, a falta de testes para covid-19 e o colapso dos hospitais.
Para o Ministério da Saúde, no entanto, são três mortes confirmadas entre indígenas. A metodologia de contagem é motivo de controvérsia: o órgão considera como pacientes indígenas de covid-19 apenas aqueles que residem nos territórios. Os que moram em áreas urbanas ficam de fora dessa lista.
“Isso é racismo. Não deixamos de ser indígenas porque moramos na cidade”, critica Nara Baré, à frente da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
Nos territórios, devido à falta de estrutura para atendimento dos serviços de saúde e de materiais básicos, como sabão e máscaras, o esforço se concentra no isolamento social. A estratégia, no entanto, é como uma agressão ao modo tradicional de viver nessas comunidades. Na cultura indígena, membros de famílias numerosas costumam dividir a mesma habitação, as refeições são compartilhadas, e todos trabalham juntos nos roçados e na confecção de artesanatos.
“Por causa do isolamento, não saímos mais para a roça”, explica Edinho. “A gente precisa de apoio.”
Na aldeia vizinha, a Betânia, do povo tikuna, mais de 3 mil indígenas se protegem como podem. Caso o vírus passe a circular nos territórios, o resultado seria trágico. “Se a pandemia se alastra, será um massacre total”, afirma Baré.
A comunicação com as lideranças espalhadas pela Amazônia, feita via rádio na maioria das vezes, tem sido complexa nestes dias de pandemia. A preocupação extrema com o cenário tem custado noites de sono, conta Baré.
“Não somos coitadinhos, mas estamos em situação de vulnerabilidade por causa do nosso histórico”, pontua. Desde a chegada dos europeus no país, as doenças trazidas por não indígenas resultaram em mortes. A falta de imunidade natural a vírus e bactérias que provocam gripe, sarampo, coqueluche, tuberculose, varíola e sífilis provocou o desaparecimento de sociedades inteiras.
Saiba mais em: https://www.dw.com/pt-br/na-amaz%C3%B4nia-avan%C3%A7o-da-covid-19-e-invas%C3%B5es-amea%C3%A7am-ind%C3%ADgenas/a-53200210
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